Jornal Correio Braziliense

Cidades

É um perfil de psicopata

Cozinheiro confessa os assassinatos de uma auxiliar de cozinha e de uma advogada. Oferecendo transporte pirata, ele as abordou em ponto de ônibus, as estrangulou e deixou os corpos em matagal. Mulher o reconheceu como o homem que tentou estuprá-la



A Polícia Civil do Distrito Federal pode ter descoberto um maníaco: um homem que matava mulheres após abordá-las em paradas de ônibus. Ontem, ele confessou a autoria de dois casos. Um, o da advogada Letícia Sousa Curado de Melo, funcionária do Ministério da Educação (MEC), dada como desaparecida desde sexta-feira e encontrada morta ontem, aos 26 anos. O outro, o da auxiliar de cozinha Genir Pereira Sousa, 47 anos, que sumiu em 2 de junho e teve o corpo localizado 10 dias depois.

O cozinheiro desempregado Marinésio dos Santos Olinto, 41, abordou as duas em uma parada de ônibus do Arapoanga, periferia de Planaltina. Ambas entraram na Blazer cinza ano 2000 dele, que oferecia o transporte. Crendo que embarcavam em um veículo de transporte pirata, Letícia e Genir foram assassinadas após reagirem ao assédio sexual dele. Além de matá-las, ele roubou o dinheiro que as vítimas tinham na bolsa. Marinésio jogou os corpos no mesmo lugar, um matagal entre Planaltina e o Paranoá.

Ontem, após a prisão do cozinheiro, uma mulher de 23 anos apareceu na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) e o reconheceu como o homem que a atacou na noite de 11 de agosto. Ela estava na rodoviária de Planaltina e ia para o Vale do Amanhecer, na região administrativa. Marinésio se passou por motorista de transporte pirata. No caminho, ele desviou o trajeto e passou a mão na perna da vítima. Desesperada, a jovem abriu a porta do carro e saltou. Um casal que estava atrás parou o automóvel para ajudá-la. Marinésio fugiu. A mulher não havia procurado a polícia até ontem.
Agentes da 31ªDP e da 6ª DP (Paranoá) tentam identificar outras vítimas do suspeito.




Flagrado por câmeras

A polícia começou a desvendar o caso de Letícia Sousa Curado de Melo na manhã de sábado, após prender Marinésio dos Santos Olinto. A câmera de vigilância de uma loja filmou a advogada entrando na Blazer cinza dele. Agentes encontraram o telefone celular, a pochete e o relógio da funcionária do MEC na picape.

Em um primeiro momento, Marinésio negou envolvimento no crime, sem explicar os itens da vítima em seu veículo. Mas, diante das provas, na manhã de ontem, confessou o crime. Na companhia da advogada, levou os investigadores ao local onde deixou o corpo, uma manilha às margens da DF-250, em um matagal próximo a uma fábrica de sementes.

Em depoimento, Marinésio contou ter abordado Letícia na parada de ônibus, perto da casa dela, no Arapoanga, no início da manhã de sexta-feira. Ela, que havia saído de casa às 7h, pretendia pegar um coletivo para a Rodoviária de Planaltina, onde tomaria outro ônibus até a Rodoviária do Plano Piloto. Seguiria a pé até o prédio do MEC, na Esplanada dos Ministérios. A princípio, o suspeito havia acabado de deixar a filha de 16 anos na escola.

Poucos minutos após Letícia entrar na Blazer, começou o assédio. A advogada gritou. Marinésio dirigiu até uma estrada que dá acesso ao Paranoá e a estrangulou. Depois, seguiu até a DF-250, onde deixou o corpo da jovem. Marinésio confessou o crime na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina).

Com ele, os agentes encontraram R$ 750. Havia uma nota de R$ 5. A polícia suspeita que seja a mesma que Letícia pediu ao marido, antes de sair de casa. Por ter uma deficiência ocular, ela não pagava passagem nos ônibus da frota regular. A família suspeita que a advogada usaria o dinheiro para um transporte pirata.

Marinésio ficará preso preventivamente pelo assassinato da advogada. O corpo dela foi encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML) às 18h de ontem. Não havia previsão de velório e enterro até o fim da noite. “Ele (Marinésio) matou-a quando ela ficou assustada, depois que ele disse que tinha vontade de ter relação sexual com ela. Ele disse que não abusou dela, mas só a perícia poderá comprovar”, afirmou o delegado Fabrício Machado, chefe da 31ªDP.


Corpo em decomposição

Genir Pereira de Sousa foi atacada no início da manhã de 2 de junho. Ela havia saído do trabalho na madrugada do dia 1º com um funcionário da pizzaria, seu namorado. Eles dormiram juntos, em Planaltina. Pela manhã, a auxiliar de cozinha foi para a casa da chefe, no bairro Arapoanga.

As duas eram amigas. Genir foi à casa da chefe para buscar pertences pessoais e R$ 750 que havia recebido por um serviço extra. Dali, seguiu para uma parada de ônibus, por volta das 7h40. Imagens de câmeras de segurança mostraram a vítima indo ao ponto e, depois, um carro passando e, em poucos segundos, retornando.

Como Genir não apareceu para trabalhar na noite de 2 de junho, a patroa registrou uma ocorrência por desaparecimento. Após duas semanas de investigação, agentes da 6ªDP descartaram que o criminoso fosse alguém do convívio dela. Em 12 de junho, o corpo da mulher foi encontrado em um matagal entre Planaltina e o Paranoá, sem nenhum pertence dela.

“Filmagens mostram a Blazer (de Marinésio) passando e, em cinco minutos, retornando. Ele diz que a vítima pediu carona e, durante a viagem, quis manter um relacionamento sexual. O suspeito conta que, depois do ato, decidiu matá-la estrangulada”, comenta a delegada Jane Klebia, chefe da 6ªDP. “Ele mata por nada. É importante submetê-lo a um profissional que faça um perfil psicológico dele. Ele foge ao padrão de qualquer homicida. É um perfil de psicopata. Ele não tem um motivo para matar”, completa.

Pelo estado de decomposição do corpo de Genir, não foi possível confirmar o estupro, apenas a morte por estrangulamento. “Nosso trabalho agora é identificar possíveis vítimas do Marinésio na área do Paranoá e Itapoã, onde é comum as pessoas pegarem transporte pirata. Temos o perfil de um suspeito em potencial que pode estar ligado a outros crimes de sequestro, estupro e estrangulamento de mulheres”, destaca a delegada.