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Dengue mata 16 pessoas este ano

Último boletim epidemiológico aponta a existência de 19.812 casos notificados no Distrito Federal. Itapoã, Paranoá e São Sebastião continuam sendo as que mais registram casos prováveis


O Distrito Federal vive uma epidemia de dengue em 2019, segundo a Secretaria de Saúde. Até 11 de maio, 16 pessoas morreram com a doença, mas esse número pode ser maior, pois quatro óbitos notificados estão sob investigação. Outros 30 pacientes apresentaram um quadro grave da virose. No mesmo período de 2018, uma morte e dois casos considerados graves foram registrados.

O último boletim epidemiológico da pasta apontou a existência de 19.812 casos notificados, sendo 97,1% de moradores do DF. Desse total, 17.304 são considerados como prováveis. No mesmo período do ano passado, o número de notificações ficou em 3.449 (474,4% a menos), com 2.135 casos prováveis.

Para a Secretaria de Saúde, a diferença se deve a uma predominância de infecções provocadas pelo Tipo 2 do vírus causador da dengue. Em anos anteriores, a contaminação pelo vírus Tipo 1, considerado menos agressivo, era mais frequente. “Acompanhando a tendência nacional, o tipo que está circulando hoje no DF é o sorotipo 2 e, geralmente, o desfecho dele é menos favorável. O próprio Ministério da Saúde prevê que a possibilidade de óbitos no país seja maior quando esse vírus circula no meio”, explicou a subsecretária de Vigilância à Saúde, Eliane Faria Morelo. A suspeita é de que o vírus do Tipo 2 tenha chegado ao país durante a Copa do Mundo de 2014.

Mas, em relação às mortes no DF, a subsecretária ressaltou que o número pode cair, pois o registro do último boletim leva em conta mortes de pacientes de outros estados na capital do país. Porém, se comparado ao relatório divulgado em 27 de abril, o número de óbitos cresceu. Na ocasião, foram 10 mortes.

Itapoã, Paranoá e São Sebastião continuam sendo as que mais registram casos prováveis. Contudo, no boletim epidemiológico divulgado em 11 de maio, São Sebastião conseguiu reduzir em 70% o número de registros, passando de 271 casos em janeiro, contra 83 em abril.

Insumos
A pasta ressaltou que a quantidade de insumos nos hospitais do DF para atendimento de pacientes com suspeita de dengue está dentro do esperado. A falta de itens como soro de reidratação oral estaria associada ao aumento de casos suspeitos e, para evitar a falta de reagentes para identificação da contaminação por dengue, a pasta solicitou 22 mil unidades de kits para teste que serão recebidos em junho. Em maio, foram distribuídos 15 mil entre toda a rede.
O engenheiro mecânico Vinícius Aquino, 22 anos, teve dengue duas vezes. A primeira, em 2017, e a segunda um ano depois, em 2018. Ele contou que, na primeira vez, não imaginava que estivesse com o vírus, principalmente porque os sintomas eram semelhantes aos de uma gripe comum. “Eu estava gripado antes; por isso, imaginei que a gripe tinha ficando mais forte. Foi minha mãe quem desconfiou que pudesse ser dengue, e realmente era”, contou.

Da última vez, o quadro ficou mais preocupante. Durante o atendimento em um posto de saúde, pediram que ele fosse internado. “Fiquei de repouso absoluto e bebendo bastante água e outros medicamentos que me passaram. A sensação é horrível”, relatou.

Moradora do Grande Colorado, a técnica de enfermagem Cláudia Dias Batista, 48, também contraiu o vírus entre março e abril. “Achei que fosse uma gripe normal, porque na minha casa tem muita planta, mas cuidamos direitinho. Tanto é que a Vigilância Sanitária nos elogia. Mas, quando percebi que estava com febre, fui ao hospital. Adoro dirigir, mas, nesse dia, estava tão incapaz que achei que fosse morrer. Cheguei a desmaiar na sala de espera do hospital”, relembrou.

Na unidade de saúde, Cláudia descobriu que estava com dengue havia 10 dias. “Desde que contraí a doença, redobrei os cuidados. Agora olho sempre se tem água parada, fujo de foco de mosquito e fico passando repelente toda hora. Trabalho em hospital e sei o tanto de caso que chega. Acredito que vivemos uma situação mais alarmante do que é mostrado pelo governo”, lamentou.
 
Serviço de fumacê interditado
Em 6 de maio, o Ministério Público do Trabalho da 10ª Região (MPT-10) interditou o serviço de fumacê em todo o Distrito Federal. A proibição decorreu de uma diligência na Diretoria de Vigilância Ambiental do Distrito Federal (Dival), em Taguatinga. Segundo o órgão, os equipamentos de proteção fornecidos para os trabalhadores não eram suficientes para barrar a exposição à fumaça de combate ao mosquito adulto.

“A interdição foi um ato excepcional e extremo, mas necessário. Há anos esse problema acontece, mas a situação não se resolve. Há décadas, os trabalhadores da área estão sendo envenenados, vindo a desenvolver câncer. A atividade é feita todo ano, e o governo precisa se planejar com antecedência e garantir todo o equipamento, treinamento e condições necessárias”, destacou a procuradora Renata Coelho.

A subsecretária de Vigilância à Saúde, Eliane Faria Morelo, afirmou que a secretaria resolveu quase todas as questões apontadas pelo órgão. “Estávamos sem manutenção há alguns anos e estávamos correndo atrás desses contratos. Os pontos apontados pelo Ministério Público já foram sanados, como a questão da parte elétrica e de algumas instalações.”
Ela destacou que o fumacê tem critérios para ser aplicado e que o Ministério da Saúde recomenda que ele seja usado quando há índice de infestação do mosquito adulto acima de 4%. No DF, o Levantamento rápido de índices para Aedes aegypti (LIRAa) apontou taxa de infestação de 1,4%. “Ou seja, se não tenho larva, não tenho o mosquito adulto. Eu não teria nem indicação para fazer o fumacê”, completou Eliane. Diante disso, a pasta optou pelas visitas às casas para identificação de focos da dengue e aplicação de larvicidas.
» Colaborarou Caroline Cintra

Cuidados
» É possível evitar o mosquito com telas nas janelas. Porém, a elimina
 
ção dos possíveis focos de reprodução do Aedes aegypti, como água parada e lixo, é a medida mais eficaz.