Uma amiga me contou que, ao chegar a Brasília, ainda na infância, tinha vergonha de dizer que era do Ceará. Era o início da capital, logo não havia ninguém nascido aqui da sua geração. Em toda sala de aula, era comum perguntar de onde as crianças vinham. Muito tímida, ela dizia que havia nascido em Fortaleza. A resposta era seguida de risos. O bullying contra nordestinos era tão forte que ela passou a omitir a origem até nas brincadeiras de boneca, quando ela, as irmãs, as primas e as amigas tinham um único sotaque: o carioca.
Passou um tempo e ela entendeu que era pura e simples discriminação. Frequentando a Casa do Ceará com os pais, amando o forró e um autêntico baião de dois, voltando ao seu estado todos os anos, cresceu com orgulho de suas raízes, mas aprendeu desde cedo que há um imenso preconceito contra os nordestinos. E isso continua, meus caros. A fala do presidente Bolsonaro sobre ;os paraíbas; está aí pra confirmar isso.
Sou pernambucana. Não troco o meu ;oxente; pelo ;tá ok; de ninguém, parafraseando o mestre paraibano Ariano Suassuna. Acordo e durmo com orgulho de ser nordestina todos os dias. Ouço o som da zabumba, do frevo, respiro a minha cultura espetacular. Repasso para minha família tudo o que há de bom na minha região.
A força do Brasil está na força de seu regionalismo singular. A união de tantas tradições distintas traz como resultado uma diversidade riquíssima, que é, a meu ver, o maior poder brasileiro. Sem isso, o Brasil seria tão somente um país de dimensões continentais extremamente desigual. É dever de qualquer governante ressaltar a riqueza de seu povo. Não é favor.
O Nordeste não é apenas um quintal de votos. É uma região sofrida, negligenciada e, ainda assim, de uma absurda força motriz de transformação, criatividade, inteligência e ousadia. Sabe desafiar os imbecis preconceituosos de sempre. E, provocada, sempre saberá reagir à altura. Existe orgulho aqui, um imenso orgulho. É bom que todos saibam.