O general da reserva do Exército e ex-candidato ao Palácio do Buriti Paulo Chagas surpreendeu nas últimas eleições ao alcançar o 4; lugar, desbancando figuras tradicionais da política local, como Eliana Pedrosa (Pros). De olho em 2022, pessoas mais próximas o têm procurado, mas Chagas evita comentar o assunto. ;Não quero fazer carreira na política. A minha trajetória profissional, eu tenho. Estou disponível para ajudar e com disposição;, afirmou. Em entrevista ao programa CB.Poder ; parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília ; Paulo Chagas opinou ser difícil para o governador Ibaneis Rocha (MDB) atender a todas as promessas de campanha. ;Não faço promessa, cumpro missão. É impossível, em um mandato, um candidato eleito corrigir tudo o que está errado, mas tem muito mais coisa errada que pode ser corrigida. O importante é eleger prioridades;, defendeu. O militar deixou o PRP, partido pelo qual concorreu ao Buriti.
Como anda o clima entre os militares após as exonerações feitas pelo presidente?
Isso é natural. O presidente tem o poder de nomear e de demitir as pessoas. Isso tudo é circunstancial. De qualquer maneira, considero que, no ambiente palaciano, existe muita guerra de influência, muito ciúme. Pelas conversas que nós temos, existe muita ambição e vaidade. Isso não se coaduna muito com o modo de pensar e de agir dos militares e acredito que isso também tenha influenciado neste momento.
O presidente Bolsonaro anunciou a demissão do presidente do BNDES, Joaquim Levy, antes mesmo de ter uma conversa com ele. O senhor acha que esse estilo vai dar certo?
Eu não concordo e acho que não deve ser assim. O presidente ainda está se adaptando à nova função dele. Ele passou 30 anos como deputado, falando por ele mesmo. Nunca se submeteu ao politicamente correto para dizer as coisas, mas, como presidente, a coisa muda um pouco de figura, da forma de tratar, inclusive, as pessoas que ele convidou.
Dentro da hierarquia militar, não é complicado para um general bater continência para um capitão?
O capitão Bolsonaro, há 30 anos, é mais do que general do Exército na precedência militar, porque é deputado. A continência a ele é prestada desde o ano em que ele foi diplomado deputado. A continência é para o presidente da República e para a autoridade que ele representa. Esse é um princípio da hierarquia.
Há poucos meses, o senhor foi alvo de um polêmico inquérito de propagação de fake news. Como está esse episódio e qual desdobramento desde então?
O inquérito corre em sigilo de Justiça. A própria Polícia Federal, que fez as buscas na minha residência, não tem conhecimento. Fui intimado pelo delegado da Polícia Federal, e ele disse que não precisava responder a nenhuma pergunta, porque não tive acesso ao inquérito, nem ele. Mas eu respondi a quase todas as perguntas. Não só a duas, porque eu não sabia do que estava sendo acusado. Eles fizeram perguntas sobre quantas redes sociais eu tenho, quantas pessoas me seguem. Até a Polícia Federal chegar à minha casa eram 112 mil e, depois desse episódio, foram 128 mil.
O STF vai julgar a suposta parcialidade do ministro Sérgio Moro, no contexto de divulgação de conversas dele, enquanto juiz, com procuradores da Lava-Jato. O senhor acha que isso vai influenciar a decisão dos ministros e qual será a posição da população?
Isso o que aconteceu agora poderá vir a influenciar, mas não deveria, porque não é isso que eles estão julgando, mas poderá haver essa influência. Essas conversas foram obtidas ilegalmente. Só serão provas no dia em que forem consagradas como tal. Elas ainda foram obtidas de forma criminosa e ninguém sabe se o que está ali é verdade.
Se for verdade, na avaliação do senhor, o ministro Sérgio Moro cometeu alguma irregularidade ou excesso?
É normal não só o juiz dialogar com a acusação, mas, também, com a defesa, porque, se a ele falta algum dado, ele precisa dialogar. Tanto ele pode dialogar com a defesa, como com a acusação. Nós vemos, por exemplo, áudios de integrantes da suprema Corte tendo diálogos com pessoas acusadas e presas. Esse diálogo, me parece que é natural.
Politicamente, houve um abalo na imagem do ministro Sérgio Moro. O senhor concorda?
Concordo que houve uma tentativa de abalo, mas da maneira como ele se comportou diante do Senado, ele saiu fortalecido. Ele respondeu com serenidade. As pessoas que estavam contra estavam atabalhoadas, queriam destruí-lo. Mas ele respondeu com conhecimento, com firmeza, elegância e conhecimento de causa. Na minha opinião, ele saiu fortalecido. Vão tentar uma destruição dele, mas ele está preparado, sabe o que vai dizer. Estão querendo capitalizar em cima disso.
Como está a articulação política? O senhor teve um resultado surpreendente nas eleições. Para 2022, o senhor tem sido procurado?
Têm amigos meus falando sobre isso, mas eu não quero falar sobre isso, porque seria negar a minha atitude, que estou fazendo incursão na política. Não quero fazer carreira na política. Estou com 70 anos e fiz a minha carreira. Estou disponível e disposto a ajudar. No momento anterior, isso era muito convidativo, e as portas se abriram. O único partido que falou comigo foi o meu ex-partido, agora o Patriota.
Como o senhor avalia o governo Ibaneis Rocha?
Eu acho que ele vai ter dificuldade de atender a tudo o que disse na campanha. Um político consegue se colocar em duas posições. Como candidato, promete tudo o que todo mundo quer e, no meio disso tudo, está o que precisa ser feito. A missão é corrigir o que está errado. É impossível, em um mandato, um candidato eleito corrigir tudo o que está errado, mas tem muito mais coisa errada que pode ser corrigida. O importante é eleger prioridades.