O presidente da Companhia Energética de Brasília (CEB), Edson Garcia, avaliou as finanças da empresa e defendeu a privatização da estatal em entrevista ao CB.Poder ; parceria do Correio com a TV Brasília. Edson afirmou que a iniciativa privada tem capacidade para trazer investimentos em tecnologia que reduzam os custos da companhia, como um sistema em que os funcionários não precisam ir a cada residência para fazer a leitura da luz. O presidente da empresa acrescentou que a CEB se preocupa com a possibilidade de não ter a concessão renovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e que não é mais possível deixar de cobrar de instituições como a Universidade de Brasília (UnB), como ocorreu no passado.
Começando por privatização, há plano da empresa? Como estão as negociações?
A CEB segue um ritmo bastante acelerado no sentido da busca da reestruturação. Quando assumimos, em janeiro, trabalhávamos com as informações recebidas na transição do governo, referentes ao terceiro trimestre de 2018. Elas mudaram bastante quando se fechou o balanço de 2018, com as informações adicionais do quarto trimestre. A principal informação que mudou muito foi o fato de termos tomado conhecimento de que a CEB se endividou elevando o endividamento para mais de R$ 1,1 bilhão. Esse quadro fechou o balanço de 2018. Hoje, o caixa do DF, como vocês conhecem, tem uma previsão de algo como R$ 1,2 bilhão. É o dinheiro que sobra hoje de toda a arrecadação do Distrito Federal para atender à população de mais de 3 milhões de habitantes. A discussão é: eu vou tirar um terço desse valor, deixando de atender à comunidade para aportar na companhia e dar a ela o equilíbrio? A gente precisa pensar em uma companhia no futuro. Que seja eficiente, que consiga prestar um bom serviço à comunidade e dar resultado, não eterno prejuízo que vem dando há 10 anos.
Por que sob a gestão da iniciativa privada a CEB pode ser mais eficiente do que hoje?
A iniciativa privada tem uma série de autonomias para fazer gestão da companhia. O primeiro momento é chamar uma iniciativa privada para aportar investimento na companhia. Ela precisa de investimento de capital. Esse desembolso é para reduzir o endividamento de R$ 1 bilhão para metade ou menos do que isso e fazer novos investimentos para aumentar a qualidade do serviço. A primeira demanda é: onde buscar esse dinheiro? Na mão da iniciativa privada, ela tem capacidade de comprar melhor e trazer mais investimento para tecnologia. Para se ter uma ideia, hoje, contrata-se um funcionário de uma empresa terceirizada, que vai a cada residência ou indústria para fazer a leitura. Depois, quando vamos fazer o corte, falta mão de obra também. Mas, hoje, há sistema de tecnologia, com um novo medidor, em que não é mais necessário ir lá fazer a leitura ou o corte. Tudo isso é conectado à central de operações da companhia. Isso reduz o custo da companhia. Outro ponto é poder contratar melhor.
Para o consumidor, qual é o benefício? Mais eficiência?
Temos de pensar a CEB com nova visão. A gente vê em práticas de gestões históricas da companhia e de próprios governos passados que a CEB era vista como uma empresa que tinha uma função de fazer concessões, renúncias de receitas... Foi ditada, por exemplo, uma lei que dizia que algumas entidades não poderiam pagar luz pelos seus relevantes serviços. É o caso da UnB, que deixou de pagar luz durante seis anos. A lei foi contestada e julgada inconstitucional. Hoje, a CEB briga com a UnB para recuperar algo como R$ 200 milhões, que seria a dívida hoje.
Mas há um programa de parcelamento para sanar essa dívida? Por exemplo, a população comum, quem tem dívida, teme a privatização e teme que a cobrança venha toda de uma vez.
Sim. Estamos mudando conceitos. Tenho dito para a população, conversado com feirantes, por exemplo. O governador pediu para a gente resolver o problema das feiras, para que cada um pague as suas contas como deve ser feito. Estamos criando o Programa Recupera. O conceito é que ele recupera a capacidade do cidadão de voltar a pagar a conta de luz, que, às vezes, acumulou por vários meses, e recupera o caixa da companhia.
Durante muito tempo, em Brasília, era só chover que a luz desaparecia. Isso melhorou um pouco, mas ainda acontece. O que precisa para melhorar?
Isso realmente melhorou muito. A CEB, quando foi fazer a renovação da concessão de 2015, tinha problemas técnicos, problemas nos indicadores que mostram quantas vezes a luz cai e por quanto tempo ela fica apagada. Então, isso era um problema efetivamente que fez com que os indicadores da CEB estivessem muito ruins e que levou a companhia ao risco de não ter a concessão renovada naquele ano. A companhia fez um grande esforço, investiram muito para resolver esse problema técnico que afligia o sistema de Brasília. Foi resultado de um grande investimento. Mas a situação é complexa. Quando se fez esse grande investimento, se fez a custo de dívida. Então, a empresa foi endividada, os funcionários aumentaram as horas extras e fez-se um gasto relevante, mas sem recurso de caixa. Então, foram vendidos patrimônios e buscou-se dinheiro em banco. O que tem hoje? Temos de aliar duas coisas: deixar a companhia saudável, economicamente viável, financeiramente em condições e tecnicamente boa. Então, precisamos de recursos de investidores e acionistas para manter a qualidade.
Existe algum risco, pela situação da empresa, de a concessão não ser renovada pela Aneel?
Risco há. Em 2015, quando foi para renovar a concessão, o Tribunal de Contas disse para não renovar. Mas, aí, o ministro deu um voto divergente dizendo para dar uma oportunidade, desde que a Aneel exija com rigor o cumprimento desses indicadores. Isso foi o objeto do contrato assinado pelo governador em 2015. É fundamental que tenhamos o apoio da sociedade, a compreensão de que fazer investimentos e buscar investidores privados que farão seus aportes financeiros.