Amigos, conhecidos e colegas sensibilizados com a morte de Debora Tereza Correa, 43 anos, realizaram ontem um ato contra os casos de feminicídio no Distrito Federal. A professora de português é a 13; vítima neste ano, conforme levantamento do Correio. Na porta da sede da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro, na 511 Norte, onde Debora trabalhava, cerca de 70 pessoas questionaram a segurança das mulheres e, inclusive, dos servidores da Educação.
A professora Deborah Von, 30, compartilha não só o nome da vítima, mas a profissão. Ela estava no 1; andar do prédio quando escutou o som dos tiros disparados pelo policial civil Sergio Murilo dos Santos. ;Foi como se uma parte de nós também morresse ali. É algo tão surreal e absurdo, muito difícil assimilar;, lamentou.
Para Neliane Maria da Cunha, 41, da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno, a morte de Debora se tornou um exemplo da luta contra o feminicídio. ;O que mais nos deixa indignados é o fato de ela ter pedido socorro e não ter recebido a ajuda necessária. A nossa luta é para mostrar que Debora não é estatística. Ela é história, e precisamos lutar para que não surja mais nenhuma;, ressaltou a militante.
Dever do Estado
;A primeira responsabilidade é a do Estado, que é falho nas políticas públicas de segurança das mulheres.; A afirmação da advogada e diretora de Gênero do Fórum de Mulheres do Mercosul, Lúcia Bessa, atribui a recorrência de feminicídios e de violência doméstica à falta de manutenção dos mecanismos de defesa das vítimas. ;Em Brasília, a Casa Abrigo está fechada, deixando de dar apoio às mulheres que buscam sair do ciclo de violência. A única delegacia especializada para o atendimento da mulher é no Plano Piloto e deveria ser expandida para regiões onde há muitos casos de feminicídio, como Ceilândia, Sobradinho e Santa Maria, por exemplo;, justificou.
A maneira com que tantas mulheres são tratadas mostra, para a especialista, que a cultura do machismo está enraizada na sociedade brasileira. ;Quem tem a vida ceifada é a vítima de toda a situação estrutural da nossa sociedade. Se o homem não consegue enxergar e respeitar a mulher como igual a ele, que tem direitos próprios e independência, ele precisa de ajuda médica, psicológica. Não é simplesmente achar que tem o direito de matar;, alertou Lúcia.
Lúcia acredita que a punição penal é necessária aos agressores, mas que não basta para mudar as estatísticas. ;Além de tratar a mente doente do homem e fornecer assistência à mulher, precisa-se implementar medidas a longo prazo;. Entre as sugestões dela estão o trabalho preventivo dentro das escolas a fim de interromper a reprodução da cultura machista pelas próximas gerações, e a elaboração de ações públicas para atender crianças e adolescentes vítimas de violência.
A secretária da Mulher do DF, Ericka Filippelli, afirmou que a pasta trabalha para restabelecer a câmara técnica voltada à criação de políticas e ações públicas em proteção à vida das mulheres. ;O comitê visa à integração eficiente dos órgãos públicos para combate da violência contra a mulher. A minuta de criação para esta câmara foi enviada. Nesse primeiro momento, podemos fortalecer os organismos não governamentais que atuam atendendo as mulheres nas comunidades. O projeto de governo é conseguir instalar centros especializados em cada uma das cidades mais vulneráveis;, especifica.
Atualmente, a secretaria coordena os três Centros de Atendimento à Mulher, espaços que fornecem assistência psicológica e social e realiza encaminhamentos jurídicos às vítimas. As unidades ficam na estação de metrô da 102 Sul, em Planaltina e em Ceilândia. O atendimento às famílias e aos autores de violência doméstica também é prestado em outros nove núcleos, que ficam em Brazlândia, Gama, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Samambaia, Santa Maria, Sobradinho e Plano Piloto.