Jornal Correio Braziliense

Cidades

Para viajar com Athos Bulcão

Em comemoração aos 101 anos do artista que fez carreira e fama em Brasília, Inframerica e fundação inauguraram, em novo local do aeroporto da capital, um painel de aço de 93 metros produzido pelo carioca em 2003



O nome por trás dos trabalhos coloridos e em estilo geométrico que decoram a capital federal e outras cidades do Brasil e do mundo celebraria 101 anos ontem. Athos Bulcão ganhou reconhecimento nacional e internacional pela originalidade dos trabalhos que produziu ao longo de, ao menos, metade dos 90 anos que viveu. Em homenagem à trajetória do carioca e por coincidência da data, o Aeroporto de Brasília e a Fundação Athos Bulcão (Fundathos) inauguraram, em novo local, um painel de 93 metros de comprimento produzido em 2003 pelo artista.

O objetivo da mudança é dar visibilidade ao legado de Athos, que morreu em 2008. A transferência para um ponto mais visitado, em um dos corredores do saguão de embarque doméstico, levou dois meses e custou R$ 430 mil à Inframerica, administradora do terminal. A instalação decorava o terraço do aeroporto. No entanto, em 2014, com o fim da reforma geral da edificação, o local se transformou em uma Sala VIP, e a chapa de aço ; pintada com tinta automotiva nas cores azul-claro, verde, amarelo, rosa-claro e marrom ; ficou acessível apenas aos passageiros que pagavam pelos serviços especiais oferecidos nessa área.

O branco que emoldurava as janelas do corredor onde o painel foi reinaugurado passou a contrastar com cores em tons pastéis. Viajantes que passam pelas esteiras rolantes na área interna do embarque poderão, a partir de agora, observar um trabalho, que, para quem não conhece a versatilidade de Athos, chega a destoar das obras consideradas ;tradicionais;, como os azulejos.

Porém, a proposta de uma criação que integrasse a arquitetura do ambiente ; marca característica de Athos ; não deixou de ser pensada para a peça. O casamento da composição com o espaço é perceptível, principalmente, na manhã, quando os pequenos furos que compõem o painel permitem à luz que cruza as janelas do terminal atravessar a obra e continuar a iluminar o espaço.

O arco-íris de cores, dobras e divisórias é o terceiro painel de Bulcão no Aeroporto de Brasília. Os outros dois são feitos com os famosos azulejos esmaltados. Um deles, nas cores amarelo e laranja, fica na área de embarque internacional; o outro, em verde e azul, no saguão de embarque doméstico. Todos são tombados e fazem parte do inventário de obras de Athos Bulcão em Brasília do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em breve, o trabalho será identificado com o nome do autor.

Processo

Na forma original, a instalação reinaugurada tem, aproximadamente, 130m de comprimento. Contudo, com a transferência para o corredor do saguão de embarque, cerca de 36m da peça precisaram ser removidos por falta de espaço. Os responsáveis pela Fundathos vão decidir o que será feito com a estrutura remanescente. ;O restante foi retirado e armazenado. Vamos estudar para quem podemos oferecer, pois não temos sede;, disse a secretária executiva da Fundathos, Valéria Cabral.

A transferência para o novo local demandou longas tratativas e resultou de um processo extrajudicial. A Inframerica, empresa responsável pela administração do aeroporto, chegou a ser notificada pela 1; Promotoria de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural, do Ministério Público do DF, por meio de um termo de ajustamento de conduta. Caso descumprisse as medidas estipuladas, a multa para a concessionária poderia ultrapassar R$ 2 milhões.

Os três painéis de Athos Bulcão disponíveis no aeroporto fazem parte das cerca de 260 obras do artista instaladas em todo o país. Somados, os trabalhos realizados no Brasil e no mundo chegam a, aproximadamente, 300.


Memória

Último modernista

Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1918, mas dedicou mais da metade de sua vida a Brasília. Ele abandonou a faculdade de medicina para seguir a carreira artística. Chegou à nova capital do Brasil em 1958, quando ela estava em construção, a convite de Oscar Niemeyer. Encantou-se com a paisagem e com o céu do Planalto Central e nunca mais foi embora. Morreu em julho de 2008, vítima de uma parada respiratória, após 10 anos de luta contra o mal de Parkinson.