Bruna Lima, Isa Stacciarini
postado em 24/08/2019 07:00
Faltando sete dias para terminar agosto, historicamente o mês mais crítico da seca, a área queimada no Distrito Federal em 2019 é 37,92% maior do que a atingida nos oito primeiros meses inteiros de 2018. Até esta sexta-feira (23/8), o fogo consumiu 5.408 hectares neste ano, o equivalente a mais de 5 mil campos de futebol, enquanto, de janeiro a agosto do ano passado, ele queimou 3.921 hectares.
Os números constam no mais recente balanço do Corpo de Bombeiros, que também registrou 19,47% mais ocorrências de incêndios florestais no DF neste ano, em relação aos oito primeiros meses de 2018. De 1; de janeiro até esta sexta-feira (23/8), a corporação recebeu 5.110 chamados, 833 a mais do que de 1; de janeiro a 31 de agosto de 2018, quando houve 4.277 atuações.
Apenas nesta semana, uma parte do Parque Burle Marx, entre a Asa Norte e o Setor Noroeste, queimou três vezes. Moradora de um dos prédios mais próximo aos focos dos últimos incêndios, a musicista Cláudia Feitoza, 57 anos, sofre com os efeitos da fumaça e da fuligem. ;Minhas vias aéreas estão extremamente atacadas. A fumaça é muito forte e densa, o cheiro impregna na casa, nas roupas, na garganta. Até o gosto fica na boca;, reclamou.
As netas delas, de 1 e 3 anos, que normalmente passam a tarde na casa de Cláudia, são as que mais sofrem com as queimadas no cerrado vizinho. ;Tive de pedir para que elas não passassem essa semana comigo, porque a situação está insalubre;, contou Cláudia. ;É muito triste presenciar nossa natureza em chamas. As árvores estalam quando atingidas pelo fogo. É um barulho que dói na alma;, lamentou.
Prevenção
Além do Parque Burle Marx, as áreas que mais preocupam o Corpo de Bombeiros são a Floresta Nacional de Brasília (Flona), a reserva ecológica do Jardim Botânico, o Parque Nacional de Brasília e a Área Alfa da Marinha, na região da Área de Preservação Ambiental (APA) Gama-Cabeça de Veado. No atual clima, jogar bitucas de cigarro e acender fogueiras em locais inapropriados e queimar lixo pode causar grandes incêndios, de acordo com a corporação. Na área rural, a queimada para replantação também é uma das principais de alastramento das chamas.
Coordenadora do Plano de Prevenção e Combate a Incêndio Florestal da Secretaria de Meio Ambiente, Carolina Schubart demonstra preocupação com a quantidade de hectares queimados nesses primeiros oito meses do ano. ;Em 2018, foi um período atípico, porque choveu bastante e aguardávamos agosto e setembro de 2019 serem os piores meses em relação à queimada, mas não era esperado esse aumento todo. Por essa razão, estamos atuando em ações de prevenção;, destacou.
A Flona recebeu um reservatório de água com capacidade para armazenar 80 mil litros. A caixa d;água vai possibilitar abastecer com mais rapidez os aviões do Corpo de Bombeiros para combate de incêndios florestais. Até o fim do mês, será instalada mais uma, na Área Alfa da Marinha.
Carolina ponderou, no entanto, que as ocorrências não ultrapassaram o quantitativo de 2016 e 2017, considerados piores anos de incêndios florestais no DF. Mas há uma preocupação no combate intensivo ao fogo até o fim da seca. ;Vamos contratar voluntariamente 100 brigadistas florestais no início de setembro. Eles serão distribuídos em unidades de conservação e parques de competência do Ibram para auxiliar no combate direto. Será uma força a mais nesse momento crítico;, afirmou a bióloga.
Aulas suspensas
Um incêndio na mata de uma subestação de tratamento de esgoto da Caesb, em Planaltina, deixou 629 crianças sem aula, segunda e terça-feira. Muitos estudantes da Escola Classe 7 e da Creche Jatobá, vizinhas à subestação, passaram mal com a fumaça e as cinzas.
Para saber mais
Para atender com mais agilidade aos chamados de incêndio florestal, o Corpo de Bombeiros montou uma base de operações avançadas na Flona, mesmo local que recebeu uma caixa d;água com capacidade para 80 mil litros.
O objetivo é prestar apoio às aeronaves que atuam no combate ao fogo em vegetação. A nova estrutura consiste em um aeródromo para reabastecimento de água dos aviões (foto) e abrigo para os militares.
Cada aeronave chega a transportar 3 mil litros de água e faz o lançamento em incêndios em frações ou de uma única vez, de acordo com os critérios técnicos analisados pelo piloto e pela equipe de combate às chamas que estão em solo.
Além do reservatório da Flona, outras duas caixas d;água foram instaladas: uma de 40 mil litros, na APA Gama-Cabeça de Veado, e a outra, com a mesma capacidade, na Estação Ecológica do Jardim Botânico/IBGE
Palavra de especialista
Doutor Sérgio Prado (médico pneumologista)
A fumaça, de maneira geral, principalmente a derivada da queima de madeira e pastos, lança no ambiente substâncias tóxicas que provocam uma irritação das vias aéreas. Como são irritativas, provocam inflamação, tosse, falta de ar, chiado no peito. Esse somatório aumenta o risco de desenvolvimento de doenças respiratórias como sinusite, bronquite, rinite, enfisema pulmonar e até pneumonia.
Para quem já possui enfermidades pregressas como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica, a fumaça é um veneno e chega a provocar 40% de exacerbação, fazendo-se necessário o uso das bombinhas, nebulizações. As idades extremas, ou seja, crianças até 5 anos e idosos acima dos 65, também são mais diretamente afetados, já que possuem imunidade mais baixa e, por isso, são mais suscetíveis a desenvolver doenças ou piorar as mazelas-base.
A dica é se hidratar e se alimentar bem, deixar os ambientes o mais higiênico possível, sem varrer a área, mas passando panos úmidos. É interessante usar umidificadores durante três ou quatro horas ou colocar uma toalha molhada sobre a cabeceira da cama. Além disso, não é recomendável ficar exposto ao ar livre e, principalmente, fazer atividades físicas entre 10h e 17h. Estar com a vacinação em dia também é imprescindível para evitar contrair vírus, mais facilmente proliferados nesta época do ano.