Paracatu (MG) ; O massacre cometido na noite de terça-feira (21/5) traumatizou Paracatu, cidade mineira distante 240km do Distrito Federal. No dia seguinte à chacina de quatro pessoas, assassinadas pelo segurança Rudson Aragão Guimarães, 39 anos, durante um surto psicótico, o choque e a incredulidade da população podiam ser percebidos nas ruas. Em cada esquina, grupos de pessoas comentavam o crime cometido na Igreja Batista Shalom, no bairro Bela Vista, onde, em menos de 15 minutos, o acusado matou a ex-namorada com um canivete e, a tiros de uma garrucha de calibre 36, três fiéis.
Os enterros de todas as vítimas ocorreram nesta quarta-feira (22/5). Em Paracatu, foram sepultados Antônio Rama, 67, pai do pastor da Igreja Batista Shalom; Marilene Martins de Melo Neves, 52; e Rosângela Albernaz, 50. Eles estavam em oração no local, quando Rudson os matou com disparos na cabeça. Pouco antes disso, o homem havia esfaqueado a ex-namorada Heloísa Vieira Andrade, 59. A vítima estava em uma casa da família de Rudson, que fica a três quadras do templo religioso. A mulher também orava, ao lado da mãe e da irmã do assassino, quando recebeu um golpe no pescoço e morreu no sofá da sala de estar. Ela foi enterrada em Uberlândia (MG), sua cidade natal.
Segundo a polícia, o pastor Evandro Rama, 37, era o principal alvo do assassino. Ele conseguiu escapar da morte pulando um muro da igreja. Fraturou o tornozelo esquerdo e foi hospitalizado no Hospital Municipal de Paracatu. Após passar por cirurgia, o quadro clínico é estável, mas ele permanece sob os cuidados da equipe médica.
Na noite do massacre, Rudson arrancou uma barra de ferro do portão para invadir a igreja. De acordo com o tenente-coronel da Polícia Militar de Paracatu Luiz Magalhães, ele tinha alucinações e dizia coisas desconexas, como a que havia voltado do inferno para cumprir a missão de assassinar o pastor Evandro. "Como o pastor fugiu, ele se voltou contra os fiéis. Uma equipe da Polícia Militar estava em direção à casa onde aconteceu o primeiro assassinato quando ouviu tiros vindos da igreja. Quando chegamos lá, dois fiéis estavam mortos, e o assassino tomou uma terceira pessoa como refém. Tentamos negociar, mas ele não deu tempo à polícia e atirou na cabeça dessa vítima. Em proteção às demais pessoas que estavam ali, a guarnição efetuou um disparo contra ele, que o atingiu no peito. Assim, conseguimos desarmá-lo", detalhou o oficial.
Rudson também está internado no Hospital Municipal de Paracatu, em uma unidade de terapia intensiva (UTI). Ele foi submetido à cirurgia e, na manhã desta quarta-feira (22/5), o quadro de saúde mudou de grave para estável. Ele respira sem a ajuda de aparelhos. Nas contas da Polícia Militar, pelo menos 20 pessoas participavam da reunião no templo. Com Rudson, os militares encontraram seis projéteis intactos. "Fatalmente, ele faria mais vítimas e estaríamos diante de um crime ainda mais trágico. Felizmente, agimos rápido e evitamos o pior", ressaltou o PM Luiz Magalhães.
Lembranças
As cerimônias de despedida reuniram dezenas de familiares e amigos das vítimas. Ainda sem acreditar no massacre, a cozinheira Maria Aparecida Loures, 57, reconheceu que terá de ser forte para aceitar a morte de Antônio, com quem era casada havia 40 anos. "Perdi o meu companheiro de vida. Ele foi um exemplo de pai e esposo, que nunca virou as costas para a família. O Antônio era um homem de caráter. Guardarei as melhores lembranças dele", lamentou.
O autônomo Renato Martins, 45, primo de Marilene, também não se conformava. "Foi uma coisa lamentável. É impossível imaginar que alguém em sã consciência entre em um ambiente sagrado e tire a vida de várias famílias sem mais nem menos. Não consigo descrever o tamanho da minha tristeza. A ficha vai demorar a cair", disse.
A professora Iana Quirino, 37, era da mesma igreja das vítimas e fez questão de ressaltar a personalidade das quatro, especialmente a de Rosângela. "Ela era bastante assídua na nossa comunidade. Uma mulher ativa na obra e verdadeira serva de Deus. Sinto que perdi alguém da minha família. Ela foi uma grande companheira para todos os fiéis da nossa igreja", ressaltou.
Expulso da igreja
A apuração do crime está sob responsabilidade da 2; Delegacia Regional de Paracatu. A investigadora de homicídios da unidade policial, Thays Silva, levantou a hipótese de que Rudson cometeu o massacre devido a um atrito que ele tinha com o pastor Evandro. "Acredita-se que Rudson teria se irado em razão de sua destituição de uma posição de liderança da igreja. A partir de então, teria passado a proferir ofensas ao pastor. Isso gerou uma indignação grande e chegou ao ápice ontem (terça-feira), quando ele estava bastante alterado e cometeu os crimes;, explicou a delegada.
Membro da Igreja Batista Shalom, Yuri Jordão, 45, explicou que Rudson atuava como intercessor na igreja, auxiliando o pastor a conduzir orações. Há dois meses, no entanto, após ser alertado de problemas pessoais do acusado, Evandro o retirou da função. Tentou orientá-lo, mas Rudson não se mostrou interessado nos conselhos do líder religioso. Por causa disso, Evandro o expulsou da igreja. "A partir daí, o Rudson passou a denegrir a imagem do pastor nas redes sociais. Fez várias publicações ofendendo-o, o que deixou o pastor muito assustado. O Evandro chegou a me enviar um áudio pedindo misericórdia. Infelizmente, ele cometeu uma barbárie", lamentou Yuri.
Interrogatório
De acordo com a delegada Thays, Rudson não tinha histórico de violência doméstica, mas testemunhas disseram que ele se comportava de forma agressiva com familiares. A Polícia Civil não confirmou a prática de feminicídio na morte de Heloísa, mas a possibilidade da qualificadora não está descartada. "Há vários pontos a serem esclarecidos com relação à motivação. Até o fim desta semana, nós iremos interrogá-lo. O inquérito tem prazo legal de 10 dias para ser concluído. Depois de ser liberado do hospital, ele será encaminhado ao presídio e permanecerá à disposição da Justiça", detalhou a investigadora.
Depoimento
;Experiência traumática;
Denerson Pereira, 26 anos, técnico de segurança do trabalho e amigo das vítimas
As vítimas
; Tinha 67 anos
; Era agricultor aposentado
; Nasceu em Colorado (RS)
; Morava em Paracatu desde 1984
; Deixou mulher e três filhos, entre eles o pastor Evandro Rama
; Tinha 59 anos
; Era master-coach
; Nasceu em Uberlândia (MG)
; Deixou dois filhos
; Namorou Rudson menos de um ano
; Tinha 52 anos
; Era comerciante
; Nasceu em Paracatu (MG)
; Deixou marido e dois filhos
; Tinha 50 anos
; Era dona de uma
padaria
; Nasceu em Paracatu (MG)
; Deixou marido e duas filhas
; Tem 39 anos
; Serviu às Forças Armadas como reservista
; Também trabalhou como vigilante
; Nas redes sociais, informava ter estudado direito em Brasília