Alan Rios
postado em 30/07/2019 06:00
Puxa coberta para cá, puxa coberta para lá. Essa parece a descrição da noite de um brasiliense que tenta escapar do frio neste inverno, mas é a rotina do filhote de tamanduá cuidado no Zoológico de Brasília. Com um mês de vida, ele tem até seu aquecedor para dormir tranquilamente. E não é o único com cuidados especiais. Aves, como corujas e papagaios, ganharam reformas nas gaiolas para que o vento frio não entre. Macacos dormem em camas feitas de feno para um sono quentinho. Até a dieta dos animais mudou para se adequar aos dias frios.
;No Zoológico, o cuidado começa antes do inverno. Temos uma programação que vai desde a aquisição de cobertores, passando pela poda, para que o sol consiga entrar mais, até a alimentação, preparada de forma diferenciada, e o feno, separado. Então, quando o frio chega, os animais já estão preparados para enfrentar esses dias sem sofrimento;, comenta Ana Raquel Gomes, superintendente de Conservação e Pesquisa do zoo.
No período, cada bicho recebe um cuidado especial, que varia de acordo com a espécie. Alguns não sofrem tanto com as baixas temperaturas. Outros, principalmente os que são tipicamente de regiões mais quentes, precisam de atenção especial.
A forma mais comum de proteger os animais do frio é preparando uma toca com feno. ;Esse material não retém tanto a umidade do ambiente, permanece em seu estado natural e, com isso, esquenta os animais. Acaba simulando a mata, onde eles pegam uma junta de folhas para dormir na noite, por exemplo;, explica Ana Raquel.
Os cuidadores só enfrentam um problema ao preparar o lar dos primatas: ;Quando colocamos o feno, muitas vezes, os bichos acham que aquilo é uma brincadeira e jogam para cima, derrubam na água; fazem a festa;, ri a superintendente.
Cuidados
Cobertores e fenos são ideais para alguns animais, mas não servem para outros, como as aves. Nesse caso, os cuidadores precisam ter outro tipo de atenção. O tratador do Zoológico Rodrigo Guimarães explica que muitos pássaros não têm o hábito de entrar em um ninho para dormir, e acabam passando a noite no próprio recinto. ;Então, temos que preparar o local para que não entre tanto vento, que é o que castiga mais as aves e pode prejudicar a saúde do animal. Onde ficam as corujas, por exemplo, colocamos bambus que cortam o vento e acabam protegendo do sol, pois elas são de hábitos noturnos. As pessoas reclamam, falam que assim não dá para ver os animais, mas temos que dar as melhores condições a eles;, detalha.
Os que mais precisam de atenção nesta época são os répteis, porque a temperatura corporal deles varia de acordo com a do ambiente. Para que não fiquem doentes, a cozinha do Zoológico trabalha desde antes do inverno, como conta Lucas Andrade, diretor de Nutrição e Alimentação Animal. ;Quando começamos a perceber que há uma diminuição mais significativa da temperatura, alteramos a alimentação dos animais. No frio, o bicho gasta mais energia para manter a temperatura do corpo, então, precisamos fornecer mais energia.;
Além de preparar comidas com mais ingredientes úmidos nos dias de seca, Lucas explica que altera proporções dos alimentos. ;Dependendo da espécie, nós mudamos a forma e a quantidade de gerar mais dessa energia. Os nossos grandes felinos só precisam de uma quantidade maior de comida. Nosso tigre, por exemplo, comia 2,7kg de carne e de frango antes, então, passa a comer 3,1kg. Para outras espécies, como araras, colocamos mais um item na dieta, é o girassol ou o óleo de coco, que têm a mesma função e aumentam a energia deles para o inverno;, conclui.