Anos de desgaste e falta de manutenção transformaram a Rodoviária do Plano Piloto em sinônimo de perigo. Chão desnivelado, banheiros destruídos, fiação à mostra, infiltração e escadas rolantes e elevadores sem funcionar são alguns dos problemas encontrados pelas 700 mil pessoas que passam pelo terminal diariamente. Após o Governo do Distrito Federal (GDF) anunciar que a estrutura está com risco iminente de desabamento, estacionamentos e duas vias do terminal foram totalmente bloqueadas. Agora, o espaço passa por avaliações e novas interdições não são descartadas.
Laudo da Novacap revelou que a Rodoviária corre risco de colapso, como aconteceu em fevereiro do ano passado, no viaduto da Galeria dos Estados. ;Equipes da Novacap e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) trabalham para analisar toda a estrutura, que é gigantesca. Além disso, temos pontos que só são acessíveis por câmeras; por isso, o processo é mais demorado;, afirmou o secretário de Obras, Izídio Santos.
Apesar das interdições, as obras ainda não começaram. Em nota, a Subchefia de Relações com a Imprensa do Palácio do Buriti explicou que o Executivo aguarda aprovação do Tribunal de Contas do DF (TCDF) para alterar o modo de licitação das intervenções estruturais ; de normal para emergencial. A expectativa do GDF é de que a medida seja feita até a próxima segunda-feira. Em seguida, os trabalhos deverão ser iniciados ;o mais rápido possível;.
De acordo com o governo, as 180 vigas de sustentação da plataforma passarão por reestruturação. Um material feito de fibra de carbono será aplicado no interior das estruturas de concreto e deverá aumentar a resistência dela em 10 vezes. Segundo o texto, o maior impacto sofrido pela edificação é devido à circulação de veículos. A previsão é de que a obra custe R$ 6 milhões e termine em três meses.
Trânsito
As interdições ocorreram na plataforma superior do terminal. O trecho entre o Conjunto Nacional e o Conic ficou totalmente bloqueado para o tráfego. Os estacionamentos também permanecem fechados. No lado oposto aos shoppings, apenas veículos leves podem circular, e uma das três faixas teve o sentido invertido. As mudanças devem durar 30 dias e serão revertidas após o escoramento de toda a estrutura.
Ontem, houve engarrafamento no início da manhã e no fim da tarde. No entanto, o diretor de Policiamento e Fiscalização do Departamento de Trânsito (Detran), Francisco Saraiva, ressaltou que o tráfego fluiu de forma lenta, mas nada atípico. ;Tudo ocorreu dentro da normalidade. Tivemos congestionamentos, que fluíram normalmente com o tempo. Esperávamos uma situação pior;, ressaltou.
A orientação do Detran é de que os motoristas usem vias alternativas para acessar a área central de Brasília, como L2, L4 e W3. Com os estacionamentos bloqueados, a sugestão de Francisco é de que os condutores parem os veículos no Conjunto Nacional ou no Conic. Os veículos pesados, como caminhões e ônibus, foram orientados a circular nas vias N1 e S1. ;O nosso conselho para quem realmente precise usar as faixas com alterações é ter calma e paciência;, disse.
Os ônibus que usavam a plataforma superior também tiveram a rotina alterada. Agora, os passageiros desembarcam no piso inferior. No total, 10 equipes do Detran permanecem na Rodoviária para orientar motoristas e controlar o tráfego, caso necessário. Ontem, não houve registros de acidentes, e o trânsito fluiu sem grandes problemas na volta para casa. Entretanto, a medida não agradou os comerciantes.
O proprietário de uma loja da plataforma superior queixou-se que as interdições atrapalham a chegada de clientes. ;Ficamos fechados este ano por causa de outra reforma. Tivemos um prejuízo enorme, e o meu medo é de que a situação volte a se repetir;, lamentou o comerciante, que preferiu não se identificar.
Transtornos
Os problemas da Rodoviária do Plano Piloto são perceptíveis. O desnível do teto da plataforma superior é visível, e os pedestres andam com pressa, temendo que a estrutura ceda. Os banheiros estão destruídos e as poucas cabines com vasos sanitários ainda têm divisórias. Os elevadores e as escadas rolantes não funcionam. O especialista em engenharia e diagnóstico do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) Rafael Martins ressaltou que o relatório divulgado pela Novacap enfatiza que a Rodoviária recebeu manutenção nos últimos 20 anos. No entanto, como a estrutura tem mais de 40, os problemas do passado se manifestam até hoje. ;Por muito tempo, o espaço foi totalmente negligenciado, e isso onera as atuais intervenções. Não tem como esconder esse custo, que uma hora ele aparece;, criticou.
O especialista destacou que as falhas da estrutura devem ser tratados de forma imediata. ;Todos esses problemas poderiam ter sido diluídos ao longo da história. Do ponto de vista da engenharia, essa manutenção não tem um aspecto corretivo, mas preventivo;, avaliou. Rafael ainda comentou que, além da questão das reformas, o governo precisa observar outras estratégias para o terminal, como a engenharia de tráfego e a dinâmica da cidade.