O presidente da Federação das Indústria do Distrito Federal (Fibra-DF), Jamal Jorge Bittar, acredita que a aposta na iniciativa privada pode melhorar a situação econômica do país, principalmente na capital, tão dependente economicamente do funcionalismo. Para ele, o Estado não tem mais força para se sustentar e precisa de parcerias.
Em entrevista ao programa CB.Poder ; parceria do Correio com a TV Brasília ;, Jamal ressalta que a reforma da Previdência gerou muita polêmica e se estende por muito tempo e, por isso, pode vir com menos força. Mas ele defende que a medida trará impactos positivos, a curto e longo prazo. O presidente da Fibra elogia a decisão do Senado de deixar a tutela da Junta Comercial com o DF e critica as afirmações do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), sobre o trabalho infantil .
O índice que mede a confiança das indústrias aumentou com essa possível votação da reforma da Previdência. O que mais tem contribuído para elevação desse índice?
Algumas ações locais também contribuíram. As pessoas estão cansadas da ausência de esperança e isso faz com que ela venha em qualquer movimento. Essa questão da reforma ficou muito desgastada. Perdeu um ponto muito importante pela demora. Mas as questões de políticas locais, de desoneração do empresariado e obras têm ajudado bastante, ainda mais no último trimestre, no crescimento diferenciado acima da média.
O senhor acha que a resposta vai ser rápida ou pode haver frustração após a aprovação da reforma da Previdência?
Existe um tempo para que as questões ocorram e liberem todo seu potencial. O tempo da reforma passou um pouco pela ausência de celeridade, por conta de conflitos do governo federal e da ausência de foco. Perdemos um pouco dessa energia. Porém, não é uma resposta rápida. Este ano, será um ano um tanto sacrificado. Analistas tratando PIB a 0,5% de crescimento para este ano. No campo industrial, você tem prazos de resposta, projeto e proposta. É claro que o consumo da família é muito importante, um definidor de crescimento e ele ocorre com maior rapidez.
No DF, a renda do servidor público é muito importante para movimentar a economia. Com a reforma da Previdência, haverá redução pequena dos salários. Os servidores estão aguardando reajuste desde o ano passado. O empresariado tem que trabalhar e ajudar para que esses reajustes saiam ou o Estado não tem condições de abraçar essa causa?
A sociedade inteligente cria alternativas. A nossa é o setor privado. Brasília tem um setor privado enorme. Nos últimos 20 anos, reduzimos a metade da participação da riqueza no PIB do DF, enquanto Goiás dobrou, por causa de políticas competentes e suficientes para suprir o estado.
Qual a vocação da indústria no DF?
De ponta, agregada, com tecnologia e inovação. Não adianta ter a maior renda per capita do país e não ter uma distribuição dela. Não adianta ter maior poder aquisitivo, maior número de mestres e doutores e estar em um estado onde apenas o potencial agrícola é avaliado como muito importante. O que nós temos é inteligência, um movedor econômico, que passa pela tecnologia e inovação.
Como fomentar as parcerias com o governo?
O setor produtivo está pronto para se reestruturar, se renovar e promover melhora na criação. Mas precisamos de um Estado atuante. Tenho visto que o governo de agora tem disposição para alavancar esses processos. Falando sobre Biotic, inaugurado na gestão passada, ele cultua resposta bastante competente das primeiras lições que o agregam.
Como os empresários estão se adaptando às novas regras de compliance?
Com espantosa rapidez. Nós, da Federação da Indústria, promovemos nosso compliance. No âmbito da Fibra, apenas o DF e outras três entidades do país tiveram essa ação de forma efetiva. Em 2020, com a Lei de Integridade, temos visto bastante pessoas participarem do compliance, que é bom para todo mundo, para empresa, sociedade e Estado. É uma realidade irreversível.
O que melhora após o DF assumir a Junta Comercial?
É um grande passo. Efetivamente e formalmente, tem 30 dias que essa medida foi aprovada pelo Senado. É um grande ganho para Brasília. Era a única Junta Comercial do país que funcionava controlada pelo governo federal. Isso foi muito bem-vindo pela sociedade produtiva.
Qual importância do Sistema S, principalmente neste momento que a economia está tão mal?
O ministro da Economia (Paulo Guedes) arrancou uma das poucas coisas que funcionam neste país, um sistema que oferece quase 4 milhões de vagas no país, sendo quase 2 milhões gratuitas. Tudo funciona como uma instituição privada. A Receita Federal abocanha R$ 3,5 milhões, para não fazer nada.
O presidente Jair Bolsonaro se declarou favorável ao trabalho infantil. O senhor acha que isso pode fazer com que o empresariado olhe para esse fator de forma diferente?
O empresariado, não. Primeiro, isso foi um chute fora. Tem muito tempo que não ouvia nada que favorecesse o trabalho infantil. Ao contrário, estamos procurando desenvolvimento para colocar essa meninada toda estudando. Há uma fala impensada, e que, infelizmente, toca-se na sociedade mais fragilizada. Naquele menino que fica imaginando se vai para aula ou se ajuda a mãe, quando o Estado devia dar apoio para ir à aula. Não há empresariado que apoie o trabalho infantil, que é uma crueldade.