A direção do Hospital Municipal de Paracatu pediu à Polícia Civil local que o responsável pelo massacre em uma igreja evangélica do município mineiro fosse transferido para outra unidade de saúde da cidade. Na manhã de ontem, Rudson Aragão Guimarães, 39 anos, tentou suicídio ao desferir três golpes no próprio pescoço com um bisturi.
A solicitação partiu do chefe da unidade de terapia intensiva (UTI) do hospital, Fabiano Finotti, que ficou preocupado com a segurança da equipe médica que supervisiona o assassino após o episódio de ontem. A direção do Hospital Municipal instaurou uma investigação administrativa para averiguar como Rudson pegou o bisturi mesmo sob a vigilância de dois agentes prisionais. O assassino foi atendido por médicos da UTI e da equipe cirúrgica. O estado de saúde dele é estável.
Delegada de homicídios da 2; Delegacia Regional de Paracatu e uma das responsáveis por investigar a tragédia da noite de terça-feira, Thays Silva explicou que o assassino foi autuado em flagrante por cinco crimes: quatro homicídios duplamente qualificados e uma tentativa de homicídio duplamente qualificada. Segundo a Polícia Civil, incidiram nos delitos de Rudson o motivo fútil e a impossibilidade de resistência das vítimas.
Até o momento, a corporação não trata uma das mortes, a da ex-namorada do homem, Heloísa Vieira Andrade, 59, como feminicídio ; Rudson a assassinou com um golpe de canivete no pescoço. Apesar disso, ao decorrer das investigações, a hipótese pode ser considerada. ;Não havia medida protetiva contra o suspeito, incidência de violência doméstica ou discriminação à mulher, mas destacamos que a motivação exata continua em apuração;, declarou a delegada.
Pastor em casa
Principal alvo da revolta de Rudson, o pastor da Igreja Batista Shalom, Evandro Rama, 39, recebeu alta do Hospital Municipal de Paracatu e voltou para casa ontem. Ele estava internado na unidade de saúde desde a noite de terça-feira, onde deu entrada após fraturar o tornozelo esquerdo ao fugir de Rudson.
O religioso está com o pé imobilizado e será submetido a cirurgia na próxima segunda-feira. Mãe do pastor, a cozinheira Maria Aparecida Loures, 57, disse que o filho está traumatizado com a experiência. ;Ele está muito abalado com tudo o que aconteceu e se sentindo um pouco culpado, pois as mortes aconteceram por uma desavença entre ele e o Rudson;, disse.
Maria Aparecida reforçou as informações da Polícia Civil e de fiéis da igreja de que Rudson cometeu a tragédia após perder um cargo na igreja há dois meses. Ele era intercessor na comunidade evangélica e auxiliava o pastor a conduzir orações para os fiéis. No entanto, após ser alertado de problemas pessoais do assassino, Evandro o retirou da função. Tentou auxiliá-lo, mas Rudson não se mostrou interessado nos conselhos do pastor e foi expulsou da igreja.
;Ele se revoltou contra o meu filho e passou a ofender o Evandro pelas redes sociais. Meu filho sempre me falava que tinha receio do que o Rudson poderia fazer, pois ele aparentava ser uma pessoa agressiva e, nesta semana, nós vimos do que ele é capaz;, lamentou.
Maria Aparecida perdeu o marido Antônio Rama, 67, na chacina. O idoso foi assassinado dentro da igreja, com um tiro na cabeça, assim como Marilene Martins de Melo Neves, 52, e Rosângela Albernaz, 50. Maria Aparecida e Antônio eram casados há quatro décadas. Para tentar lidar com a saudade do companheiro, ela recebeu o auxílio de toda a comunidade evangélica, mas reconhece que vai demorar a assimilar a perda.
;Estou orando aos céus e pedindo forças a Deus. Só ele pode me sustentar agora. Tenho de ser resistente, especialmente para os nossos quatro netinhos, que eram muito apegados ao Antônio. Para confortar o coração deles, disse que o vovô se despediu da gente para ser uma estrela no céu;, contou.
A Igreja Batista Shalom voltará a abrir somente na próxima semana. O templo precisará passar por alguns reparos, pois, no dia da chacina, Rudson quebrou uma barra de ferro do portão de entrada do prédio e estilhaçou uma vidraça no salão onde são feitos os cultos da comunidade.
Além disso, os fiéis continuam aterrorizados com os massacres. O técnico de segurança do trabalho Denerson Pereira, 26, presenciou os momentos finais da ação de Rudson e não consegue esquecer os instantes de terror. Para superar o trauma, ele buscará a ajuda de um psicólogo. ;É difícil. Quando fecho os olhos, a imagem vem na minha mente, e parece que está acontecendo de novo;, afirmou.