Walder Galvão
postado em 14/05/2019 06:00
Aos 26 anos, Thiago Alves Simões decidiu ganhar muito dinheiro de forma rápida e arriscada. Ele escolheu a dedo companheiros para formar o que, segundo a polícia, pode ser a maior organização criminosa dos últimos anos do Distrito Federal. Articulado, ele conseguiu montar equipe com motorista especializado em fugas e serralheiro capaz de produzir material explosivo, além de outros integrantes, cada um com uma habilidade específica. O bando, formado por nove criminosos, foi responsável pelos maiores roubos a caixas eletrônicos dos últimos 12 meses na capital (leia Memória). Cinco estão presos e Thiago, apontado como o líder, continua foragido. A suspeita é de que o grupo tenha roubado mais de R$ 1 milhão.
Natural de Minas Gerais (MG), Thiago, hoje com 28 anos, morou em Ceilândia e, atualmente, vivia em Valparaíso (GO). Ele era conhecido nas redes sociais e fazia questão de expor a vida privada na internet para centenas de seguidores, ostentando carros de luxo e viagens. Com o dinheiro arrecadado nos crimes, abriu duas empresas produtoras de bailes funks para lavar o dinheiro conquistado com os roubos, uma no Gama e outra em Cristalina (GO). Em seguida, o montante era investido no tráfico de drogas, aumentando ainda mais a margem de lucro dos crimes.
O cerco contra Thiago começou a fechar em março deste ano, 12 dias após um roubo a caixas eletrônicos de um hotel de luxo localizado no centro de Brasília, o Golden Tulip, quando um dos integrantes do grupo foi preso. Ele era responsável por guardar os veículos utilizados pelo crime. O delegado André Leite, titular da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), não detalhou como os agentes chegaram até o suspeito, mas afirmou que os policiais já trabalhavam com a hipótese de que o mesmo bando era responsável por cometer os crimes anteriores.
;A forma como os crimes eram cometidos é muito semelhante. Inicialmente, os artefatos usados nas explosões levantaram nossas suspeitas, porque, em todos os casos, eram produzidos de forma caseira;, esclareceu o delegado. De acordo com ele, o grupo é responsável por cometer ao menos duas explosões de caixas eletrônicos no Entorno e cinco no Distrito Federal, as maiores dos últimos anos: no Palácio do Buriti, no shopping Pier 21, no Gilberto Salomão, no hotel Royal Tulip e no clube da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal do DF (Apcef).
Além de Thiago, três suspeitos estão foragidos. Os agentes identificaram apenas um deles, Jaisson Alves de Jesus, 27. Ele era o serralheiro que produzia os explosivos usados nos roubos. De acordo com o delegado, os acusados compravam fogos de artifício para retirar a pólvora e produzir as bombas.
;As investigações continuam para prender os foragidos. Os outros cinco confessaram o crime e um deles topou cooperar com as investigações, por meio de acordo de colaboração premiada;, disse. Apesar do avanço das investigações, o dinheiro e o forte armamento usado no crime, como fuzis, escopetas e pistolas com rajadas de metralhadora, ainda não foram localizados. A suspeita é de que todo material esteja nas mãos de Thiago.
Articulados
A Polícia Civil batizou a operação que resultou na prisão dos criminosos de Hefesto, deus do fogo, dos metais e da metalurgia na mitologia grega, fazendo alusão aos explosivos e à inteligência do bando. O delegado André Leite detalhou que, na organização criminosa, cada um tinha uma função. Para cometer o crime, um dos integrantes do grupo passava dias observando o alvo e identificando como a rotina do lugar funcionava. ;Eles sempre agiam durante a madrugada, porque poderiam fugir de forma mais fácil e não encontrariam grande movimentação de pessoas;, ressaltou.
Cerca de 45 dias antes de agir, os criminosos mantinham os carros que seriam usados na fuga guardados, para que eles não fossem vistos em outros lugares, dificultando o trabalho da polícia. As prisões ocorreram de forma gradativa e o último criminoso foi encontrado na sexta-feira, mas os investigadores divulgaram o caso apenas na manhã de ontem. ;Não são meros suspeitos, temos certeza da autoria deles. Além disso, constatamos que eles não estão ligados a qualquer facção criminosa, o que foi levantado no início das investigações;, frisou.
Os investigadores ainda constataram que os criminosos escolheram locais no centro de Brasília, porque acreditavam que os caixas eletrônicos estariam mais abastecidos, além dos lugares passarem mais sensação de segurança à população. Apenas nos caixas eletrônicos do Golden Tulip, os criminosos conseguiram faturar R$ 476 mil. ;O que nos ajudou a identificá-los também foram as vestimentas, o tipo de armamento, a rota de fuga e até mesmo a característica de como deixavam o local;, afirmou.