Cidades

Grupos promovem eventos na semana do Dia Nacional de Luta Antimanicomial

Na semana do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, grupos em defesa de uma saúde digna promovem eventos culturais para reflexão sobre a qualidade de vida das pessoas com sofrimento mental

Alan Rios
postado em 14/05/2019 06:00
Paciente feminino na cela individual, no Hospital Psiquiatrico Judiciario Jorge Vaz, antigo Manicomio em Barbacena.

;De médico e louco todo mundo tem um pouco;, como diz a expressão popular. Mas, apesar dessa máxima valer para todo mundo, muitos não têm os mesmos direitos básicos, como a liberdade de receber um tratamento de saúde adequado. Pensando nisso, o Movimento da Reforma Psiquiátrica de 1987 (leia Saiba mais) instaurou no Brasil o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, comemorado em 18 de maio. Vários grupos de profissionais e estudantes organizam eventos que debatem o tema, usando até mesmo a leveza da cultura para abordar a complexidade da questão manicomial no Distrito Federal.

Um deles é o grupo de profissionais da Residência Multiprofissional em Saúde Mental do Adulto, que faz parte da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS). Eles tiveram a ideia de unir pacientes, assistentes sociais, enfermeiros e a população geral em um sarau recheado daquilo que todos querem: liberdade e cuidado para ser feliz. Com apresentações de canto e dança, o evento promete mostrar que a ;loucura; não deve ser um tabu a ser isolado, excluído, mas algo que precisa ser tratado fora das grades de manicômios, hospitais e clínicas psiquiátricas..

;Dentro de todo esse cenário, a cultura tem um papel muito importante para essas pessoas, porque ela dá o direito à expressão. No sarau, as pessoas com transtornos cantam, dançam e vivem um dia de artista! É tão bom, que elas não querem sair do palco;, brinca Michelle Menezes, 25 anos. A terapeuta ocupacional é uma das organizadoras do II Sarau de Médico e Louco Todo Mundo tem um Pouco, na próxima quinta-feira, no Imaginário Cultural, em Samambaia.
As organizadoras Michelle Menezes, Danielle Bonfim (C) e Edileia Tiberio usam a cultura como remédio

A ideia surgiu ano passado, quando o grupo conheceu, nesse mesmo período, diferentes atividades desenvolvidas pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Cada Caps realizava a própria programação interna com os pacientes ; adultos com transtornos mentais graves e problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Então, as assistentes sociais tomaram a iniciativa de dar asas ao projeto, levando para fora das instituições.

;Passamos a imaginar uma grande comemoração na comunidade, unindo todos os serviços e com uma programação cultural dos próprios centros. Aí conhecemos um espaço em Samambaia chamado Imaginário Cultural e recebemos o apoio deles para realizar o I Sarau;, lembrou Danielle Bonfim, 25. A também organizadora participou do projeto de forma completa. Além de atuar como assistente social, ela aproveitou a segunda profissão, cantora, para participar das apresentações. ;O evento foi um sucesso! Levamos quase 300 pessoas para o espaço, entre pessoas da comunidade, pacientes, familiares e profissionais, sempre com o foco nos frequentadores do Caps. O resultado foi maravilhoso;, celebrou.

Métodos


Os tratamentos de pessoas com transtornos graves não são simples. Exigem conhecer bem o paciente e utilizar de diferentes métodos interdisciplinares, principalmente. Mas não há dúvida de que a socialização tem papel fundamental nesse processo. O evento de quinta-feira também pensa nisso para reunir familiares e pacientes. ;Esse sarau será um momento de eles criarem vínculos, fortalecerem laços e cuidados entre quem estiver presente, com ou sem transtorno;, detalhou Ediléia Tibério, 40 anos, assistente social. Para ela, essas interações também são importantes para algo que pode parecer mais simples do que a complexidade do tema: ser feliz.

;A vida não pode ser só tristeza, temos que ter momentos assim de alegria, de celebração.; Mesmo assim, o grupo ressalta que as comemorações são também um ponto de reflexão, pois temos que pensar constantemente em como ser uma sociedade que acolha diferentes transtornos. Quem estiver presente no sarau poderá fazer isso acompanhando as apresentações, conferindo artesanatos feitos pelos pacientes e até observando uma exposição de fotos com a temática psiquiátrica. Unindo a arte reflexiva aos momentos de descontração, o evento também receberá fotografias da mostra Morar em Liberdade, em exposição na Fiocruz Brasília até 31 de maio nesse mês da Luta Antimanicomial.


SERVIÇO


II Sarau de Médico e Louco Todo Mundo tem um Pouco // Data: 16 de maio ; Hora: abertura às 13h30 ; Local: Complexo Cultural de Samambaia, Quadra 301, Conjunto 5 ; Evento gratuito

Exposição Morar em Liberdade, do fotógrafo Radilson Carlos Gomes // Data: 29 de março e 31 de maio ; Local: Avenida L3 Norte, Campus Universitário Darcy Ribeiro, UnB

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