Na segunda-feira, 19 de agosto, os paulistanos foram surpreendidos com um cenário que parece ter saído diretamente de uma ficção apocalíptica. Depois da nebulosidade cobrir o céu, caiu uma chuva de coloração enegrecida. Análises feitas por universidades revelaram que a água continha partículas oriundas das queimadas.
Se o desmatamento e os incêndios da Amazônia se agravarem, o Centro-Oeste será uma das regiões próximas mais diretamente afetadas no regime das chuvas e no clima, alertam os cientistas. Não é apenas o agronegócio que será atingido.
A política ambiental do governo Bolsonaro é indefensável e insustentável. Não se trata de direita ou esquerda, é uma questão de atraso. Recusa os dados científicos, desqualifica as instituições de pesquisa que divulgam informações verídicas, desmonta o aparato da fiscalização e estimula o desmatamento.
A pauta do meio ambiente é tão atrasada quanto a da educação, da flexibilização da fiscalização ambiental, do porte de armas, das leis do trabalho ou das regras do trânsito. Todas resultam em desastres ambientais, humanos ou sociais. Basta ver o que ocorreu em Brumadinho ou Mariana e transpor para outros cenários.
Mas o problema é que o presidente está rodeado de bajuladores, que aplaudem as coisas mais insensatas, tolas ou disparatadas. Eles criam uma bolha de alienação. Só ele sabe o que é melhor para o meio ambiente e para o Brasil. Os cientistas, os pesquisadores, os ambientalistas, o Inpe e a Nasa são todos desqualificados.
O governo age como aquele personagem da peça O homem que enganou o diabo e ainda pediu troco. Mas não é possível ludibriar todos. Mesmo com as redes sociais, só se engana quem quer se deixar enganar. De fato, a explosão de incêndios florestais na Amazônia, que, em seis meses, cresceu mais de 80%, é consequência direta do estímulo do governo à devastação, principalmente por meio do ministro do meio ambiente Ricardo Salles.
Estava conversando com uma amiga sobre a crise da Amazônia e ela comentou: ;Até os meus netinhos entendem a importância de preservar a Amazônia para o Brasil e para o mundo. Não dá para saber por que o governo não compreenda;.
Manifestações explodiram no Brasil e em vários países. O que está em jogo é o nosso futuro, o futuro de nossos filhos e de nossos netos. Ninguém pode mais ficar em cima do muro. Parece que o grito profético do personagem de A Idade da Terra, de Glauber Rocha, para ninguém, no meio do cerrado, finalmente, ecoou no planeta: ;Acorda, humanidade! Acorda, humanidade!”.