A apreensão de ecstasy no Distrito Federal aumentou quase 320% nos seis primeiros meses de 2019 em comparação com o mesmo período do ano passado. Investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) concluíram que, nos últimos cinco anos, variações do narcótico passaram a ser produzidas no Brasil ; antes, a substância psicotrópica era apenas trazida da Europa. Apuração da PCDF mostra que, para evitar o enquadramento por tráfico de drogas, criminosos vêm mudando os princípios ativos dos entorpecentes para substâncias não listadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Por mês, foram apreendidos mais de 600 comprimidos, totalizando quase 4 mil pílulas no primeiro semestre do ano, contra 906 na mesma temporada de 2018. O aumento da produção do narcótico e o trabalho das forças de segurança resultaram no salto das apreensões (leia Balanço). O principal nicho de venda são festas de todos os estilos na capital federal. Conforme avaliação da PCDF, criminosos têm escolhido comercializar a droga pela facilidade do transporte da carga, assim como pela alta rentabilidade financeira.
De acordo com o delegado-chefe da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), Rogério Rezende, a coordenação mantém intenso trabalho de monitoramento do tráfico nas redes sociais, onde há ;comércio indiscriminado; de ecstasy. ;Como nos últimos anos houve crescimento considerável no consumo e no comércio dessas drogas, é natural que voltemos a nossa atenção para a repressão a esse crime. Realizamos monitoramento contínuo e, em certas investigações, também há policiais em eventos;, explica.
Na primeira metade do ano, a Polícia Civil coordenou cerca de 10 operações contra a venda de drogas sintéticas no DF, conforme apurado pelo Correio. Um levantamento mais recente da corporação revela que, de janeiro até 12 de agosto, foram encontrados 453 comprimidos de ecstasy com traficantes. Em investigações deflagradas pela Cord em 2019, foram fechados cinco laboratórios caseiros do sintético: um em Ceilândia; dois no Entorno, em Valparaíso e em Abadiânia; e outros dois em Palhoça e em Joinville, em Santa Catarina.
As descobertas dos laboratórios caseiros pelo país indicam aumento da produção da droga. ;Os criminosos trocam o lugar das produções de sintéticos constantemente, com o objetivo de dificultar o trabalho da Polícia;, diz Rezende. ;Pode-se fazer o narcótico em um quarto simples, não é algo que toma um grande espaço;, expõe. ;O que percebemos com as apreensões nessas pequenas fábricas caseiras são grandes quantidades de insumos. Parte deles não são de psicoativos comuns de acordo com análises periciais;, conta o diretor da Cord.
Risco de overdose
Segundo Andrea Gallassi, professora da Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília (UnB) e Coordenadora geral do Centro de Referência Sobre Drogas e Vulnerabilidade Associadas, o principal público de sintéticas são jovens de alto poder aquisitivo. ;Esses entorpecentes estão presentes em festas, como as de música eletrônica. Os efeitos combinam com esse tipo de ambiente. As pessoas adquirem o comprimido ou selo no local, sem saber o que realmente estão comprando e, assim, expõe-se a um risco;, observa.
;Há quem utilize as anfetaminas com o MDMA, por exemplo. Mas, dependendo da quantidade adicionada, há complicações sérias, até parada cardíaca;, frisa. O delegado Rogério Rezende explica que, segundo depoimento de suspeitos presos e interrogados pela Cord, não é feito qualquer controle da quantidade das drogas colocadas nos comprimidos de ecstasy. ;Não há padronização. Portanto há comprimidos que podem ter uma dose fatal de psicoativos;, destaca.
;Vale salientar as mudanças nos princípios ativos. Há uma investigação em curso na qual o acusado conseguiu sintetizar uma substância utilizada na fabricação de shampoo, que está à venda sem restrições da Anvisa, que foi usada para imitar o efeito do MDMA. Os impactos são imprevisíveis;, observa. Em setembro passado, peritos da Polícia Civil identificaram que a morte da estudante de enfermagem de 19 anos Ana Carolina Lessa ocorreu em decorrência da substância N-Etilpentilona. A jovem tomou a droga durante festa rave no Recanto das Emas. Conforme o Relatório de Atividades da Anvisa, o psicotrópico foi o mais detectado nos entorpecentes encontrados no Brasil em 2017.
Memória
; 1; de março
Ação terminou com a apreensão de mais de 3 mil comprimidos de ecstasy, 70 selos de LSD, além de 6kg de haxixe e 1kg de skunk (variedade de cannabis). Agentes também fecharam duas fábricas de produção de sintéticos nos municípios goianos de Valparaíso e Abadiânia, e uma em Joinville (SC). Cinco traficantes acabaram presos em Santa Catarina. Eles eram responsáveis por repassar os narcóticos para serem comercializados no DF.
; 27 de maio
Investigação de sete meses acabou com um esquema de abastecimento de drogas no DF, realizado por suspeitos de Goiás e de Minas Gerais. O grupo utilizava empresas de fachada para lavar o dinheiro. No fim, houve 17 presos, entre eles, empresários e DJs.
; 22 de julho
Agentes renderam um homem de 29 anos que se inspirava em Pablo Escobar. O acusado foi apontado como integrante de uma quadrilha de Santa Catarina que confeccionava ecstasy e enviava para São Paulo e Bahia. Desses estados, a droga era mandada para o DF. Policiais fecharam uma fábrica em Palhoça (SC). A ação apreendeu 2 mil comprimidos de ecstasy e 5kg de MDMA, e um livro de contabilidade indicando a produção mensal de 200 pílulas de ecstasy.
; 5 de agosto
Quatro pessoas foram presas em flagrante por tráfico interestadual de drogas em um hotel do Plano Piloto, após dois meses de investigação. Policiais apreenderam 886 pílulas de ecstasy, 17 porções de cocaína, anabolizantes e mais de R$ 7 mil.
; 8 de agosto
A Polícia Civil cumpriu 20 mandados de busca e apreensão e oito de prisões temporárias contra um grupo suspeito de traficar entorpecentes sintéticos no DF. Os policiais encontraram substâncias, como LSD, maconha gourmet, ecstasy, cocaína, skunk e anabolizantes; além de mais R$ 100 mil e celulares. Entre os investigados estão servidores públicos, advogados, empresários e nutricionistas.
; 24 de agosto
Um homem saiu de Brasília com 500 comprimidos de ecstasy e foi preso pela Polícia Civil do Ceará ao desembarcar de um ônibus, na rodoviária de Juazeiro do Norte (CE).