A dona do anúncio era Luseni do Espírito Santo, hoje 64. ;Eu não tinha muita vida social, minha vida era trabalho e casa, só. Era difícil conhecer alguém assim. Então, me veio essa ideia;, conta ela, que trabalhava como gerente financeira em uma empresa. Mas o atual companheiro, então gerente de recursos humanos, não foi o único pretendente. A aposentada recusou 13 cartas que chegaram ao seu endereço, algumas oferecendo ótimas condições financeiras. ;Teve até um capitão do exército, bem de vida, que queria uma companheira para ficar em casa, mas eu não ia largar meu emprego para isso. Aí eu li a carta do Edílson e ela me chamou a atenção. Não sei se foi pela letra, que era bem bonita, mas senti que era ele que eu queria.; O homem brinca: ;Eu era mais esperto, por isso ela não escolheu os outros;.
Os dois começaram a conversar por correspondências, muito formais e respeitosos. Falavam sobre os trabalhos de cada um, o que gostavam de fazer e o que pensavam sobre a vida. Ela começou a sentir mais liberdade nos diálogos e eles deram um passo a mais semanas depois: começaram a se telefonar. O primeiro encontro só veio um mês após o anúncio, mas se engana quem acha que os dois tiveram paciência para esperar. ;Não me aguentei e mandei um funcionário meu entregar uma carta pessoalmente para ela. Vai que era uma senhora de 70 anos se passando por uma novinha? Mas aí ele voltou e disse ;pode confiar!’;, lembra o aposentado. Edílson diz até que correu muito risco, pois seu enviado poderia ter se apaixonado pela beleza que viu.
À primeira vista
Como nas histórias de amor da literatura clássica, o romance dos dois também teve ;tragédias;. No primeiro encontro, planejado durante muito tempo, nada saiu como o previsto. O pretendente morava em Valparaíso e ela, no Guará, cidade desconhecida para ele. ;Era um domingo e eu não tinha carro, então peguei um ônibus, desci na parada errada e fiquei totalmente perdido lá;, conta. Em uma época em que o celular era artigo de luxo, objeto exclusivo de estrangeiros, ele não conseguiu comunicar o atraso. Luseni achou que o relacionamento teria um fim antes mesmo do começo.
;A gente tinha marcado de ele ir lá em casa às 16h, mas demorou muito e aquilo foi me desanimando demais. Fiquei tão decepcionada que me desarrumei toda e fui para o quarto. Coloquei uma camisola e fiquei lá, triste, toda bagunçada;, lembra. Minutos depois de se deitar, a campainha dela tocou. ;Era o Edílson! Eu o vi pela primeira vez e o achei tão lindo. Mas eu estava lá daquele jeito, desleixada.; A roupa de dormir não assustou o homem, mas ele também não estava pronto para o que viu. ;Cheguei à casa dela e estava a família toda reunida. Os pais, irmãos, amigos dos parentes... todo mundo. Parecia que tinham preparado uma recepção para eu entrar e não escapar mais de lá;, conta.
O casal manteve a calma nos outros encontros. Quando se viam, andavam de mãos dadas, conversavam e se abraçavam quando queriam demonstrar que o amor estava crescendo. Antes do primeiro beijo, ele foi até o futuro sogro e pediu Luseni em namoro. ;Aí, uns três ou quatro meses depois, quando menos esperava, apareceu o Edílson lá em casa de mala e cuia;, lembra ela. O companheiro se defende: ;Era um sofrimento danado sair de Valparaíso para o Guará para me encontrar com ela, então, não era melhor a gente parar de ser besta e morar juntos logo? Fiz minha trouxinha de roupas e fui mesmo;.
Paciência e respeito
Passaram-se 31 anos desde o anúncio e a mudança. Hoje, os dois dão aula de como manter o amor mesmo depois de décadas de convivência. Com um filho de 25 anos, o casal se divide entre uma chácara no interior de Goiás e a casa em Samambaia. Brincando um com o outro quase o tempo todo, eles só ficam sérios quando explicam o motivo de a relação ter dado certo. ;Eu sempre a respeitei e nunca a tratei mal. Relacionamento não tem receita, mas isso fez bem para a gente. Agora, eu me considero um cara rico, mesmo com pouco dinheiro;, declara ele. Luseni completa: ;Quando escrevi o anúncio, eu queria alguém para me amar. E encontrei!”.