Crianças de 4 a 12 anos eram os alvos do catequista e instrutor de futebol José Antônio Silva. O homem de 47 anos está foragido há uma semana, quando a Justiça decretou a sua prisão preventiva. Mas ele fugiu. Sem sucesso nas buscas, a Polícia Civil decidiu tornar a investigação pública, na segunda-feira, divulgando fotos do procurado. Até a noite de ontem, policiais civis de Brasília buscavam o acusado em endereços diversos. Eles contam com a ajuda da população para encontrar aquele que pode ser o maior abusador em série da história do Distrito Federal.
José Antônio é suspeito de abusar de ao menos 26 crianças, todas moradoras do Guará, onde ele também residia. Muitas das vítimas frequentavam a escolinha de futebol que ele mantinha voluntariamente, na quadra esportiva pública, em frente a sua casa, para onde levava os meninos dos quais abusava. As primeiras vítimas foram meninos de seu conívio familiar, violentados no quarto dos pais dele. Eles começaram a sofrer ataques há 25 anos.
Todas as vítimas decidiram denunciar José Antônio em maio. O primeiro a procurar a 4; Delegacia de Polícia (Guará) foi um parente dele. Hoje com 30 anos, ele contou, em depoimento, ter tomado a decisão após ter um filho e temer uma investida de José Antônio sobre o menino. ;Ele tinha medo de prejudicar a família, mas não suportou que a situação pudesse acontecer novamente. Em seguida, outros parentes se sentiram encorajados e decidiram nos procurar;, comentou o delegado à frente do caso, Douglas Fernandes.
Desde então, 12 pessoas formalizaram a denúncia, sendo apenas uma mulher. O delegado não informa quantas são parentes do acusado, apenas diz que eles são maioria. Outras oito supostas vítimas procuraram a polícia, mas os relatos estão sob investigação para saber o tipo de crime foi cometido pelo autor. Há outras seis crianças que teriam sido abusadas, todas alunas da escolinha de futebol, de acordo com testemunhas. Agentes tentam localizá-las. O caso mais recente é o de um menino de 4 anos. ;Acreditamos que com a divulgação do caso, mais pessoas procurem a delegacia para denunciar;, afirmou Douglas Fernandes.
O delegado acredita que José Antônio dava preferência a crianças mais novas porque elas não entendiam o que estava acontecendo e não contavam aos pais. Como ele não tinha emprego formal, a suspeita dos policiais é de que algum parente esteja ajudando na fuga. ;A família se dividiu. Muitos duvidam que ele tenha cometido os crimes e alguns ainda o ajudam. Ficamos sabendo que ele estava na casa de uma irmã, no Riacho Fundo 2, mas, quando chegamos lá, ele havia fugido;, disse Fernandes.
Doces e salgados
Nascido no Maranhão, José Antônio cresceu no Guará, onde morou até os 40 anos na casa de parentes, na QE 17. Quando se casou, passou a morar com a esposa, na região administrativa, mas na QE 40. Conhecido por quase todos na quadra como Toín, ele tinha grande confiança da comunidade, principalmente dos pais de crianças, por dar aulas de futebol de graça, e, principalmente, ser um catequista.
José dava aulas na Paróquia Divino Espírito Santo, na QE 34, e organizava jogos de futebol em quadras esportivas das QEs 38 e 40. Após conquistar a confiança dos pais, José passava a presentear as crianças. Diariamente, ele passava na casa dos meninos e os buscava para levá-los aos jogos, em sua Fiorino. Depois do treino, dava doces, salgados e refrigerantes a eles.
O homem morava a menos de 200 passos de uma das quadras de esportes e sempre levava os alunos ao apartamento, para beber água ou comer um lanche. Professora, a mulher dele costuma passar o dia no trabalho. Ele levava as vítimas para casa, pela manhã ou tarde, quando ela não estava, de acordo com os depoimentos. ;O autor obrigava os meninos a fazerem sexo entre si, principalmente oral. Ele forçava uma espécie de orgia entre as vítimas e participava também;, detalhou o delegado.
Confiança e orgias
Confiança e orgias
Vizinhos e conhecidos de José Antônio Silva contaram ao Correio que estranhavam a relação dele com as crianças, mas que nunca denunciaram nada por falta de prova ou mesmo por não acreditar que ele seria capaz de abusar sexualmente de alguém.
;Sempre achei estranho ele andando com tantas crianças, mas ele era da igreja, como íamos imaginar? Meu menino jogava bola e esta semana me contou que o Toín havia pedido para ele pegar no pênis dele, mas que ele recusou;, contou ao Correio um dos pais que denunciou José Antônio. O filho dele tem 11 anos.
A presença dele na igreja também trouxe confiança a uma mãe de uma das supostas vítimas. ;Um dia estava na igreja e o vi em cima do altar, todo de branco, não consegui imaginar aquele homem fazendo mal a ninguém. Foi quando comecei a deixar meu filho, de 8 anos, andar com ele;, lamentou a mulher. Ela esteve na delegacia ontem, mas ainda não formalizou uma denúncia. A mulher tem conversado com o garoto, que demonstra medo.
A mãe de outra suposta vítima conta que o filho, de 9 anos, morava com a vó, na QE 40, quando ele conheceu José Antônio. ;Minha mãe tem problema na perna e Toín se ofereceu para levar ele todos os dias na escola. Isso acontecia desde o início do ano. Quando o caso estourou na mídia, pressionei o meu filho e ele me contou o que estava acontecendo. Não consigo repetir o que ele disse;, desabafou. Ela também esteve ontem na 4;DP. Para a polícia, não há dúvida de que o menino foi violentado.
De acordo com a mulher, o comportamento da criança mudou. ;A professora dele me chamou para conversar, disse que ele estava disperso e perguntou se ele estava com algum problema. Meu menino sempre foi apaixonado por futebol, desde que nasceu. Há um mês, ganhou o uniforme oficial do Flamengo, mas não quis usar e disse que não jogaria mais. Comecei a estranhar;, contou a mãe.
Ela comentou que o filho não conseguiu contar a história para a tia ou para a vó, com quem mora. ;A gente que é mãe sabe quando tem algo errado. Dava para ver nos olhos dele o que tinha acontecido. Agora, vamos procurar apoio da polícia e psicológico.;
A reportagem foi à casa do acusado, mas a esposa dele se mudou há cinco dias e não foi localizada. A paróquia onde José era catequista informou que não comentá o caso.
DF tem 140 casos
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A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) registrou 140 ocorrências de estupros contra vulneráveis nos cinco primeiros meses de 2019. Em comparação a igual período do ano passado, o número de casos caiu 21,8%, quando houve 170 registros.