Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crônica da Cidade

Valeu, macacada!

Uma amiga sugeriu que eu escrevesse sobre a vida nos condomínios horizontais. Escrevi, mas o tema é inesgotável. E, hoje, vou falar dos macacos. Sim, porque moro próximo a uma mata cerrada, que impõe uma convivência cotidiana com os animais silvestres. A chegada deles é mágica. De repente, você ouve um barulho de mato se mexendo. Só que é um alvoroço aéreo, em cima das árvores, de galho em galho. Eles estão na moda; têm uma organização militar.

Primeiro, o general vem à frente para sondar o terreno. Depois, a macacada começa a aparecer. Quase sempre, estão em busca de frutas para se alimentar. Fazem acrobacias de deixar o Circo du Soleil no chinelo. Nunca vi um macaco despencar do alto por um movimento em falso. E não revelam destreza apenas no espaço aéreo.

Certa vez, fiquei apreensivo, pois um macaco teve a ideia temerária de passear sobre uma cerca de arame farpado no quintal. Não quis gritar para não assustá-lo e provocar um acidente. Foi sensato. Com incrível habilidade, ele atravessou toda a extensão do fio farpado incólume, tranquilamente, sem sequer dar uma olhadinha no lugar em que pisava.

Quando os vejo em acrobacias, tenho vontade de dizer o mesmo que Rubem Braga falou a um sujeito que fazia malabarismos em uma corda suspensa em cima dos prédios, a mais de 20 metros de altura: eu quero ver é aqui embaixo.

Em uma madrugada brasiliana, acordei assustado com o barulho do que me parecia um pagode ou uma pelada em cima do telhado. Fiquei em dúvida se estava sonhando. Levantei, abruptamente, na tentativa de desvendar o enigma. De repente, avistei um macaco em uma faixa de vidro, dei uma bronca. Não foi suficiente para afugentá-los.

Joguei uma pedra nas árvores só para assustar. No entanto, torci o braço e tive de fazer fisioterapia durante mais de um mês. E o pior é que o fisioterapeuta estava mais interessado na saúde dos macacos do que na minha: ;E os macaquinhos? Cuida bem dos macaquinhos, hein?;

Nas férias, resolvi botar moral na macacada. Armei uma rede e fiquei de plantão. Quando se aproximavam, eu os espantava. Porém, certo dia, assisti a uma cena que me desarmou. Ouvi o barulho, prestei atenção e levei um tremendo susto. Vi o que me parecia ser um macaco de duas cabeças. Todavia, observando melhor, constatei que era apenas uma mãe com o filhote nas costas. Ela me mirou com olhos pungentes e interrogativos, como se dissesse: ;Não vai me deixar alimentar meu filhote?;

Liberei e, desde esse dia, perdi a moral com a macacada. No período das chuvas, eles quebraram oito telhas e desarrumaram 22. As goteiras se espalharam pela casa, pingava para todos os lados.

Mas já mandei arrumar. Fui eu quem invadiu o território deles. Esses macacos me dão muito prejuízo, mas, algumas vezes, quando estou no sufoco, eles me ajudam a fazer uma crônica. Salvaram-me diversas vezes. Valeu, macacada!