Jornal Correio Braziliense

Cidades

Outra morte de operário

Pelo segundo dia consecutivo, trabalhador da construção civil não resiste a incidente em canteiro de obras. Desta vez, vítima de 44 anos foi atingida por peça de metal durante reforma da cobertura do CasaPark



Em menos de 24 horas, dois operários morreram em canteiros de obras no Distrito Federal. Na madrugada de ontem, Wesley Francisco Aires, 44 anos, foi atingido por uma peça de metal, enquanto trabalhava em uma reforma na cobertura do CasaPark e não resistiu. Na quarta-feira, dois funcionários caíram do andaime de um prédio de Águas Claras. Juscélio Oliveira Dantas, 54, não resistiu à queda de cerca de 15m (leia abaixo). Em 2019, o DF registrou quatro óbitos por acidente de trabalho na construção civil. É o número do mesmo período do ano passado.

As causas serão analisadas pela Polícia Civil. No CasaPark, a área do segundo piso do shopping ficou isolada após o incidente. De acordo com policiais da 8; Delegacia de Polícia (SIA), responsável pela investigação, uma testemunha, que também trabalhava na obra, informou que o material erguido por um guindaste tocou uma peça de metal, que perdeu sustentação e caiu sobre Wesley. Ele tentou correr, mas a barra atingiu a cabeça dele.

O CasaPark informou que ;lamenta o ocorrido e solidariza-se com a família da vítima; e que ;todos os operários, incluindo a vítima, utilizavam os equipamentos de segurança, conforme estabelecido pela lei;. Sobre o horário da obra, foi detalhado que o trabalho dos funcionários ocorre também no período noturno devido ao funcionamento do shopping. Os serviços são executados pelas empresas Gradebras e Empremon, mas o gerenciamento fica sob responsabilidade da Opptima.

Dona do guindaste, a Empemon Equipamentos informou que vai ;se pronunciar apenas após acesso ao laudo pericial e já está colaborando com os órgãos competentes para a elucidação do ocorrido;. A Opptima ressaltou que, com o shopping e as outras duas empresas, ;se coloca à disposição para esclarecimentos e ainda está dando apoio às investigações da Polícia Civil que estão ocorrendo na localidade.;

Até o fechamento desta edição, o corpo de Wesley ainda não havia sido liberado pelo Instituto de Medicina Legal (IML). ;Estamos todos sem acreditar. A esposa não consegue parar de chorar e não sabemos como os filhos dele vão lidar, eram muito apegados ao pai. Ele era um cara muito bom, trabalhador e, recentemente, tinha perdido o emprego em uma casa de festas e estava fazendo bicos em obras;, contou Laianny Costa, prima da mulher de Wesley. Ele deixa a mulher e dois filhos.

Punições
Auditores fiscais do Ministério Público do Trabalho (MPT-10), acompanhados por representantes do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Construção e do Mobiliário de Brasília (Sticombe), compareceram ontem aos dois locais dos acidentes para realizar a perícia e fiscalizar as condições de trabalho. No entanto, segundo o secretário-geral do Sticombe, Milton Alves, a entrada foi barrada em ambos os casos, o que representa descumprimento à lei. ;As empresas serão punidas por desobedecerem a ordem legal de um funcionário público;, disse. ;Mesmo sem essa perícia própria, a apuração e as provas coletadas pela polícia garantem uma avaliação segura dos casos. Apenas teremos de esperar mais tempo para obter respostas.;

O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), entidade representativa do segmento empresarial, informou que, nos canteiros de obras, a segurança no trabalho é indispensável. ;Nesse sentido, a atuação do sindicato acontece de forma cooperativa e instrutiva, junto às empresas associadas, não lhe cabendo o papel de fiscalizar ou punir, uma vez que não possui poder de polícia;, explicou.

Além das quatro mortes por acidentes de trabalho na área de construção civil, 15 operários sofreram lesões neste ano, segundo o Sticombe. Em 2018, houve sete mortes e 22 feridos.

O Serviço Social da Indústria da Construção Civil do DF (Seconci/DF) ; associação civil criada pelos sindicatos dos trabalhadores e dos empresários do setor ; dispõe de uma equipe técnica especializada que promove testes admissionais, treinamentos e ações preventivas. No entanto, apenas 30% das empresas da área utilizam esses serviços. ;Esta é uma das áreas que apresenta maior risco aos trabalhadores. Por isso, o cuidado quanto às questões de segurança é imprescindível;, alertou a gerente de segurança do trabalho do Seconci/DF, Juliana Moreira de Oliveira. Qualquer empresa da construção civil pode se associar ao Seconci e obter treinamentos gratuitos.

; Colaborou Alan Rios





A vítima
Wesley Francisco Aires

; Tinha 44 anos
; Era casado e deixou dois filhos, um menino de 9 e uma menina de 6 anos
; Estava desempregado e, para sustentar a família, fazia bicos em obras




"Estamos todos sem acreditar. A esposa não consegue parar de chorar e não sabemos como os filhos dele vão lidar, eram muito apegados ao pai. Ele era um cara muito bom, trabalhador e, recentemente, tinha perdido o emprego em uma casa de festas e estava fazendo bicos em obras;
Laianny Costa, prima da mulher de Wesley




À espera de perícia
A análise pericial que indicará o que ocasionou a queda de um andaime em um prédio em construção, em Águas Claras, deve ficar pronta em um mês. Juscélio Oliveira Dantas, 54, morreu ao despencar do 5; andar. O operário era contratado da empresa e trabalhava como pedreiro. Ele deixou três filhos e a mulher. O colega de trabalho de Juscélio que estava no mesmo andaime sobreviveu. Alcides Ferreira, 28, segurou-se na estrutura do 4; andar. Ele foi levado para o Hospital de Base com suspeita de fratura no braço. Recebeu alta no mesmo dia e deve prestar depoimento à polícia.



7
Total de operários mortos na construção civil no ano passado