Jornal Correio Braziliense

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Crônica da Cidade

Celebração indigna

Que o leitor me desculpe, a cena já se perdeu na velocidade e na vertigem do tempo fugaz no qual estamos mergulhados. Mas, enquanto o mundo explode, ela ainda está viva em minha cabeça. Evoquemos o fato: na semana passada, um ônibus com 39 passageiros foi sequestrado na passagem da Ponte Rio-Niterói.

A situação era tensa: o sequestrador estava (supostamente) armado com uma pistola, uma faca e havia amarrado garrafas pet com gasolina no alto da cabine do veículo. Embora calmo, segundo o relato dos passageiros, representava uma ameaça iminente. Viveram horas de terror. A certa altura, o sequestrador saiu, abruptamente, do ônibus, e foi abatido por snipers.

De repente, um helicóptero apareceu no ângulo de visão e, de dentro dele, irrompeu um personagem completamente disparatado. Dava pulos e socos no ar como se estivesse no estádio, em um jogo do Flamengo. Reclamei com o meu filho porque ele havia trocado de canal quando eu acompanhava o drama dos reféns no ônibus. Mas ele replicou que não tinha mudado de emissora.

O personagem que celebrava a morte era o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Foi uma das cenas mais patéticas protagonizadas por um político na história brasileira. E é reveladora de falta de compostura, de decoro, de consciência social e de humanidade.

Tudo indica que a polícia seguiu o protocolo internacional e, ao executar o sequestrador, evitou uma tragédia ainda maior. Mas, de qualquer maneira, foi um acontecimento trágico. Não se comemora a morte de ninguém, é algo que nos rebaixa em civilidade, em cidadania e em humanidade. É uma atitude indigna de um governante.

Pobre Rio de Janeiro, pobres estados e pobre Brasil, submetidos a líderes sem grandeza compatível com os cargos que ocupam. Que perspectiva tem um país com mandatários que, em vez de elevar, rebaixam os valores e insuflam o que o Brasil tem de pior, de mais obscurantista e mais atrasado?

Witzel teria motivos para celebrar se os índices de violência tivessem baixado no estado que governa, se o Rio de Janeiro fosse campeão do Índice de Desenvolvimento Humano, do ranking de educação, de qualidade dos serviços públicos de saúde ou de emprego. Nada semelhante ocorreu. Quando isso acontecer, que ele ou qualquer outro governador comemore. Celebrar a morte não vai fazer do Brasil um país melhor.