Juliana Andrade
postado em 17/07/2019 06:00
O sol não havia surgido quando Marcos Ferreira, 22 anos, saiu de Luziânia, por volta das 3h30, na esperança de conseguir o primeiro emprego. O jovem, formado em administração, pegou um ônibus e atravessou Brasília para, às 5h30, alcançar a Asa Norte. Ao chegar à comercial da 209, endereço do Oba Hortifruti, deparou-se com uma fila que terminava no bloco seguinte. Além de Marcos, centenas de pessoas disputavam uma das 47 vagas oferecidas pelo estabelecimento. ;Procuro emprego desde os 18 anos, e não é por falta de curso que eu não consigo, porque eu fiz vários. Eles (empresas) sempre exigem experiência, mas como vou conseguir experiência se ninguém me dá uma oportunidade?;, questionou.
No caso do Oba, as vagas são para todas as lojas do DF, que precisam de açougueiro, auxiliar de açougue, atendente de loja (exclusivo para deficientes), empacotador, operador de caixa e motorista. Leonardo dos Santos, 19, conta que, se conseguisse qualquer um dos cargos, ficaria feliz. Ele saiu de Sobradinho e passou horas à espera de ser recebido por um entrevistador do recursos humanos do supermercado. ;Cheguei às 6h, e a fila estava no fim da quadra;, disse. O jovem trabalhava em uma padaria da Asa Sul, mas ficou desempregado há cinco meses, depois de cortes feitos na empresa. ;O pessoal até chama para fazer entrevista, mas as vagas são poucas;, lamentou.
As entrevistas começaram às 8h30. Fernando Antônio Magalhães também chegou à Asa Norte cedo, às 6h. Às 11h, ele ainda aguardava para entregar o currículo. Casado e pai de três filhos, ele está desempregado há seis meses. ;Eu recebi a minha última parcela do seguro-desemprego. Enviei currículo para todo lado, fiz algumas entrevistas, mas está complicado;, afirmou. O pai de família tem cerca de 10 anos de experiência no mercado com serviços de limpeza.
Segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) mais recente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), há 331 mil pessoas sem trabalho no DF. Os dados são de maio. O cenário envolve gente de diferentes idades, cidades e formação. Jilvanete Fernandes, 54, é professora de português e literatura e pós-graduada em gestão e orientação educacional pedagógica. Sem conseguir um emprego na área de formação, ela estava na fila do supermercado para tentar uma vaga de operadora de caixa. ;Estou há três anos desempregada. Está muito difícil. A escassez de emprego está muito grande;, afirmou.
Moradora do Valparaíso, Andreia da Cruz, 40, está desempregada há 9 meses. Mesmo estando no fim da fila, ela não pretendia desistir da disputa. ;Eu mandei currículo para vários lugares, participei de muitos processos seletivos, mas eles nunca chamam. Fiz até um grupo nas redes sociais para compartilhar vagas de emprego;, frisou. A candidata torcia para ser selecionada para trabalhar como operadora de caixa, área em que ela tem experiência.
Repercussão
O economista Newton Marques afirma que o desemprego é um dos piores problemas da economia. Em Brasília, a situação fica mais expressiva por causa do corte de gastos no setor público, que acaba atingindo a população da capital. ;Quando há um corte, as pessoas de mão de obra terceirizada ou de cargos de confiança acabam sendo atingidas, além dos servidores que deixam de consumir certos bens;, ressaltou. Segundo ele, quando há uma retração de gastos por parte da população que trabalha no setor público do DF, a falta de trabalho, em Brasília, é inevitável.
Para Newton, a situação não vai mudar enquanto a economia não se normalizar. ;Se o governo fizer uma política econômica que consiga retomar a atividade econômica do país como um todo, as unidades da Federação, como o DF, terão uma repercussão positiva, e essa situação tenderá a se minimizar;, analisa.
Memória
Junho
Cerca de 200 pessoas acamparam em frente a um supermercado atacadista, em Samambaia, para participar de um processo seletivo. A empresa oferecia 170 vagas.
Maio
Ofertas de vagas reuniram 5 mil pessoas em um supermercado de Valparaíso (GO). O comércio tinha 300 vagas disponíveis.
Março
Em Planaltina, 2,5 mil pessoas amanheceram em frente a um restaurante de Planaltina. A fila chegou a cerca de 1km.
Janeiro
No Itapoã, centenas de pessoas formaram uma fila de 450m para entregar um currículo em um supermercado.