A Polícia Civil investiga a morte da jovem de 19 anos que tentou atendimento em pelo menos quatro unidades de saúde de Sobradinho antes de morrer, no último sábado (11/5). De acordo com familiares, Beatriz Viana da Silva compareceu ao Hospital Regional de Sobradinho (HRS) sentindo fortes dores abdominais e teve o atendimento negado. Carregada pelos braços do marido, Wesley Nascimento, 20 anos, foi levada até um consultório particular. O médico do local acionou o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF). Enquanto era transportada novamente ao hospital, a mulher sofreu paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.
A madrinha de Wesley, Cristiane Pereira, 33, conta que o casal chegou ao hospital de carona, já que eles não têm carro. "A Bia passava muito mal, toda branca, enquanto o Wesley tentava fazer a entrada dela. A servidora disse que não tinha médico. Sequer deu um encaminhamento, fez a triagem. Ele, desesperado, saiu com ela nos braços pela rua, correndo debaixo do sol quente até uma clínica particular."
Segundo a familiar, antes de recorrer ao HRS, os dois já teriam tentado atendimento em duas clínicas particulares de baixo custo e foram instruídos a procurar a rede pública. Sem sucesso, o marido saiu da unidade e conseguiu uma consulta pelo valor de R$ 200. Ao ser avaliada, o médico do local afirmou se tratar de um caso grave e foi com o próprio carro até o HRS solicitar socorro imediato, já que a clínica não teria a estrutura necessária. Enquanto esperava, Beatriz teve a primeira parada cardiorrespiratória, antes de entrar na ambulância. No total, foram três paradas.
A família ainda não teve acesso ao laudo que revela a causa da morte da jovem. "A desorganização é tanta que ninguém sabia dizer onde estava o corpo da Bia. Foram mais de três horas para a própria polícia saber onde tinham colocado", acrescenta Cristiane. De acordo com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o corpo foi levado ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde foi retirado pelo Instituto de Medicina Legal (IML) para a necrópsia. O corpo será liberado para a família ainda nesta segunda-feira (13/5).
Beatriz tinha um filho de 6 meses, fruto do relacionamento com Wesley. O velório e sepultamento acontecem amanhã (13/5), das 14h às 17h no cemitério de Sobradinho.
Outro lado
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, disse que amanhã (14/5) irá trocar toda a diretoria do HRS. Em coletiva de imprensa, ele pediu desculpas à família e disse que irá investigar o caso. "Não estão prestando o serviço ou atenção que deveriam dar. Já tem determinação para o secretário Osnei (Okumoto) de trocar toda a diretoria do Hospital de Sobradinho para que aprendam a dar atenção à população. Já falei que não vou admitir esse tipo de tratamento à população do DF e nós vamos buscar responsabilização pelo motivo que a moça não foi atendida", declarou Ibaneis.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal afirma que há registro de abertura de ficha na unidade pela paciente. "O marido da paciente foi até a unidade no sábado pela manhã, perguntou se havia atendimento e lhe foi informado que o acesso estava restrito a pacientes graves, por isso estava demorado. No entanto, o marido preferiu não fazer a ficha, alegando que a levaria para outra unidade. A paciente sequer desceu do carro e não entrou no hospital", alega.
A pasta acrescenta, ainda, que Beatriz deu entrada horas depois, transportada pelo Corpo de Bombeiros, e que os primeiros atendimentos foram prestados. No entanto, ela já chegou em parada cardiorrespiratória e, conforme as normas de urgência e emergência em clínica médica e cardiologia, foi realizada manobra de reanimação por mais 45 minutos, mas não houve resposta.
A secretaria informou que, na última sexta-feira (10/5), o Hospital Regional de Sobradinho decretou bandeira vermelha devido à superlotação da internação, sob a alegação de que a unidade conta com 22 leitos na Sala Amarela, mas 35 pacientes estariam internados. Na Sala Vermelha, havia, ainda, cinco pacientes internados, mesmo existindo apenas três leitos. "Neste caso, o atendimento de porta fica restrito a casos de maior gravidade, com classificação vermelha. Os pacientes internados são avaliados a todo momento para que, quem estiver em melhores condições clínicas, possa receber alta;, concluiu a pasta.
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer