A falta de tempo, a distância e a correria do dia a dia são fatores que podem limitar a frequência com que os brasilienses visitem esses espaços. Mas esse não é o caso de Antônio Rodrigues, 71 anos, que mora há aproximadamente 28km de distância do Parque da Cidade Sarah Kubitschek e não deixa de frequentar o local diariamente.
;Sabe quando a gente se apega ao local?; Essa é a relação do aposentado com o Parque da Cidade. Desde 1978, Antônio utiliza o espaço para fazer exercícios físicos. Todos os dias, ele faz o trajeto entre Samambaia e o Plano Piloto. ;Venho de ônibus, e gasto em torno de uma hora para chegar aqui, mas é gratificante;, ressalta.
Atleta de meia maratona, ele chega ao parque às 15h e fica até as 19h. A rotina de exercício se resume em duas horas de corrida e 4km de caminhada, além de usar a academia comunitária. ;Eu utilizo o espaço para treinar. Como participo de algumas corridas, o local é uma ótima opção para me preparar;, destaca.
Nem o calor provocado pelo sol desanima o aposentado. ;Eu amo o sol. A gente fica mais à vontade, tem mais disposição para fazer os exercícios.; Apesar de não usar protetor solar, Antônio garante que nunca teve insolação. ;Não uso nada disso. São muitos anos, a pele já está acostumada.;
A poucos metros do quiosque do atleta, os estudantes Mateus Gomes, 18, e Júlia Leite, 19, aproveitam o sol da capital para praticar vôlei de praia. ;Apesar de Brasília não ter praia, usamos o parque para praticar a modalidade;. Há três anos no esporte, Júlia encontrou um meio para desestressar das atividades do dia a dia. ;É muito difícil conciliar a faculdade com a vida de atleta, então vir para cá é gratificante, pois consigo relaxar;, conta. Além do parque, Júlia gosta de frequentar o clube e a Ermida Dom Bosco.
Apesar de treinar há apenas um mês, Mateus está decidido e quer seguir profissionalmente com o vôlei. ;O esporte faz parte de mim, e treinar no parque é prazeroso. Nem o sol de Brasília nos atrapalha;, afirma. Morador de Arniqueiras, o estudante ainda frequenta o Parque Ecológico de Águas Claras para fazer exercícios.
Qualidade de vida
O professor da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB) Raimundo Tadeu Martins destaca a importância de fazer atividades nos espaços públicos e ao ar livre. ;Além da qualidade de vida, o indivíduo consegue aproveitar mais o ambiente, o oxigênio circula melhor, fora o contato com a natureza. O exercício é um remédio;, ressalta.
Martins destaca, ainda, que é fundamental a presença de um profissional para a execução das atividades. ;Muitas pessoas fazem exercícios de maneira errada, sem orientação e acabam se machucando. Então, é fundamental a pessoa procurar um profissional da área;, destaca.
O especialista ressalta que aproveitar espaços públicos desenvolve a mente das crianças. ;É importante que a criança tenha oportunidade de sair de casa e brincar nos parques e quadras. A criança precisa explorar o que tem ao redor, e sair mais dos aparelhos eletrônicos.;
Para evitar problemas futuros, o especialista recomenda o uso de roupas leves, não fazer exercícios entre 11h e 15h, usar filtro solar, boné, beber bastante água e procurar orientação de um profissional.
Todo sábado, a assistente social Dulce Medeiros, 54 anos, reserva um espaço na agenda para ir ao Parque Olhos D;Água, na Asa Norte. Apreciar a natureza, tomar água de coco, praticar ioga e se bronzear estão entre as atividades que desenvolve no local. ;O parque oferece uma diversidade de atrações. As mães passeiam com os filhos, outras estendem um pano no chão e brincam com os bebês, então, há muitas possibilidades de aproveitar o parque.;
Para Dulce, não há tempo ruim para fazer os exercícios. Mesmo com chuva, ela vai ao parque para correr. ;Venho do mesmo jeito, o importante é não ficar parado;, diz. Fora o parque, Dulce pedala no Eixão e frequenta alguns clubes da cidade.
Criatividade
Brincar ao ar livre e ter contato com a natureza estimulam a criatividade. A partir de galhos, brinquedos são criados e reinventados. A folha que vira um barquinho e a caixa de papelão, escorregador no morrinho. Levar a filha para brincar no parque é indispensável para José Antônio Oliveira de Freitas, 40 anos.
Ao menos uma vez por semana, o professor universitário, que mora em frente ao Parque
Olhos D;Água, busca levar a filha Sofia Oliveira, 4 anos, para brincar ao ar livre com as amiguinhas do prédio. ;É importante para que elas sejam crianças de verdade. Possam correr, brincar, interagir com a natureza. Estão muito no celular e na tevê o tempo inteiro, então, esse tipo de atividade é importante até como exercício físico. Por mais que seja só uma brincadeira, elas estão se exercitando, correndo;, justifica.
Morar em frente à natureza é reviver a infância para José Antônio, que cresceu em um sítio, brincando ao ar. Além de aliviar o estresse do dia a dia durante as caminhadas, a satisfação do professor está em ver o sorriso da filha, enquanto brinca de escorregar em um pequeno morro em cima de caixas de papelão com as colegas. ;Meu prazer de vir aqui é poder ver a alegria dela, pulando e sorrindo com essa interação com outras crianças.;
Os amigos Nathália da Rosa Lima, 17, e Vinícius Barros Nunes, 16, não só praticam atividades de lazer ao ar livre, mas vão ao parque para estudar também. ;O clima é melhor, o trabalho rende mais porque nos distraímos menos com celular ou com a televisão. Hoje em dia, ficamos muito tensos, o tempo todo na internet, não paramos para nada. Então, é bom para relaxar;, afirma a estudante, que mora próximo ao Parque Olhos D;Água e cresceu brincando no local.
Vinícius mora em Sobradinho, mas, como estuda próximo à reserva, é um frequentador assíduo do parque. ;Venho estudar, fazer piquenique e tomar um pouco sol. Quando estamos sobrecarregados com a escola, a gente vem aqui relaxar. Amo ter esse espaço. O clima na cidade é muito seco, quente. Aqui, com a natureza, é mais fresco, o ar é melhor;, conta o estudante, que afirma sentir falta de contato com a natureza.
*Estagiários sob supervisão de Igor Silveira