Jornal Correio Braziliense

Cidades

Brasilienses vão receber R$ 275,5 milhões de restituição

Liberação do segundo lote do Imposto de Renda contempla 112,7 mil moradores do DF. A maioria deve usar o dinheiro para quitar dívida, segundo pesquisa. Mais de 774 mil têm débito, o que representa 78,9% da população


Moradores do Distrito Federal podem resgatar mais de R$ 275,5 milhões de restituição do Imposto de Renda a partir de amanhã. Referente ao segundo lote residual, o dinheiro vai contemplar 112,7 mil brasilienses que fizeram a declaração este ano e obtiveram descontos a partir das deduções, tais como gastos com dependentes, saúde, educação e pensão alimentícia. Em período de recessão econômica e endividamento da população, a renda extra é comemorada não só pelos diretamente beneficiados, mas por credores e o comércio.

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), mais de 774 mil brasilienses estão endividados, o que representa 78,9% da população da capital federal. No mesmo período do ano passado, esse percentual era de 75,1%. Em quase 90% dos casos, o cartão de crédito é a principal causa.

A advogada Frankilmaria Souza, 28 anos, integra esse grupo. Ela vai usar o dinheiro para quitar as faturas do cartão de crédito, além de pagar as contas de luz e dos telefones celulares. ;Quem tem dívida paga. Quem não tem não paga. Levando em conta a situação atual do país, toda renda é muito bem-vinda;, alega.

Assim como Frankilmaria, mais da metade dos contribuintes da capital devem aproveitar o momento para pagar dívidas, indica o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista). A pesquisa, realizada pela entidade, revela que 54% do dinheiro será destinado a abater débitos com condomínio, aluguel, cartão de crédito, impostos atrasados, escola, carnês de lojas e universidade.

Para além do pagamento de débitos, o Sindivarejista prevê que as devoluções sejam usadas em compras, viagens e investimentos. O microempreendedor Júnior Oliveira, 47, vai converter a renda na compra de equipamentos para a dedetizadora. ;Enxergo a garantia desses fundos como uma oportunidade para melhorar os serviços e extinguir as dívidas que criei na constituição do meu empreendimento. É um bem para a população;, observa.

A abertura do novo lote também traz expectativas positivas para os mais de 30 mil varejistas do DF. Dona de uma loja de roupas infantis na 301 do Sudoeste, Fernanda Siqueira, 36, destaca que, nesse período, as vendas aumentam até 20%. ;É um dinheiro que as pessoas consideram extra. Elas capricham muito mais nos presentes, dando roupas e calçados, aquecendo o mercado;, acrescenta.

Para ela, até quem usa o dinheiro para quitar as dívidas acaba aquecendo as vendas, mesmo que de forma indireta. ;Se a pessoa quitar uma parcela, um débito, fica mais livre para fazer novas compras e usar crédito;, diz.

O presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, concorda: ;Tão importante quanto quitar dívidas é voltar ao crediário, que responde a 34% das vendas no comércio. A abertura de crédito e a injeção de dinheiro são o que fortalece a economia;. O lote liberado amanhã inclui pagamentos para declarações de 2019, além de lotes residuais dos exercícios de 2008 a 2018.

Roupas e calçados

Os segmentos do comércio que devem apresentar maiores crescimentos nas vendas são os de roupas, calçados e objetos para o lar. ;A estimativa é de 8% de incremento nesses setores, em relação ao ano passado. O primeiro lote da restituição, em junho, já mostrou que esse dinheiro extra ajudou a aquecer a economia, principalmente em relação aos produtos para o frio;, afirma Edson de Castro.

Sócia de uma loja de sapatos, Eliane Rodrigues, 40, conta que os últimos meses foram bons para o comércio e acredita que os R$ 257,5 milhões distribuídos pela capital aumentarão a saída das mercadorias. ;Tomara que uns R$ 50 milhões desse valor venham para o comércio. É uma época em que as pessoas costumam gastar mais;, frisa.

Até dezembro de 2019, outras cinco remessas da restituição do Imposto de Renda e a consulta de cada liberação pode ser feita pelo site da Receita Federal ou pelo Receitafone, no 146. Ainda não há o cálculo de quanto a capital receberá ao fim da devolução, mas, segundo Edson de Castro, é possível estimar os resultados positivos para o comércio. ;A restituição acontece de forma gradativa, assim como o pagamento das dívidas. Consequentemente, a perspectiva de melhoria da economia também é progressiva.;

* Estagiário sob supervisão de Renato Alves

Dica de especialista

Para definir a melhor forma de gastar a restituição do Imposto de Renda é necessário avaliar a própria situação financeira, segundo Newton Marques, professor de finanças públicas da UnB. Confira as dicas dele:

Dívida
  • Quando se fala em dívida, inclui-se não somente aqueles consumidores que estão com contas atrasadas ou nome sujo na praça. Parcelas no cartão de crédito, por exemplo, são consideradas um tipo de endividamento. Logo, uma pessoa que deve não necessariamente tem problemas financeiros. Independentemente do caso, a dica é para todos: ;Se está devendo, esta deve ser a primeira preocupação. Se não for possível quitar as pendências, é preciso amortizá-las, de forma que os juros não acabem elevando ainda mais o valor a ser pago.; A prioridade é pagar dívidas caras, como cartão de crédito e cheques especiais. Ao ano, essas pendências chegam a custar quase 300%.

Investimento
  • O planejamento financeiro é a chave para que o consumidor não faça dívidas que não tenha condições de quitar. ;É tão importante quanto uma certidão de nascimento, pois revela a identidade da pessoa, o grau de confiabilidade e o compromisso com o próprio nome;, explica o especialista. Para quem quer assumir aplicações maiores ; como a compra de um carro, a entrada de um imóvel, uma viagem ; essa é a hora de guardar para, mais tarde, investir. ;Fazendo uma reserva, é importante para que compre em melhores condições. Para aquisições maiores, esse tipo de planejamento garante mais segurança e, consequentemente, bem-estar, pensando a longo prazo.;

Compras
  • O consumo faz parte das necessidades pessoais e também deve ser prioridade na hora de pensar em como gastar o dinheiro extra, desde que de forma consciente. Outra dica é a priorização dos produtos do DF. ;Isso ajuda a economia local. Muitas vezes o cidadão brasiliense opta por um produto de fora, mesmo com a qualidade compatível. A recomendação é valorizar a produção da região, ainda que um pouco mais cara, já que o ganho em termos de emprego e renda é maior;, afirma Newton Marques.A lógica é simples: injetando dinheiro no comércio local, melhoram-se as condições financeiras dos lojistas e empresários, fazendo com que o comércio se aqueça e gere novas oportunidades de emprego. O aumento de renda permite um maior gasto, fazendo girar a economia.