Já toquei no tema da flagrante ilegalidade e do obscurantismo da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF em sua pretensão de desviar o dinheiro do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para fazer a reforma do Teatro Nacional. Mas, hoje, eu quero falar de algo mais agradável: os projetos que o FAC proporciona para a cidade. Vamos começar pelo do Coletivo Transverso, grupo de intervenções urbanas criado em 2011. Animado pelos conceitos de pertencimento e reinvenção, o grupo vai transformar a W3 Sul em um corredor artístico.
O Transverso criou um aplicativo para promover o encontro entre artistas, moradores e comerciantes daquela via tão importante na história de Brasília. A ideia é revitalizar e humanizar as paredes com grafites. No entanto, é possível avaliar os resultados do projeto com as intervenções de oito artistas entre a 706 e a 709 Sul. O Coletivo vai organizar 12 visitas guiadas para apreciar as obras públicas caminhando.
Durante três semanas, de 18 de abril a 5 de maio, Brasília foi envolvida pela dança brasiliense, nacional e internacional, com o Movimento Internacional de Dança (MID). Foram 55 apresentações, com a participação de 182 profissionais de 11 países em espetáculos que se espalharam por seis salas da cidade. Das batalhas de break até a dança contemporânea, foi uma festa plenamente abraçada pelo público, que lotou a maioria dos espetáculos.
A proposta era precisamente proporcionar a convergência de criadores e de públicos diversos, segundo o coordenador do projeto, Sérgio Barcelos. Brasília ganhou espaço especial no evento. Em palco aberto, diversos grupos, não apenas do Plano Piloto, mas também da periferia, tiveram 10 minutos para mostrar os seus trabalhos.
No Museu da República, é possível apreciar a belíssima exposição de fotos do projeto Ato, de Mila Petrillo, sobre o teatro e a dança nas décadas de 1980 e 1990. Ela publicou um catálogo e digitalizou 20 mil fotos, que ficarão disponíveis para qualquer cidadão.
Outro projeto interessante, o Prêmio Vera Brant, que neste ano escolheu 12 artistas jovens para um projeto de residência. Mais do que nas obras, os curadores se concentraram no processo de criação.
Ao lado dos jovens, poderíamos citar, também, o primeiro DVD de Dona Gracinha da Sanfona, gravado aos 74 anos. Talvez ela nunca pudesse realizar esse sonho. Ou, então, Vera Verônika, de Ceilândia, a primeira rapper de Brasília, que celebrou os 25 anos de carreira com um DVD. Todos os projetos citados tiveram o apoio do FAC. É a cultura que confere dignidade a Brasília, e não os políticos ou os burocratas (mesmo que sejam da cultura).
Pedro Sangeon, colaborador do Correio, criador do Gurulino, participa do projeto do Coletivo Transverso, na W3 Sul. Ele pintou o Gurulino flechado como se fosse um São Sebastião transpassado, mas com a inscrição tatuada no braço: ;A arte nunca morre;. É um aviso: ser inimigo da cultura é batalha perdida, é uma desinteligência fadada ao fracasso.