O sucesso da cirurgia de separação das gêmeas siamesas Lis e Mel rendeu uma homenagem especial à equipe multidisciplinar que atuou direta e indiretamente no procedimento. Na tarde de ontem, 35 profissionais de saúde estiveram no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal para receber uma moção de louvor pelo trabalho realizado desde a gestação das meninas até o dia em que elas receberam alta hospitalar (confira a Linha do tempo). A solenidade resultou de proposta do líder do governo na Casa, o distrital Cláudio Abrantes (PDT).
As queridinhas da equipe também participaram da cerimônia. Durante alguns minutos, os pais delas, Camilla Vieira Neves, 25 anos, e Rodrigo Martins Aragão, 30, permaneceram com as meninas na tribuna. Vestidas com touca vermelha, casaco azul e calça jeans, as pequenas despertaram a afeição dos presentes. As irmãs estão saudáveis e seguem sob acompanhamento médico ; antes da homenagem, elas passaram por uma consulta de rotina.
Apesar de estarem sob os holofotes, o foco da homenagem foi a equipe de mais de 50 profissionais que atuaram direta e indiretamente no procedimento cirúrgico da separação. Coordenador dos trabalhos, o neurocirurgião Benicio Oton de Lima contou ao Correio que, agora, resta a sensação de dever cumprido. ;Eu estava sempre preocupado. O tempo inteiro. Agora, depois que tudo acabou, vamos fazer festa. É lógico que há coisas para fazer ainda, mas não mais com a angústia do primeiro mês;, revelou. ;Não há o risco de haver lesão mais grave. É muito pouco provável isso acontecer. O que se espera, basicamente, é que a cicatrização fique boa, mas a estrada é mais suave.;
Durante discurso no plenário da Câmara Legislativa, Benicio destacou que o procedimento envolveu trabalhos que não poderiam ser feitos por uma pessoa só (leia Para saber mais). ;Foi uma separação que veio para unir. Não recebi nenhum ;não;. Todas as pessoas me davam algo a mais, até mesmo por telefone, sem que vissem as meninas. A união foi muito grande e a história delas amoleceu o coração de muita gente;, recordou-se o especialista.
Ainda radiante diante dos resultados positivos, a mãe das gêmeas considerou a surpresa positiva para os profissionais. ;Foi uma homenagem mais que merecida. Só tenho a agradecer aos meus anjos. Foram muito importantes neste momento. Deus fez tudo planejado para ser perfeito;, ressaltou. Ela acrescentou que as meninas estão se desenvolvendo bem e que a novidade são os primeiros movimentos antes do engatinhar.
Excelência
Conduzida pelo deputado Cláudio Abrantes, a homenagem teve como foco os mais de 50 profissionais envolvidos nos trabalhos. O distrital abriu a cerimônia dizendo estar emocionado com o sucesso da cirurgia e comentou que o evento dá destaque a um ;acontecimento para Brasília;. ;A Câmara não poderia deixar de fazer esse reconhecimento aos profissionais. A despeito da questão política, é um reconhecimento a eles, que se dedicaram, se envolveram e foram além das atribuições deles;, ressaltou. ;Não é uma homenagem de um parlamentar, é do Poder Legislativo reconhecendo a excelência desses profissionais.;
Durante a solenidade, houve a exibição de um teaser do minidocumentário Vidas ligadas ; Um desafio para a ciência, produzido pela Caravela Filmes, que trata da história das meninas e da cirurgia. O filme está em fase de finalização, sem previsão para exibição pública. ;Houve recepção, união e confiança (por parte da família e da equipe médica). Isso fez com que o documentário pudesse ser completo, desde a gestação, passando pelo nascimento, pelos chamados ;mesversários;, pela cirurgia na íntegra, até a alta delas;, detalhou a diretora e roteirista da película, a jornalista Cléa Paixão.
O evento terminou com a entrega de certificados de menções de louvor a 35 profissionais, em nome dos trabalhos prestados, e ao HCB.
Para saber mais
Caso raro na medicina
O caso das irmãs Lis e Mel foi descoberto na 10; semana de gestação da mãe, Camilla Vieira Neves. Após nascerem, as gêmeas craniópagas ; unidas pelo crânio ; passaram 10 meses ligadas pela testa. A cirurgia de separação ocorreu em um procedimento dividido em 36 etapas, que começou às 6h30 de 27 de abril e terminou às 2h30 do dia seguinte.
Por não haver veias ou artérias ligando o cérebro das meninas, a operação tornou-se viável, mas exigiu extremo cuidado da equipe de profissionais. O procedimento, considerado raro na literatura médica, foi o primeiro desse tipo efetuado no Distrito Federal e o terceiro do país.
"Não há o risco de haver lesão mais grave. É muito pouco provável isso acontecer. O que se espera, basicamente, é que a cicatrização fique boa, mas a estrada é mais suave.;
Benicio Oton de Lima, neurocirurgião
Linha do tempo
Datas marcantes na trajetória das gêmeas Lis e Mel:
2018
1; de junho
As gêmeas siamesas craniópagas (ligadas pelo crânio) Lis e Mel nascem no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib)
2019
27 e 28 de abril
As irmãs passam pela cirurgia de separação no Hospital da Criança de Brasília (HCB) José de Alencar. O procedimento durou mais de 20 horas e contou com a colaboração de mais de 50 profissionais da saúde
29 de abril
Lis abre o olho pela primeira vez depois da operação e deixa de respirar por aparelhos
2 de maio
Mel acorda e também tem os aparelhos de respiração mecânica desligados
3 de maio
Lis deixa de ser alimentada por sonda e come papinha pela primeira vez
21 de maio
Mel é a primeira a deixar a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HCB
27 de maio
Lis também é transferida para um dos quartos
1; de junho
As irmãs completam 1 ano e ganham uma festa no HCB
3 de junho
As gêmeas recebem alta e deixam o hospital acompanhadas dos pais, Camila e Rodrigo