Sobre envelhecer
A vida é assim, a gente vai vivendo e, de repente, se dá conta de que a contagem dos anos está imprimindo o tempo corrido na nossa pele e nos nossos cabelos. A primeira vez que percebi o impacto da passagem dos anos no meu corpo foi aos 29, de forma absolutamente despretensiosa. Saindo do banho, de frente para o espelho, penteava os cabelos quando enxerguei rugas nos cantos dos meus olhos. Aproximei-me do reflexo, fiz careta, desfiz, estiquei a pele com as mãos e decidi: preciso começar a usar creminhos próprios para isso. E segui vivendo.
Agora, prestes a completar 44, os cabelos brancos estão se espalhando entre os fios negros. Muito antes da chegada deles, eu cogitava a possibilidade de assumi-los assim que chegassem. Minha inspiração? Uma mulher lindíssima, que, pelo aspecto da pele, ficou com o cabelo branquinho muito nova. O corte chanel e os fios sempre muito alinhados, combinavam perfeitamente com ela. Um espetáculo! Aquilo me inspirou.
Pois bem, agora que os meus brancos estão chegando, confesso que estou em dúvida sobre assumi-los. Vez ou outra, nas nossas conversas silenciosas frente ao espelho, temos lá nossas rusgas. Nunca tive um ataque de fúria a ponto de arrancá-los fio por fio. A chateação passa rápido, fazemos as pazes e seguimos.
Faz uns dois meses, brincava com minha filha quando ela, absolutamente espantada, constatou:
; Mamãe, o seu cabelo está ficando branco!
; Sim, filha, está. A mamãe está envelhecendo, respondi, no que ela emendou com uma expressão dramática:
; Mas eu não quero que você fique velhinha! Respondi a primeira coisa que me veio à cabeça.
; Só não envelhece quem morre cedo, filha. E seguimos conversando sobre nascer, crescer e morrer.
O diálogo sobre o curso natural da vida com minha pequena foi encerrado com a sugestão dela para que eu pintasse os cabelos. E, de lá para cá, ela mencionou o fato algumas vezes. E eu? Bem, sigo com meus branquinhos em números cada vez maiores. Já decidi que, por enquanto, vou cobri-los com outras cores. Quando? Ainda não sei. Morro de preguiça de salão. Diante da falta de gosto por este tipo de procedimento, sigo dando risada, chorando, superando desilusões políticas, tomando banho em rios, sonhando com uma casa na praia, jogando na Mega-Sena, cultivando orquídeas, suculentas e cactus. E elas (as rugas), e eles (os cabelos brancos), seguem comigo no baile da vida.