Jornal Correio Braziliense

Cidades

Preso por assassinar modelo

Policiais civis de Brasília prenderam, em Belém (PA), o homem condenado por jogar uma funcionária do 14º andar de um hotel, na capital federal, há 14 anos. A Vara de Execuções Penais expediu um mandado contra ele, considerado foragido

Quatorze anos após jogar a modelo Patrícia Melo de Oliveira, 22, do 14; andar de um hotel da área central de Brasília, o assassino foi preso. Foragido desde setembro do ano passado, Carlos Humberto Pereira Montenegro, 59, levava uma vida de alto padrão em Belém (PA). Seguia a rotina de um empresário do ramo de limpeza e segurança. Com dois carros de luxo na garagem, uma Discovery Land Rover e um Hyundai Azera, morava com a mulher e os seis filhos em uma casa ampla em um bairro nobre da capital paraense.

Investigadores da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) localizaram Carlos Humberto em uma das principais vias de Belém, no fim da noite de quinta-feira. Ele estava a bordo da Land Rover, com a mulher. Policiais viajaram até a capital paraense após a Polícia Civil do Amapá conseguir informações do paradeiro do condenado. ;A família da vítima é do Amapá e estava cobrando respostas pelo crime. Os investigadores de lá descobriram que o homem não estava no estado, mas, sim, no Pará. Como o crime foi no DF, eles nos avisaram na quarta-feira e, na quinta, nós o prendemos;, contou o delegado Gerson de Oliveira, chefe da 1;DP.

Ao ser capturado, o empresário alegou inocência, mas a Vara de Execuções Penais (VEP) de Brasília tinha expedido mandado de prisão definitiva contra ele. A sentença que o condenou a 13 anos de prisão foi transitada em julgado em setembro de 2018. ;Era dever dele se apresentar à Justiça, mas isso não aconteceu;, esclareceu o delegado.

Carlos Humberto seguiu para o sistema carcerário do Pará e seria transferido para o Distrito Federal, mas a Justiça acatou o pedido da defesa para ele cumprir pena no estado. Em junho, o juiz da Vara de Execuções Penais de Brasília declinou a competência para a Justiça do Pará. ;Ontem (quinta-feira), quando os agentes pediram o recambiamento do preso a Brasília, o Tribunal de Justiça de lá autorizou que ele cumprisse a pena em Belém;, frisou Gerson.

Para o delegado, o preso tem perfil de uma pessoa perigosa. ;Por um motivo fútil, ele jogou uma jovem de 22 anos pela janela de um hotel. Ele convidou a vítima a vir para Brasília com ele e tentou assediá-la sexualmente. Como ela negou, ele a jogou pela janela;, ressaltou o chefe da 1;DP.

Liberdade

Carlos Humberto respondeu ao processo em liberdade e recorreu diversas vezes contra a decisão da Justiça. Em 2009, ele chegou a ser preso em uma operação da Polícia Federal, por crimes contra a administração pública, praticados no estado do Amapá.

O advogado do empresário, Thiago Machado, assegurou que o cliente sempre negou e continua refutando a autoria do crime. Ele ressaltou que, ao contrário do que a Polícia Civil divulgou, Carlos Humberto não estava foragido. ;Um ano antes de ser determinada a prisão, a Vara de Execuções Penais do DF recebeu informação, inclusive com cópia do comprovante de residência, de que o sentenciado estava em Belém, com a mulher e os seis filhos, onde sempre permaneceu à disposição do Poder Judiciário e podia ser facilmente localizado;, garantiu.

Para o advogado, a Polícia Civil se aproveitou do caso de grande repercussão e, na avaliação dele, nem deveria ter ido até o Pará, pois a ocorrência estava com a Justiça do estado. ;A prisão aconteceu sem prévia comunicação ao poder Judiciário do Pará e gerou desnecessários gastos aos cofres públicos do DF. Uma passagem para o Pará é R$ 2 mil;, disse Thiago Machado.

Entenda o caso

Acusado falou em suicídio

Patrícia Melo foi morta em 7 de janeiro de 2005, após ser jogada pela janela de um quarto do 14; andar do Hotel Gran Bittar, no Setor Hoteleiro Sul. Ela estava hospedada com o empresário Carlos Humberto. À polícia, ele contou que, horas antes da morte da modelo, os dois tinham ido a um bar em um shopping e depois a deixou no hotel. Afirmou que a vítima tinha se suicidado. No entanto, investigações da Polícia Civil confirmaram que se tratava de um assassinato.

Em fevereiro de 2017, o Tribunal de Júri condenou o empresário a nove anos de prisão por homicídio simples, mas o Ministério Público (MPDFT) recorreu sob alegação de que ele dificultou a defesa da vítima, o que seria considerado uma qualificadora para o crime. A Justiça acatou a consideração do MPDFT e Carlos Henrique teve a pena aumentada para 13 anos de prisão. A defesa recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que não deu parecer sobre o caso.