Apenas na adolescência Vítor* se deu conta de que, em boa parte da infância, foi vítima de abusos sexuais cometidos por José Antônio Silva, seu parente, em um quarto na casa dos avós. Por medo e acreditando que a revelação destruiria os laços fortes da família, guardou para si o segredo por mais de uma década. ;Era a minha palavra contra a dele. Achava que expor tudo o que passei só me traria mais sofrimento e ele acabaria saindo impune, porque estava acima de qualquer suspeita;.
Vítor só tomou coragem para denunciar após confirmar que ele estava longe de ser a única criança molestada por José Antônio. ;Dá repulsa em relembrar. O Antônio fazia aquilo parecer corriqueiro e, quando a gente é criança, não consegue diferenciar essas coisas;, conta Vitor. Outros meninos da família sofreram nas mãos do pedófilo, que aproveitava as reuniões de domingo para cometer os crimes. Foi no último desses encontros, em maio deste ano, que um dele fez a revelação das atrocidades.
Ao chegar com o filho recém-nascido na casa dos avós, Gustavo*, 30 anos, que sofreu os constantes abusos dos 4 aos 7, sentiu que a inocência e a integridade da criança estava ameaçada. ;Ele (José Antônio) se aproximou do meu filho e, nesse momento, soube que se eu não fizesse nada, o ciclo poderia se repetir. Foi por amor que eu decidi contar;. Ele decidiu ir à 4; Delegacia de Polícia (Guará) e contar tudo. O que Gustavo não imaginava era que, ao abrir a ferida, tantas outras bocas caladas iriam interromper o silêncio.
* Os nomes, assim como o grau de parentesco, são mantidos em sigilo para preservar as vítimas