Além do nome de artista (homônimo do Rei do Baião), ele também carrega o peso de ser conterrâneo de José Marcolino, paraibano autor do clássico Numa sala de reboco, uma das músicas mais pedidas nas festas. Mas nada disso virou um fardo. “Meu pai era repentista, então sempre tive esse sangue de músico. Quando eu era criança, fui acompanhando os eventos, gostando daquele clima e pedindo para aprender a tocar sanfona. Com 13 anos, ganhei meu primeiro acordeão e foi amor à primeira vista!”, lembra.
Ali começava um relacionamento tímido com o forró pé de serra, mas o menino ia crescendo e sentindo que a paixão ficava séria. “Fui vendo que era aquilo que gostava de fazer. Sempre que tinha uma oportunidade, tocava nas festas. Chegava lá nas casas de barro, às 19h, e ficava até o outro dia, porque a cultura nordestina é assim, cheia de vida e alegria”, diz. No fim da década de 1970, o rapaz de 23 anos veio para Brasília com o sonho de uma vida melhor, como muitos sertanejos. “Parei em Ceilândia, um lugar cheio de nordestino, então me senti em casa!”
Forró pé diferente
Em Brasília, Luiz começou trabalhando em obras, como pedreiro, até se estabelecer financeiramente. Mas, sempre que tinha um tempo de sossego, pegava a sanfona e transformava qualquer construção em festa. “O pessoal foi gostando e comentando que tinha um sanfoneiro novo na cidade, aí me chamavam para tocar nos eventos e, quando dei por mim, estava vivendo disso”, comenta. Com sua paixão, ele conquistou gente de todo o DF: “Porque o forró é diferente. A pessoa ouve aquele ritmo gostoso, começa a se balançar e, quando vê, está agarrada no cangote de alguém”, brinca.
O sucesso foi tanto que Luizão foi parar até na Europa por conta do talento. “Em 2007, uma autoridade do Brasil criou um projeto para levar uns músicos daqui para Lisboa e para São Tomé e Príncipe, na Guiné (África). Foi como o mestre Gonzaga disse certa vez: ‘Quando dei por mim, eu estava em outro mundo!’. Aquilo foi um aprendizado enorme, muito bacana, as pessoas interagindo com o forró, pedindo música e tudo”.
A maior alegria do sanfoneiro veio mais tarde, quando dividiu palco com um dos grandes nomes do ritmo no Brasil, Dominguinhos. “Abri um show do mestre, e isso me deixou feliz demais. Deu até um frio na barriga na hora! Além da questão artística, dessa satisfação como forrozeiro, também teve a questão pessoal, de o ter conhecido de perto e conversado com ele, que era muito humilde e até me parabenizou pela apresentação”, comemora.
Ritmo especial
Luizão explica o motivo de o forró pé de serra ser tão cativante. “É um ritmo especial, porque não abusa do tempero. É como um prato bem equilibrado, bom e que faz a gente se apaixonar. Quando eu vejo aquele toque do triângulo, um chapéu de couro e aquela roupa elegante de Lampião, meu olho brilha com isso tudo”, descreve. Para o músico, que se apresentou para milhares de pessoas, basta uma pessoa na plateia se divertindo com o som que está tudo certo. É difícil ouvir sem se emocionar.
“O forró é verdadeiro e traz muitas coisas boas. Quem ouve fica feliz, lembra da sua terra ou se transporta para um lugar simples e agradável. É um estilo musical muito original, bonito e que serve para gente de zero a 100 anos, porque a literatura das canções é totalmente respeitosa”, opina.
Neste mês de junho, o tocador de acordeão ri dizendo que está na época de “tirar o pé da lama”, porque quase não tem espaço na agenda de tanta festa que é chamado para tocar. Mas, nos outros meses, ele é dinâmico: se apresenta em casamentos, aniversários, eventos culturais e onde tiver um público querendo ouvir o xote. “Também faço outros tipos de música, como MPB e sertanejo. Até funk toquei com a sanfona. Mas a gente sabe que o nosso forró é diferente!”.