Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crônica da Cidade

Sitiados pelo Aedes

Em 2014, durante a Copa do Mundo de Futebol no Brasil, peguei dengue. Não saberia dizer precisamente onde fui picado pelo Aedes Aegypti, mas desconfio que teria sido nas investidas em terrenos baldios do condomínio em que mora para apanhar mangas. Cresci em uma casa que era quase uma chácara com uma infinidade de fruteiras: mangueiras, jambeiros, cajueiros, pitangueiras e abacateiros.

Sempre gostei de apanhar frutas nas árvores. Além disso, gostava de errar pelo cerrado. Mas, depois que peguei dengue, nunca mais enveredei pelos terrenos baldios. Lia reportagens com a informação de que o período da doença era de, no máximo, uma semana. No entanto, constatei que essa era uma meia-verdade.

De repente, acordei com a cabeça pesada, as articulações doloridas, as pernas pesando toneladas e um gosto de chumbo na boca. Meu pai era pastor presbiteriano, fui criado dentro da ética protestante do trabalho. Resisti. Embora com mal-estar, dificuldade de locomoção e de articulação do pensamento, continuei a trabalhar normalmente.

No quinto dia de incômodo, concordei em ir até um posto, fiz o exame e foi confirmada a dengue. Permaneci em casa por mais três dias, mas a recuperação não se deu como dizem os manuais. Sim, porque escrevo todos os dias e preciso estar com a energia em alta.

E, neste sentido, só me recuperei plenamente cerca de um ano depois da incidência da doença. Alertei um colega de redação que tinha pego a dengue e ele me disse que os níveis de alguns índices do exame de sangue só voltaram à normalidade também após um ano. Claro que cada um reage de uma maneira e isso não pode ter generalizado. Mas existem também as outras doenças associadas ao Aedes.

É alarmante a escalada de dengue no DF. Foram 19.812 notificações entre janeiro e 11 de maio, número 12 vezes maior do que no mesmo período do ano passado, que registrou 1.676 casos. O governo alega que, neste ano, o vírus dengue do tipo 2 é mais agressivo. A explicação não convence.

Uma colega da redação lembra que, nos tempos em que morava no interior de Minas, a sua casa recebia a visita de agentes que tomavam todas as providências de prevenção, fiscalização, orientação e educação. O galpão que fabrica o ;fumacê; com inseticidas para combater o Aedes estava em situação irregular e foi interditado.

Não adianta culpar o governo anterior ou esperar pelo fim das chuvas. O que, falta, na verdade, é uma política pública de saúde para a dengue no DF. Por isso, ela atingiu o estágio de epidemia.