Com os impactos ; tanto positivos quanto negativos ; da comunicação instantânea e das mídias sociais fora do mundo cibernético, as questões que envolvem a privacidade na internet e os crimes virtuais voltaram à baila. Especialistas recomendam que os cuidados com o que se divulga ou se replica façam parte da rotina dos usuários e deixam um alerta: nunca é possível saber das intenções de quem está do outro lado da tela.
Professora de português e blogueira, Catarina Saraiva do Amaral, 25 anos, passou por uma situação em que se sentiu insegura. Ela foi perseguida por um jovem em uma mídia social. Ele acompanhava a rotina da moradora de Vicente Pires e até apareceu em um evento no qual ela estava com os amigos. ;Ele começou a me mandar várias coisas, como mensagens e vídeos. Precisei bloqueá-lo. Mas ele criava contas falsas, com a própria foto para que eu soubesse que era ele, e me adicionava. Foi muito abusivo. Até que aconteceu de ele ir atrás de mim;, relata.
Com medo de novas investidas, ela passou a evitar o compartilhamento de informações em excesso, como a localização, na internet. Fora isso, a professora também teve fotos pessoais usadas sem permissão para fins de publicidade. ;Os riscos são grandes. Quando o menino apareceu onde eu estava, fiquei meganervosa. Então, é bem arriscado. Não previ que pudesse virar isso. Comecei a entender que existe um risco quando estamos muito expostos;, pondera Catarina.
Estar atento ao conteúdo compartilhado é postura crucial na hora de usar mídias sociais e aplicativos de troca de mensagens. ;Nas redes, o principal é não expor a privacidade. A dica vale em vários sentidos: de informações financeiras a dados como endereço e nomes de familiares. Fique sempre alerta, porque você não sabe quem está do outro lado;, ressalta Leonardo Lazarte, especialista em internet e sociedade e professor do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília (UnB).
Além disso, há problemas com o acesso a informações pessoais em celulares e computadores aos quais falta atenção. Ações de invasão podem resultar em crimes como extorsão. ;Muitas pessoas, ingenuamente, dizem que não têm nada a esconder, que não fazem nada errado, mas não sabem quem está com sua informação. Da outra parte, alguém pode estar com más intenções;, destaca.
O professor ressalta que a exposição pessoal é potencializada nas mídias sociais. Leonardo afirma que sites como Facebook, Instagram e Twitter, além de plataformas como o WhatsApp, são bastante usados para ataques contra a integridade. ;A situação pode ir desde conversas até fotos, (conteúdos) que não deveriam estar expostos publicamente. Algumas redes até têm um elenco grande de ferramentas para detectar situações problemáticas e agir rapidamente. Mas, mesmo assim, não são perfeitas;, pontua. ;Você pode manchar a imagem de uma pessoa falando dela em uma rede social ou no WhatsApp, muito usado nos últimos anos para divulgar informações falsas.;
Investigações
No Distrito Federal, desde a criação da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), em 2017, até abril último, a Polícia Civil deu apoio a investigações de 1.051 casos. A abertura da unidade surgiu da necessidade de um departamento especializado nessa área e de uma lei federal. Segundo o delegado Giancarlos Zuliani, chefe da unidade, crimes nessa área costumam ter mais obstáculos. ;Toda a informação que nos leva a identificar a autoria está nas mãos de empresas. Precisamos que elas nos mandem os dados. Às vezes, elas estão no exterior.;
Zuliani acrescenta serem comuns casos de extorsão por compartilhamento de imagens íntimas com pessoas que se passam por outras. Os autores do crime são, geralmente, de outros países. ;O criminoso cria um perfil com imagens de alguém muito atraente e começa a mandar fotos íntimas de terceiros. A vítima acredita que o remetente é daqui (do Brasil) e também manda fotos. A partir daí, começa a extorsão;, conta.
Os delitos mais comuns registrados pela DRCC são crimes contra a honra, uso de perfil falso, invasão de dispositivo informático e estelionato pela internet. Tomar medidas de segurança, portanto, vale para quem guarda imagens ou vídeos íntimos ou comprometedores no celular.
Uma vez que o aparelho é invadido por algum cracker ; criminosos que quebram sistemas de segurança para obter informações de terceiros ;, é possível que os dados disponíveis sejam usados para causar prejuízos ao responsável pelo conteúdo. ;O recomendável é não fazer nudes. Às vezes, a relação termina e essas imagens vazam. Até na assistência técnica;, aconselha Zuliani.
A especialista em mídias sociais Danuta Ferreira, 35, segue as recomendações desde antes de trabalhar na área. Com o uso diário das redes, ela observa muitos casos de informações pessoais divulgadas sem preocupação por conhecidos. ;Evito postar coisas assim. Principalmente porque minhas mídias são abertas;, diz. Danuta também pensa duas vezes antes de compartilhar conteúdos por aplicativos de mensagens instantâneas.
Ela dá dicas aos clientes, especialmente em relação à publicação de fotos com roupas íntimas ou de banho. ;É possível alguém modificar a foto e deixar a pessoa totalmente nua. Também digo para tomarem cuidado com o compartilhamento de localização e com a opinião. Um amigo teve um vídeo com a namorada vazado na internet após roubarem o celular dele;, pontua Danuta.
O que diz a lei
Até cinco anos de cadeia
A Lei n; 13.718/2018 prevê pena de um a cinco anos para quem oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza à prática. A regra é a mesma para cenas de sexo, nudez ou pornografia sem que haja consentimento da vítima. A pena tem acréscimo de um a dois terços quando é praticada por quem tenha ou teve relação íntima de afeto com a vítima ou se o material foi vazado com fins de vingança ou humilhação.