Liana Sabo
postado em 26/04/2019 06:00
A Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Brasília está completando 50 anos este mês. Quando foi formada na Entrequadras Sul 405/406, a cidade tinha apenas nove anos. Pouco mais de 15 famílias, a maioria vinda dos estados do Sul, participaram da fundação. Antes de o templo ficar pronto, em terreno destinado pela Novacap, numa área nobre do Plano Piloto, as famílias se reuniam nas casas umas das outras.
No Brasil, a direção da Igreja Luterana ; fundada há 500 anos pelo monge alemão Martinho Lutero ;, sempre teve por base Porto Alegre. É em torno da capital gaúcha e arredores que se assentaram, desde 1824, os imigrantes alemães portadores da fé luterana, trazida com outras tradições. Quando Brasília começou a ser construída, na década de 1950, a cúpula eclesiástica no Sul logo percebeu a importância histórica do fato e desenvolveu a convicção de que a Igreja Luterana deveria estar presente na Nova Capital.
Coube aos pastores Schwaner, de Belo Horizonte; Vath, do Rio de Janeiro, e Schlupp, de Friburgo, por estarem mais próximos do Planalto Central, cuidarem do nascimento da comunidade brasiliense. Ao mesmo tempo, começaram as tratativas para a construção do templo. Ganhou um projeto moderno, em consonância com as arrojadas linhas arquitetônicas de Brasília, de autoria do jovem arquiteto Del Nero, de Campinas (SP). Comunidades do Sul do Brasil e da Alemanha participaram do custeio da obra gerida na época pelo pastor Pommer.
Em um ano, ficou pronto o templo que consta de sete grandes placas de concreto unidas num vértice formando um V invertido. Elas representam as sete igrejas do Apocalipse. O espaço recebe até 200 pessoas ; e fica pequeno nas celebrações, como no dia da inauguração, em 20 de abril de 1969, um bonito domingo de sol, que reuniu mais de 400 pessoas.
Havia delegações de luteranos de diversas cidades, como Porto Alegre, São Paulo, Rio, Petrópolis, Juiz de Fora e Rio Claro. Dez pastores participaram do ofício religioso, que começou simbolicamente, ainda do lado de fora, quando a chave passou pelas mãos de todos os prelados até chegar às do pastor-presidente Ernesto Teófilo Schlieper, que inaugurou o templo.
Um detalhe curioso, lembrado até hoje, aconteceu em frente ao altar, onde se posicionaram os pastores. Justo no momento em que falava o dirigente máximo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) surgiu, por alguns segundos, um halo sobre sua cabeça provocado pelos raios do sol forte atravessando o multicolorido vitral que fica atrás do altar, que pode ser interpretado como um sinal de benção.
Outra curiosidade foi a presença do então embaixador da Alemanha, Ehrenfried Von Holleben, que veio especialmente do Rio para a cerimônia. Um ano e dois meses mais tarde, Von Holleben foi sequestrado a bordo de um Mercedes ao sair de casa no Rio, na noite de 11 de junho de 1970, durante uma partida do Brasil na Copa do Mundo no México. O diplomata foi solto cinco dias depois em troca da libertação de 40 presos políticos que seguiram para a Argélia.
Duas gerações na creche
Ao completar meio século, os luteranos somam 800 pessoas inscritas na comunidade e que contribuem mensalmente. O dízimo, uma recomendação bíblica praticada nos primeiros anos do cristianismo, não chega a ser obrigatório. Com a contribuição dos membros, doações e outros recursos arrecadados em eventos e promoções são custeados os serviços prestados por dois pastores ; Carlos Alberto Radinz e Everton Luis Knaul ; e mantidas as obras sociais. A principal delas chama-se Cantinho do Girassol, que funciona na QNM 30, em Ceilândia. Por lá, passaram quase 30 mil crianças e adolescentes. Surgiu como creche há 47 anos.
Outra ação importante é a Casa da Esperança. Funciona no Setor P Sul, ao lado da Casa do Cantador, onde, no início, eram recebidos somente meninos em situação de risco. Mais tarde, a instituição abriu as portas para a comunidade em geral para cursos profissionalizantes. A escolinha de futebol da instituição também possibilita que crianças e adolescentes possam ;ter um convívio com o esporte, estando longe da vulnerabilidade das ruas;, afirma a coordenadora Elli Stoef.