Cidades

Musicalização é uma aliada das crianças no início da vida escolar

Além disso, a técnica ajuda a socialização

Melissa Duarte*, Fabíola Testi*
postado em 12/05/2019 08:00
O projeto Consciência fonológica atendeu 381 crianças, de 6 a 12 anos, em escolas públicas e projetos sociais do DF

T e D, P e B, V e F. Essas letras têm o som ; fonema ; parecido. Por isso, muitas crianças no início da vida escolar, ou até mesmo depois, têm problemas para diferenciá-las. É aí que entra a música. Para além das carteiras enfileiradas, do giz no quadro-negro ou das letras do alfabeto espalhadas pela sala de aula, a musicalização pode ter papel fundamental na alfabetização infantil.

;A música é a parte lúdica e não deixa os exercícios (se tornarem) chatos;, diz o administrador e financista Ulysses Araujo Bispo. Ele, quando criança, trocava algumas letras e tinha problema na fala. ;À medida que fui alfabetizado, isso não foi diagnosticado. Eu escrevia como falava;, relata ele, que também recebeu o diagnóstico de Transtorno de Deficit de Atenção (TDAH). Por isso, fez tratamento de fonoaudiologia durante sete anos ; e a musicalização fazia parte das sessões. Com o tempo, melhorou a fala, a escrita e a comunicação.

O servidor público João Paulo Biage também levava o filho, que hoje tem 7 anos, às sessões e o ajudava com os exercícios em casa. ;Ela (a fonoaudióloga) receitava para nós os exercícios de brincadeira. O meu filho tinha de cantar algumas músicas da Galinha pintadinha. Tinha outras duas do Mundo Bita (que são animações infantis) que ele tinha que cantar todo dia para melhorar;, relata. Os exercícios faziam parte da diversão.

Para o professor de música da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Dourado Freire, ;(a música) ajuda muito na alfabetização;, pois as crianças aprendem brincando e se envolvem na atividade. ;É muito mais fácil aprender uma coisa que você fez várias vezes;, conta o docente, que coordena o projeto de extensão da universidade Música para Crianças. Além disso, traz benefícios para a fluência da língua oral e escrita.

O projeto Consciência fonológica FCE UnB

Projeto

Voz, violão, alguns acordes e melodias bastam para ajudar crianças a desenvolver linguagem, fala e leitura. A UnB tem um projeto que atua justamente nessa área. É o Consciência fonológica, aprendizagem e música: interação do estagiário em fonoaudiologia com crianças em alfabetização, desenvolvido na Faculdade de Ceilândia, com apoio do Decanato de Extensão da UnB e do Ministério Público do Trabalho (MPT).

O programa trabalha a consciência fonológica das crianças, isto é, ;a habilidade de reconhecer que a letra tem som;, afirma a idealizadora do projeto Débora Ulhoa. Funciona da seguinte forma: primeiro, a aluna de Fonoaudiologia da UnB dá um caderno a cada participante com atividades que ajudam a distinguir o som de cada letra. Depois, entra a parte mais divertida e musical.

A jovem canta três músicas e pede para as crianças identificarem quais termos têm rima, aliteração ; palavras que têm som igual ou muito parecido ; separação de sílabas e diferenciação entre fonemas. ;Eu não canto sozinha, elas vão aprendendo na hora e se empolgam muito. É desafiador para elas;, continua a estudante.

Desse modo, a criança passa a entender e reconhecer frases, palavras e sons. ;(A música) muda o método padrão de aprendizado e estimula habilidades que facilitam a criança a ver a atividade como lúdica e divertida;, relata a coordenadora do projeto Maysa Luchesi Cera. Por isso, os participantes têm a sensação de que é mais fácil aprender assim. ;As crianças se motivam a conhecer os sons que compõem a fala, o que contribui para o desenvolvimento da linguagem;, completa a professora de fonoaudiologia da UnB.

O projeto nasceu em 2016. Desde então, atendeu 381 crianças, de 6 a 12 anos, em escolas públicas e projetos sociais do Distrito Federal. Qualquer criança pode participar ; com ou sem dificuldades na alfabetização. Não é focado apenas em portadores de transtornos de aprendizagem, como TDAH e dislexia, os pequenos só têm a se beneficiar. ;A música auxilia no desenvolvimento da aprendizagem. Os professores têm dado retorno positivo;, orgulha-se a futura fonoaudióloga.
Projeto sobre conscientização fonológica da FCE UnB

Tratamento

A musicoterapia utiliza a música no tratamento de problemas físicos e psíquicos. Assim, é um híbrido entre arte e saúde. Quando a criança entra em contato com o tratamento, passa a mediar a comunicação: é capaz de se expressar de modo diferente, entrando em contato direto com emoções e dizendo coisas que não diria de outra forma.

O método serve para todas as idades: de bebês no útero até idosos ; com os mais diversos tipos de patologia e situações clínicas que se pode imaginar. A musicalidade também é utilizada para se conectar com interesses diversos. A professora aposentada de psicologia da UnB Diva Maciel afirma que letras e melodias influenciam não só na alfabetização, mas na educação geral da criança. ;Há estudos que comprovam o efeito relaxante da música em bebês e crianças, como a música clássica;, explica.

A professora de letras da UnB Josênia Vieira destaca que ;a criança precisa experimentar o conhecimento, e é onde a música e outros tipos de arte agregam valor;. Josênia acredita que o uso da música faz bem, porque estimula a inteligência e a formação da cognição do jovem. ;Sou a favor do trabalho com a arte, porque é enriquecedor para a criança, em todos os sentidos;.

*Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira

Programação do projeto
; Cada apresentação dura de 60 a 90 minutos
; A escola ou projeto social recebe uma única apresentação
; O trabalho acontece toda quinta-feira até 27 de junho

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