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Apesar de negar, Marinésio segue como suspeito de desaparecimento

Cozinheiro acusado de matar duas mulheres nega envolvimento em sumiço de Gisvania dos Santos, em 2018, mas Divisão de Repressão a Sequestro o mantém na linha de investigação. Na próxima semana, duas possíveis vítimas farão reconhecimento

Assassino confesso de duas mulheres, Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, negou à Divisão de Repressão a Sequestro (DRS) da Polícia Civil envolvimento no desaparecimento da empregada doméstica Gisvania Pereira dos Santos, 33 ; ele prestou depoimento nesta quinta-feira (29/8) por quase nove horas. A moradora do condomínio Nova Colina, em Sobradinho, saiu para uma festa em 6 de outubro do ano passado e não deu mais notícias. Ela foi vista pela última vez em um posto de gasolina da BR-020, em um Gol branco, conforme os investigadores.

Segundo o delegado Leandro Ritt, chefe da DRS, a tarefa da unidade especializada será investigar se há brechas no depoimento de Marinésio. ;Como ele negou qualquer envolvimento e afirmou que nem sequer conhecia a vítima, nosso objetivo é confirmar as informações. Será um trabalho mais técnico. Nosso propósito é encontrar indícios de que ele estava no local do crime. Marinésio é uma das linhas de investigação desse caso;, destacou.

O chefe da divisão adiantou, porém, que o sumiço de Gisvania não segue o padrão de abordagem do cozinheiro. ;Nesse caso, ela foi pega em um posto de gasolina e, não em uma parada de ônibus, como as demais. Mesmo assim, há sinais que levam até Marinésio. Por isso, a investigação quanto ao envolvimento dele continua;, reforçou Leandro Ritt.

O delegado sustentou, ainda, que o cozinheiro tem perfil de psicopata; por isso, pode ter participação em outros crimes. ;Muitos casos que estão chegando às demais delegacias mostram um modus operandi característico de Marinésio. Claro que não está em minha competência confirmar se é ou não. Mas, enquanto conversávamos com ele, era nítido que não tinha qualquer emoção naquele corpo. Ele é um psicopata. Os sentimentos de compaixão e amor não o movem. Ele só faz algo se vislumbrar alguma vantagem pessoal;, analisou.

Ao Correio, uma fonte contou que Marinésio alegou estar trabalhando em um ;bico; na noite em que Gisvania sumiu. De acordo com informações obtidas pela Polícia Civil, ele ficou desempregado por 1 ano e 2 meses. Há 40 dias, o cozinheiro iniciou um trabalho probatório em uma rede de supermercados, no Lago Norte.

Além disso, o homem voltou a confirmar que assassinou Letícia e Genir, mas negou participação em qualquer outro crime de estupro ou homicídio. Entretanto, relatou que tinha o costume de oferecer caronas e se passar por motorista de transporte pirata. Nessas ocasiões, tentava ;conquistar; as mulheres. A partir do momento em que elas resistiam às investidas, eram largadas no meio do caminho, segundo contou em depoimento.

Prisão

Marinésio teve a prisão temporária ; com prazo de 30 dias ; decretada no último sábado pela suspeita de envolvimento no desaparecimento de Letícia Curado, 26, advogada e funcionária terceirizada do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Na segunda-feira, ele confessou o crime e declarou ter matado, ainda, Genir Pereira, 47. Depois disso, outras mulheres procuraram a polícia para relatar abusos. Assim, casos não solucionados foram desarquivados. No total, ele tem 11 potenciais vítimas.

Após prestar depoimento na DRS, o cozinheiro foi encaminhado sob escolta da divisão para o Departamento de Controle e Custódia de Presos (DCCP), no Complexo da Polícia Civil. Marinésio deve ficar detido no local até que preste esclarecimentos sobre os demais casos em que é suspeito. Na próxima semana, ele seguirá para a 6; Delegacia de Polícia (Paranoá), onde duas vítimas farão o reconhecimento ; uma adolescente de 17 anos e uma copeira de 43. Ambas teriam sido ameaçadas com uma faca e estupradas pelo acusado.

Escolta

A família do serial killer convive com ameaças e ataques desde que o cozinheiro confessou ter assassinado duas mulheres. A esposa e a filha do criminoso precisaram deixar a casa onde moravam, no Vale do Amanhecer, em Planaltina, sob escolta da Polícia Militar. Elas receberam mensagens de ódio nas redes sociais, e algumas pessoas chegaram a dizer que colocariam fogo no imóvel com as duas dentro da residência.

Na madrugada desta quinta-feira (29/8), bandidos tentaram arrombar o portão do imóvel vazio, mas foram impedidos por vizinhos, segundo o líder comunitário Ronaldo Araújo, 41. ;Eu acionei a polícia para que elas pudessem tirar alguns móveis que ficaram lá e fazer a mudança, porque a família do Marinésio também é vítima, mas acaba sofrendo como se tivesse culpa dos crimes dele;, contou Ronaldo. Enquanto a família colocava os móveis no caminhão, a filha de Marinésio passou mal e precisou da ajuda de amigos. Ela parou de frequentar a escola com medo de represálias e não tem dormido ou se alimentado direito nos últimos dias, de acordo com familiares.