A familiar de José conta que o homem era cuidadoso ao cometer os abusos, pois buscava estar sozinho com ela, para não ser flagrado. "Aconteceu na minha casa, no carro dele e até na residência da minha avó. Durou até eu ter 7 anos. Nessa época, ele teve uma conversa comigo e deixou claro que eu não deveria falar nada sobre o que aconteceu. Desde então, não tocou no assunto ou me tocou novamente", relembra.
"Tive medo de contar para alguém e ser desacreditada. Aos meus 8 anos, ele e minha mãe se casaram e passou a morar conosco. Por mais de 10 anos, passei por tudo sozinha", diz. "A pior parte era ter de olhar para ele todos os dias e lembrar o que aconteceu. Foi muito difícil e doloroso. Só entendi o que havia passado ao crescer", destaca a vítima.
Após dez anos de silêncio, a jovem tomou coragem para verbalizar os abusos sexuais. Mesmo trêmula e assustada com a possível reação da mãe, narrou os fatos, em maio deste ano. "Foi quando a minha mãe soube quem ele realmente era e decidiu pedir o divórcio. Deixamos o apartamento onde morávamos com ele, no Guará, e nunca mais voltamos", afirma.
Em junho, a vítima buscou a 4; Delegacia de Polícia (Guará), para prestar queixa. "Ali, descobri que ele tinha feito a mesma coisa com os meus primos. Fiquei mais traumatizada e assustada. Eu não tinha ideia de que ele havia cometido tantos abusos", constata a garota.
De acordo com o delegado-adjunto Douglas Fernandes, a maior parte das vítimas identificadas são do núcleo familiar do suspeito. "Estes abusos duravam mais tempo, pois as crianças conviviam com o abusador. Ele aproveitava todas as oportunidades, inclusive, as reuniões familiares de domingo", destaca.
Núcleos de abuso
Ainda segundo apuração da 4; DP, além dos abusos cometidos com familiares, agentes identificaram dois novos núcleos de atuação de José Antônio: entre a vizinhança; e com alunos da escola de futebol e integrantes da igreja. O delegado Douglas destaca que, nestes casos, as ações do suspeito não eram frequentes.
"As vítimas sofriam um ou dois abusos. As investidas não continuavam porque as crianças tinham a opção de se afastar, evitar o contato com o acusado, diferentemente dos familiares dele. E, quando esse menino decidia se distanciar, José não deixava de o tratar bem. Tudo isso para se aproveitar da inocência da criança, que não conseguia assimilar tudo o que estava ocorrendo", delimita Douglas Fernandes.
O delegado também acrescenta que o tratamento demonstra um padrão de abordagem. "Ele não usava da força para cometer os crimes. Ele usava a inocência da vítima. Ao ganhar a confiança das crianças, fazia os abusos e os tratava como se fossem uma brincadeira. Com esse comportamento, a vítima não via um problema, de início. Infelizmente, até identificamos que algumas dessas pessoas não têm ódio do acusado", finaliza.