Ângela Maria dos Santos, delegada" />
A chegada da velhice é um processo que não ocorre do dia para a noite. Aos poucos, as pessoas se dão conta dos sinais, das rugas na pele, do aumento no número de fios brancos e da lentidão nos movimentos. Para uma parcela da população, o envelhecimento vem acompanhado de problemas de saúde, como o comprometimento da visão, da audição, além do agravamento ou do surgimento de enfermidades. A imagem de fragilidade dessas pessoas pode transformá-las em alvo de diferentes tipos de violência.
Para atender a esse público no Distrito Federal, criou-se, em janeiro de 2016, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin). Segundo a delegada-chefe da unidade, Ângela Maria dos Santos, a violência contra pessoas acima de 60 anos corresponde a aproximadamente 60% dos inquéritos policiais investigados.
De janeiro a agosto, foram registradas 1.243 ocorrências de violência contra a pessoa idosa no Distrito Federal. No ano passado, a Polícia Civil contabilizou 2.324 casos, sendo 1.617 nos oito primeiros meses do ano ; 30% a mais em relação a 2019. Em 2018, a delegacia especializada atendeu a 99 ocorrências. Desde o início deste ano, houve 48 ; igual número de casos em relação ao mesmo período do ano passado.
Na maioria das vezes, as agressões ocorrem dentro de casa, partindo de filhos ou cuidadores. De acordo com Ângela Maria, há situações em que o idoso sequer se reconhece como vítima. ;Como o agressor costuma ser uma pessoa próxima, há uma relação de codependência. No caso de um filho, ele faz chantagem emocional com o pai, diz que, se não obedecer, irá embora, e, com isso, o idoso aceita, pois é o único jeito de estar com quem ama;, explica a delegada. ;É uma violência muito semelhante à praticada contra mulheres.;
Estelionato
Idosos também são, com frequência, vítimas de estelionatários. ;Esses criminosos procuram essas vítimas porque acham mais fácil. Como a tecnologia foi aumentando, e eles não acompanharam, (os idosos) estão em situação de vulnerabilidade;, explica a delegada-chefe da Decrin. Os casos geralmente ocorrem por telefone ou com pessoas mal-intencionadas, oferecendo ajuda em caixas eletrônicos de bancos. ;A família deve estar sempre próxima, ajudando na hora de fazer um saque ou com qualquer procedimento pela internet;, aconselha Ângela Maria.
Aos 69 anos, Laura (nome fictício) foi vítima desse tipo de crime. No ano passado, ela decidiu assinar um plano de saúde cuja central funciona no Rio de Janeiro. Meses após a contratação, a idosa recebeu uma ligação de uma falsa secretária da empresa informando que o pagamento estava atrasado. ;Ela disse que eu poderia depositar diretamente na conta dela, que não haveria problema algum, e assim eu fiz;, conta Laura. As ligações se repetiram por quatro meses, sendo que, a cada chamada, Laura precisava fazer um depósito de cerca de R$ 800.
Por desconfiar do procedimento, a filha de Laura entrou em contato com a empresa e contou o que estava acontecendo. ;A diretora financeira quase caiu para trás. Quem ligava era uma ex-funcionária que ainda tinha os dados dos clientes e, certamente, estava aplicando o mesmo golpe em outras pessoas;, relembra a vítima. (MM e JE)