O ataque do dia 11 do qual Marinésio é suspeito foi contra uma jovem de 23 anos, que, como Letícia, mora no Arapoanga, em Planaltina, diz ter entrado na Blazer do acusado às 21h30, na Rodoviária de Planaltina. Ela esperava um ônibus para casa quando encontrou o cozinheiro, próximo a motoristas de transporte irregular. "Ele me viu e perguntou se eu ia para a Estância. Respondi que não, que estava a caminho do Vale do Amanhecer, e ele falou que me deixava lá", contou a mulher.
Ao longo do caminho, o motorista conversou pouco, não ofereceu carona a outros possíveis passageiros e contou histórias conflitantes. "Primeiro, o Marinésio disse que buscaria uma pessoa no hospital de Planaltina. Depois, passou reto e alegou que pegaria um retorno. Quando percebi que o caminho estava estranho, mandei parar, mas ele seguiu em direção ao Morro da Capelinha, mudando de comportamento, colocando a mão na minha perna e dizendo que eu seguiria com ele para lá", narrou.
Nesse momento, os dois discutiram, e ela conseguiu abrir a porta do carro. ;Eu disse que me jogaria, e me ameaçou muito. Gritava. Falava que eu não era louca de fazer aquilo;, disse. A jovem, então, colocou um pé para fora do veículo, e Marinésio desacelerou o veículo. Antes de o carro parar por completo, ela se jogou. ;Saí correndo e gritando por socorro, desesperada.;
Apreensiva e em choque, a mulher só resolveu registrar ocorrência na segunda-feira. O caso é investigado como tentativa de estupro pela 31; Delegacia de Polícia (Planaltina) e pode contribuir para o aumento da pena do acusado. Na unidade, ao menos três inquéritos foram abertos após a repercussão da prisão de Marinésio.
Desespero
Há denúncias de outras mulheres, moradoras do Gama, de Vicente Pires e do Paranoá, entre elas uma adolescente de 17 anos, que relatou um estupro cometido por Marinésio em 1; de abril deste ano. Após o crime, o agressor teria tentado asfixiá-la antes de abandoná-la em uma área erma da cidade. A vítima registrou a ocorrência em julho e compareceu ontem à 6; Delegacia de Polícia (Paranoá) para identificar o acusado. ;Quando ela o viu, começou a tremer, a chorar. Ela tem certeza de que é ele, sem medo de errar;, afirmou a mãe da vítima.
Segundo o depoimento, no dia do crime, a jovem saiu do Paranoá, de ônibus, até a escola, no Itapoã. Ela chegou a passar em casa após a aula e, à tarde, retornou ao centro de ensino, onde trabalha como jovem aprendiz no contraturno. O trajeto, no entanto, foi interrompido. Ao atravessar a rua, a adolescente teria sido abordada por Marinésio em um Prisma vermelho, apesar de os dois assassinatos terem sido cometidos em uma Blazer cinza ; esse último é o único veículo registrado no nome do suspeito. Armado com uma faca, ele obrigou a adolescente a entrar no veículo. ;Ele passou a tarde com ela, a estuprou, e, depois, a abandonou;, contou a mãe, de 47 anos.
A jovem chegou em casa chorando às 16h, mas não contou o que havia ocorrido. ;Após o episódio, a minha filha parou de usar maquiagem, tentou tirar a própria vida e, somente no último mês, ela disse o que aconteceu;, destacou a mãe. A menina passa por tratamento psicológico e toma três remédios controlados, além de ser constantemente acompanhada por uma equipe especializada na escola. ;É um desespero. A minha filha tinha uma vida normal, estudava, trabalhava, se arrumava. Depois disso, ela não quer nem tomar banho. Ficou com trauma. É muito triste;, frisou.
De acordo com a delegada-chefe da 6; DP, Jane Klebia, a jovem reconheceu Marinésio pelos noticiários. ;Ela fará o reconhecimento presencial para ter certeza de que a prática é atribuída a ele. As investigações são criteriosas e ainda em aberto, até porque ainda resta saber, por exemplo, a origem de possíveis outros veículos usados nos crimes;, explicou. ;Nós vamos apurar e buscar elementos que tenham alguma relação com esse autor a fim de confirmar ou descartar vínculos;, ressaltou (leia entrevista com a delegada abaixo).
Outros casos
Os investigadores da 31; DP identificaram outra possível vítima, atacada em outubro do ano passado. Segundo o delegado Fabrício Augusto Borges, chefe da unidade, policiais chegaram até a mulher por meio do modus operandi de Marinésio. ;Ainda não temos detalhes. Tivemos uma conversa breve ao telefone, quando ela relatou que pegou o transporte irregular, possivelmente com o cozinheiro. Ela estava muito nervosa, mas conseguimos convencê-la a vir à delegacia;, revelou. Essa vítima deve prestar depoimento hoje.
Marinésio também é indicado como o possível sequestrador da empregada doméstica Gisvania Pereira dos Santos, 33, desaparecida em 6 de outubro do ano passado, em Sobradinho, onde morava com a família. Gislene Pereira dos Santos, 36, procurou a 31; Delegacia de Polícia (Planaltina) para denunciar o desaparecimento da irmã. ;Quando vi o caso e a maneira como a Letícia e a Genir foram pêgas, percebi que foi do mesmo modo como a minha irmã sumiu. Uma câmera de segurança de um posto de gasolina, na BR-020, flagrou quando ela entrou em um Gol branco;, relatou. Desde então, Gisvania nunca mais foi vista. O caso foi registrado na 13; DP (Sobradinho), mas, como não teve solução, passou a ser investigado pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS).
Além disso, casos a partir de 2010 que se assemelham aos assassinatos de Letícia e Genir serão reabertos. ;Não sabemos ao todo quantas investigações sem conclusão serão abertas de novo. Mas, para isso, será levado em consideração o modo de agir de Marinésio, que é a de se passar por motorista de transporte irregular;, finalizou o delegado Fabrício Augusto.
Quatro perguntas para Jane Klebia, delegada da 6; DP (Paranoá)
O que há de concreto hoje?
Nós temos a Letícia e a Genir, que Marinésio matou no mesmo carro, e temos diversos elementos que comprovam que ele foi o autor, como o fato de que ele mesmo indicou onde estava o corpo da advogada. Na segunda-feira, enquanto fazíamos as oitivas na delegacia, apareceram pelo menos três vítimas. Duas irmãs e uma jovem, de 23 anos. Elas disseram que o Marinésio as abordou, tentou abusar, mas não conseguiu. Eu soube, na terça-feira, que uma quarta vítima apareceu em Planaltina relatando o mesmo caso. E, mais tarde, no Paranoá, uma senhora ligou dizendo que foi vítima dele. Ela chorou muito, mal conseguiu dizer o que aconteceu, e vamos ouvi-la para saber se o crime que ela relata tem a mesma autoria. Por último, duas pessoas ligaram, uma do Gama e outra de Vicente Pires, dizendo que foram vítimas dele, mas ainda não sabemos a descrição e a narrativa dos casos. Todas as vítimas serão ouvidas. Vamos buscar o Marinésio no presídio para fazer o reconhecimento.
Por quais crimes ele pode responder?
No caso das mulheres que relataram as violências, ele responderá por estupro, com pena de 5 a 15 anos. No caso de Genir e Letícia, o crime é o de homicídio qualificado, que tem pena de 12 a 30 anos.
Sobre os casos passados, o que será feito?
Nesse momento, a comoção é geral. As pessoas que tiveram parentes desaparecidos ou mortos querem muito achar um responsável. Mas não podemos atribuir todas as mortes com desaparecimentos a ele. Os inquéritos sob investigação e com características semelhantes serão retomados.
Podemos falar que ele é um serial killer?
Acredito que, para darmos essa definição, seria necessário elencarmos mais mortes cometidas por ele. De concreto, temos que foram dois crimes semelhantes, com características iguais. A definição de maníaco sexual, apesar de ser vulgar, se aproxima mais de Marinésio. Ele sai buscando vítimas aleatórias. Se confirmadas todas as denunciantes, são nove vítimas.