Os veículos mais visados pelos criminosos são os mais populares e os de maior venda, como Hyundai HB20, Fiat Palio, GM Prisma, GM Ônix e VW Polo. A adulteração envolve clonagem de placa, remarcação do chassi e falsificação de documento. Na maioria dos casos, os bandidos tentam fazer um clone de um carro lícito para despistar a polícia e dificultar qualquer identificação em câmeras e radares instalados em vias públicas ou investigações. No primeiro semestre de 2018, a polícia recebeu 628 queixas desse tipo. Já nos seis primeiros meses deste ano, foram 465, o equivalente a cinco casos a cada dois dias.
No início de julho, a servidora pública aposentada Joanira Elias de Assunção, 64 anos, recebeu uma notificação de multa de São Paulo com a mesma placa do carro dela, um VW Crossfox. Mas a falsa identificação estava em uma VW Kombi. Moradora da Asa Norte, ela procurou a polícia. ;Eu estava como uma dona de uma Kombi,mas nunca fui a São Paulo de carro. Na notificação da multa, a placa era idêntica à minha. Tanto que acharam todos os meus dados, CPF e até o endereço;, contou.
Joanira registrou ocorrência na 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte). Ela também esteve no Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) e recebeu a orientação de enviar fotos do carro, do veículo e da identidade dela para a Prefeitura de São Paulo. ;Acessei o site e fiz a justificativa da multa junto à prefeitura. Tive de provar que não era uma criminosa. Foi um transtorno!”, lamentou. E esse foi o segundo caso do tipo na família. No ano passado, o genro dela teve o carro clonado no Tocantins. A placa estava no mesmo modelo do veículo dele. ;Ele teve de vender o carro;, contou Joanira.
Revenda
Titular da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), o delegado André Leite explica que os criminosos pesquisam sobre os carros e fabricam as placas. ;Quando é um veículo encomendado, eles identificam um idêntico, do mesmo ano, modelo, cor e fazem uma placa igual. Quase sempre o objetivo é a clonagem;, afirma. Segundo o investigador, assim que um carro é roubado ou furtado, horas depois ele recebe uma identificação falsa. ;Tem sido cada vez mais frequente ocorrências desse tipo. Muitos suspeitos confeccionam placas sem qualquer fiscalização, fazendo o que bem entendem;, alerta.
Quando um carro adulterado é revendido, o comprador não tem ciência da fraude. Por isso, André Leite pondera a necessidade de o interessado pesquisar informações a respeito do carro no site do Detran-DF, em uma vistoria prévia e em consulta à Polícia Civil. ;Muita gente só descobre que o carro é adulterado numa vistoria. Como se trata de um bem de consumo durável, as partes devem se cercar de todas as informações e tenham cautela ao adquirir o carro;, frisa o delegado.
Geralmente, quem tem uma placa clonada ou algum sinal identificador do carro copiado só fica sabendo ter sido vítima ao receber uma notificação de infração de trânsito. ;Não há um método preventivo para evitar esse tipo de situação. A vítima acaba tendo uma falta de sorte;, comenta André Leite. Ele diz ainda que a vítima pode ser intimada a ir a uma delegacia sem saber da fraude. ;Até descobrir que se tratava de uma adulteração, a pessoa pode passar por esse constrangimento ou situação desagradável de ser acionada pela polícia. Por isso, é importante sempre procurar os recursos administrativos do Detran ao desconfiar de algo ou recorrer a vias judiciais;, sugere o investigador.
Memória
Operação contra clonagem
Policiais civis desmontaram um esquema de clonagem de veículos e uso de lacres falsos, em Brasília, na última terça-feira. Em uma operação desencadeada pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), investigadores cumpriram 20 mandados de busca e apreensão. Agentes prenderam quatro pessoas em flagrante. Outras 16 assinaram termo circunstanciado e vão responder a processo em liberdade.
Os criminosos copiavam as placas de carros regulares e as substituíam em automóveis roubados. Os envolvidos também agiam em um comércio paralelo vendendo as falsas identificações por encomenda, principalmente em pedidos feitos por aplicativos de mensagem, como WhatsApp. Eles ainda anunciavam o serviço de emplacamento, perto de postos do Detran-DF, como se fossem de empresas credenciadas.