A Polícia Civil de Goiás investiga um suposto esquema criminoso envolvendo o vereador de Planaltina de Goiás Aroldo Alves do Nascimento e o secretário municipal de Transportes, José Álvaro Benevides. Eles teriam recebido dinheiro de uma funerária que opera sem licitação no cemitério da cidade goiana distante 60km de Brasília. Ontem, policiais civis cumpriram mandados de busca e apreensão nas casas e nos gabinetes dos políticos.
A Delegacia de Planaltina de Goiás começou a apurar o caso a partir de uma denúncia anônima. Durante a apuração, agentes identificaram que o suposto esquema existia desde 2017, quando o vereador Aroldo assumiu a função pública. ;A funerária atua no cemitério há mais de 10 anos. Eles cobram R$ 900 pela abertura da cova e a estrutura de tijolos. Os familiares que querem adquirir o espaço para enterrar uma pessoa deve pagar o valor. No entanto, a cova é feita pela Prefeitura. Ainda, a empresa não tem licitação para realizar a parte da estruturação;, detalha o delegado-chefe da unidade, Cristiomário Medeiros.
Documentos apreendidos na funerária na segunda-feira indicam a possível participação do vereador. Investigadores encontraram anotações de uma servidora da Prefeitura que trabalha no cemitério. Ela anotava os valores os quais eram entregues ao vereador. ;As anotações mostram os repasses que ele recebia, de valores entre R$ 150 e R$ 300. Apesar de fazer a entrega do dinheiro, tudo indica que esta servidora não sabia da origem desses valores ou do esquema;, explica Cristiomário. A confirmação de como tudo funcionava poderá ocorrer a partir do material coletado na casa dos suspeitos. ;A investigação aponta que cerca de um terço do valor cobrado das famílias é repassado ao vereador e ao secretário. Nós recolhemos documentos pessoais dos suspeitos, mas ainda não os analisamos. Isso começa na segunda-feira;, adianta o delegado.
Contradição
Desde o início da semana, agentes coletam os depoimentos do dono da funerária, do vereador Aroldo Alves do Nascimento e da servidora da Prefeitura. As versões apresentadas serão comparadas com o material apreendido durante a operação. Ao ser levado para a delegacia na quinta-feira, o secretário José Álvaro disse aos investigadores que só falaria em juízo. ;A servidora foi a primeira a dar esclarecimentos, ainda na segunda-feira, após coletarmos os documentos na funerária. Questionamos o motivo de ela entregar o dinheiro ao vereador, no entanto, ela estava alheia. Mas garantiu que, em todas as vezes, passou os valores diretamente para o Aroldo;, detalha Cristiomário.
De acordo com o investigador, o vereador negou qualquer envolvimento no esquema. ;Ao perguntarmos sobre os valores recebidos, Aroldo alegou que o dinheiro seria referente a uma obra na funerária e que o valor era referente ao almoço dos operários, o qual ele havia tirado do próprio bolso. Em tese, o vereador era responsável apenas pelo pagamento dos salários, e o dono da empresa, pela alimentação;, avalia. ;Essa obra seria de um muro da funerária, mas ainda não há informações que comprovem esse serviço. Isso será analisado pela nossa equipe. Outra coisa que não bate é o fato de o vereador negar que recebeu o dinheiro direto da servidora. Ele atesta que a quantia era, na verdade, encaminhada aos trabalhadores;, acrescenta Cristiomário.
Com a análise dos documentos, os agentes examinarão se há necessidade de realizar novas oitivas. ;Como há contradição nos depoimentos, vamos ver se algum material pode elucidar a situação. Caso contrário, pode ser necessária uma acareação entre a servidora e o vereador;, finaliza o delegado.
A reportagem tentou contato com a Câmara de Vereadores de Planaltina de Goiás, mas ninguém atendeu as ligações. Por e-mail, a Prefeitura informou que ainda não há um posicionamento quanto às investigações.