Brasília perdeu, nesta segunda-feira (29//7), um grande nome da cultura local. O cineasta Geraldo Sobral Rocha faleceu aos 77 anos após mais de um ano lutando contra um câncer de boca. Geraldo produziu e dirigiu, nos anos 70, o curta-metragem ;Brasília Ano 10;, vídeo institucional encomendado pelo governo da época para comemorar os 10 anos da nova cidade. Nas imagens, o cineasta captou um registro histórico do início da capital, incluindo veleiros no lago Paranoá e uma corrida de carros no Eixo Monumental.
Natural de Floriano, cidade piauiense a cerca de 250 km de Teresina, Geraldo chegou ao Distrito Federal em 1964, quando estava com 22 anos de idade. Logo, interessou-se pela sétima arte e fez parte da primeira turma de cinema da Universidade de Brasília (UnB). O amor pela academia foi tão grande que anos mais tarde, tornaria-se professor de Cinema na Faculdade de Comunicação da UnB.
Em 1978, no entanto, precisou se aposentar precocemente, ainda com 36 anos, quando precisou fazer um transplante de rim. O empresário Edmundo Peres, 70 anos, cunhado de Geraldo, lembra que, graças à ajuda do então presidente do Senado e em seguida Ministro da Justiça, Petrônio Portella, foi possível a operação no Hospital das Clínicas, em São Paulo. À época, Geraldo trabalhava como assessor do político no Senado Federal.
;Ele sempre gostou de beber. Então, descobriu que tinha um rim atrofiado e o outro estava funcionando muito mal. Vimos que o da irmã dele era compatível e a cirurgia foi um sucesso;, recorda Edmundo. ;Viveu 41 anos depois da operação, mais do que com o órgão que ele nasceu. Acredito que era o mais velho transplantado renal do país.;
Amante da vida boêmia, Geraldo se aventurou como empresário, sendo proprietário de ao menos três bares no Plano Piloto. ;Ele e os amigos queriam um lugar para beber, então se juntaram e compraram o primeiro bar;, ri Edmundo. Os negócios, no entanto, não duraram muito e ele vendeu todos.
Mesmo assim, seguia sendo fã dos botecos e ainda frequentava alguns, sobretudo na 308 sul, quadra onde morou a maior parte da vida. ;De manhã, ele gostava de ler. Assinava duas ou três revistas e mais alguns jornais. Depois, ia almoçar fora. À noite, aproveitava para ir beber;, descreve o cunhado.
Geraldo deixa dois filhos, três netos e a esposa, Edna, a Dininha, como é carinhosamente chamada. Apegado à família, jogava Cacheta todos os sábados com os irmãos e cunhados. A sobrinha dele, Bibiana Peres, 30 anos, lembra saudosa do tio. ;Ele adorava um joguinho de baralho. Era sempre muito carinhoso, só alegria. Gostava de curtir a vida e falar das saídas dele com os amigos. Conversava sobre Brasília e qualquer coisa que envolvesse comunicação.;
Com a doença, no entanto, ficou debilitado. Chegou a estar internado, mas estava em casa e pôde passar os últimos momentos ao lado da esposa e da filha. ;Nos últimos meses ele estava sofrendo bastante;, diz Bibiana.
O velório de Geraldo acontece entre 12h e 15h30 desta terça-feira (29/7) na capela 6 do cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Às 17h, o corpo será cremado no cemitério de Valparaíso.