Jornal Correio Braziliense

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Crônica da Cidade

Grande brasileiro

;Morrer se preciso for, matar nunca;. O lema é impressionante porque partiu de um marechal do Exército, Candido Rondon. Em princípio, os marechais são treinados para a guerra. Mas as batalhas do marechal Candido Rondon eram em favor do respeito aos direitos dos índios, da preservação das florestas, do progresso para o interior do país, da civilidade e do humanismo.

No entanto, o lema é ainda mais impactante porque não era apenas uma frase de efeito. Foi testado na realidade. Em uma das incontáveis expedições, Rondon foi atingido por uma flechada dos índios nhambiquara e proibiu a seus soldados que revidassem. Em outra, um soldado morreu. Rondon foi duramente questionado pelos militares, mas não cedeu.

Darcy Ribeiro dizia que ele era o maior de todos os brasileiros. De fato, se destacou em múltiplas frentes: explorador dos trópicos, pacifista, ambientalista, antropólogo e indigenista. Empreendeu expedições que o alçaram à condição de um dos maiores exploradores da história, acima dos célebres Sir Richard Francis Burton, Ernest Shacleton e David Livingstone.

Quando visitou o Brasil, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss seguiu o roteiro das aldeias indígenas mapeadas por Rondon. No campo da política, ele conseguiu convencer Getúlio Vargas para que o Brasil aderisse ao bloco dos Aliados contra o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial.

O marechal criou o Serviço de Proteção ao Índio, que se desdobraria na Funai. Batalhou pela criação de leis que amparassem os índios da violência de fazendeiros, madeireiros e seringueiros. Distinguiu-se, sobretudo, pela atuação de pacifista. Ao ponto de ser indicado três vezes para o Prêmio Nobel da Paz, uma delas por indicação de Albert Einstein.

Einstein ficou impressionado na visita ao Brasil em 1925, quando viu filmes de Rondon em ação com os índios Paresí, Nambikwára e Bororo: ;Grande apresentação cinematográfica da vida dos índios e um desenvolvimento exemplar através do general Rondon, um filantropo e líder de primeira ordem;.

No excelente Rondon, uma biografia (Ed. Objetiva), com instinto de repórter, o jornalista norte-americano Lary Rohter descobriu carta de Einstein trechos em que ele faz a indicação de Rondon ao Prêmio Nobel da Paz. ;Tomo a liberdade de chamar a atenção de vossas senhorias para as atividades do general Rondon do Rio de Janeiro, uma vez que durante minha vista ao Brasil fiquei com a impressão de que esse homem é altamente merecedor de receber o Prêmio Nobel da Paz;.

Rondon não ganhou, faltou lobby, mas a carta de Einstein vale por um Prêmio Nobel. Vale a pena ler a biografia escrita por Larry Rother. Rondon é atualíssimo em tempos de desmatamento desenfreado, ataques covardes aos índios, barbárie, desproteção, sandice e mentira institucionalizada. Estamos expostos a líderes que envergonham o país; precisamos, dramaticamente, de brasileiros que nos engrandeçam, que nos ajudem a dar passos de civilização.