Jornal Correio Braziliense

Cidades

Terminal rodoviário interestadual recebe ação sobre tráfico humano

Parceria entre o projeto Vez e Voz com Consórcio Novo Terminal alertou a população sobre o tráfico de pessoas


Em alusão ao Dia Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, cuja mobilização ocorre, anualmente, em 30 de julho, a Rodoviária Interestadual de Brasília recebeu uma ação para alertar a população sobre o tema. Uma parceria entre o Consórcio Novo Terminal, responsável pela administração do espaço, e o projeto Vez e Voz, ligado ao curso de direito da Universidade de Brasília (UnB), incluiu a distribuição de panfletos e a orientação de pessoas, entre 9h e 12h30 desta terça-feira (30/7).

De acordo com informações do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o Brasil registrou 170 casos de tráfico de pessoas em 2018. Entre as vítimas, 53% eram mulheres; 11%, homens; e 35% não foram identificados. O balanço apontou que a maioria dessas pessoas (19%) tinha idades entre 15 e 17 anos. Em segundo lugar, ficaram as crianças de 0 a 3 anos (6%). As principais finalidades do tráfico foram exploração sexual e trabalhista, adoção ilegal e venda de órgãos.

Coordenadora do projeto Vez e Voz, Rosa Maria, 64 anos, conta que a ação serve para alertar a sociedade. "O aliciador dá tudo o que você quer e depois tira tudo o que você tem. Nosso intuito não é tirar o sonho, mas, mesmo de um estado para o outro, é preciso ter cuidado. O tráfico de humanos não é só internacional, acontece muito aqui também. Estamos tentando abrir os olhos da sociedade, para que preste bastante atenção, pois (o crime) acontece debaixo do nosso nariz", lamenta.

Moradora de Imperatriz (MA), a secretária Cláudia da Silva Ferreira está em Brasília a passeio e aprovou a iniciativa de divulgação. "Não sabia que hoje era um dia tão importante. É legal estarem aqui, pois a gente nunca sabe o que pode estar acontecendo, e as pessoas têm de estar informadas, pois, às vezes, nem sabem a quem recorrer", ressalta.

Prestes a viajar com as filhas, Vânia Cláudia Silva, 30 anos, estava no terminal e também achou o alerta importante. "Esses dias, aconteceu um caso perto de minha casa, com uns homens que passavam e pegavam as crianças na rua. Não sei o que pode ter acontecido. Com esses panfletos, a gente lembra que tem de ficar de olho a todo instante", comenta a moradora de Águas Lindas (GO).

Horas complementares

O projeto Vez e Voz surgiu em 2012 e, hoje, conta com 15 participantes de diversos cursos da UnB, além de integrantes da comunidade. A coordenadora Rosa Maria afirma que o grupo se reúne uma vez por mês no núcleo do câmpus de Ceilândia para programar ações e cursos para novos participantes.

Além do debate sobre o tráfico de humanos, os temas levados são: desigualdade social, racismo, machismo, individualismo, democracia e política, extermínio da juventude, violência contra a mulher e respeito às diferenças. Rosa Maria destaca, ainda, que o projeto não conta com qualquer patrocínio, mas concorre em editais de extensão na UnB. Ainda assim, as atividades não são sempre contempladas.

Os participantes são voluntários e têm direito a horas complementares. São quatro créditos, equivalentes a 60 horas, gerados pelo sistema da UnB. Para agosto, o grupo tem ações programadas dos dias 6 a 9, em escolas públicas a serem confirmadas, por ocasião da Semana de Combate ao Tráfico de Pessoas.

Débora Aleixo, 24 anos, é enfermeira e ainda participa do projeto de extensão. A jovem diz que não pretender deixar a iniciativa mesmo após o fim do curso. "É um assunto que a gente precisa discutir muito. As pessoas não conhecem o tráfico humano e quem está mais vulnerável são as pessoas de baixa renda", considera.

* Estagiária sob a supervisão de Vinicius Nader