A experiência afetou profundamente o fotógrafo. "Havia começado a cobrir a caravana havia apenas dois dias. Segui durante dois meses caminhando, comendo, dormindo e vivendo como eles", diz Marcelino, que desde 2011 compõe a equipe da agência de notícias Reuters e tem passagens por veículos como O Globo, Folha de S.Paulo, IstoÉ Gente e Correio Braziliense. "Registrar essa cena me fez pensar nas minhas relações, em mim como pai e filho. Foi impactante ver a luta diária de todos os pais e mães lutando para dar uma vida melhor aos filhos. Impossível não me colocar no lugar deles", completa o pai da pequena Ana Luiza, que teve com a esposa, Juliana Machado.
O Pulitzer de fotojornalismo de 2019 acabou concedido a Marcelino, mas ele sempre sempre cita a equipe com a qual trabalha como vencedora. Ao celebrar o reconhecimento nas redes sociais, dias atrás, o brasiliense escreveu: "O Pulitzer é nosso. Nosso porque ninguém faz nada sozinho. Nosso porque vencemos por equipe. Nosso porque tem muita gente junta aqui. Nosso porque quem me conhece sabe que meu ativismo é pelo fotojornalismo. Nosso porque é um representante brasileiro. Nosso porque é nosso. Obrigado aos amigos, família e todos que curtem fotografia. Grande dia para o fotojornalismo brasileiro".
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Ao longo da carreira, o fotógrafo presenciou momentos cruciais da história. Ele destaca a cobertura de duas Copas do Mundo, as Parolimpíadas no Rio de Janeiro, a crise atual na Venezuela, a visita do papa Francisco ao Brasil e a viagem de Barack Obama a Cuba, além de eventos marcantes da política brasileiro.
Realizar uma cobertura como a da caravana de imigrantes requer preparo, explica. "Cobrir conflitos, manifestações e situações em ambientes hostis não é brincadeira. Todos os anos, recebemos treinamento adequado, técnicas e todo grau de instrução para ajudar nesse tipo de situação. Existe até atendimento psicológico oferecido pela agência e há obrigatoriedade com os equipamentos de segurança pessoal, como colete, capacete e máscaras de gás."
"Desde criancinha"
Mesmo diante das dificuldades e riscos que enfrenta, Marcelino não dá o menor sinal de querer parar. Mesmo porque parece predestinado a essa profissão. Além de ter nascido em uma família que já respirava fotografia ; o pai, Antonio Marcelino, é sua grande influência ;, o dia de seu aniversário, 2 de setembro, é também o Dia do Repórter Fotográfico.
Formado em publicidade e propaganda, Marcelino diz que é fotógrafo "desde criancinha". "Meu ambiente sempre foi o jornal. Meu pai trabalhou em jornais, revistas e laboratórios fotográficos. Brinquei nas bobinas gigantes de papel da gráfica do Correio e nas antigas máquinas de escrever da redação. E todo o ambiente mágico da revelação da fotografia sempre esteve presente na minha vida", diz.
Aos 23 anos, na faculdade, tomou a decisão de seguir a carreira de fotojornalista, um ofiício cujo exercício descreve como "sonhar acordado". Mas nem nos mais ousados dos sonhos Marcelino imaginou ganhar um prêmio tão importante. "Sonhar com o Pulitzer era demais para mim. Era algo muito distante. Estar entre os ganhadores me faz crer que trabalhar duro, ser ético e correr atrás vale a pena."
Para aqueles que dão os primeiros passos no fotojornalismo, ele repete um ensinamento que recebeu de profissionais que o antecederam. "Faça disto uma regra, por favor. Dobre os joelhos, abaixe, aproxime-se, afaste-se, levante, vire, troque de lente, descubra um ângulo melhor, busque a luz e fotografe", descreve. "E eu acrescentaria: leia literatura, consuma cinema, frequente museus, estude arte e, acima de tudo, faça testes", disse. "Fotografe, converse, coma, beba, sinta o cheiro, escute, permita-se errar, não se cobre tanto e leve tudo isso para dentro de você. Vai ser apenas uma questão de tempo para que tudo isso vire foto".
Outra coisa que Marcelino transforma em fotografia é sua relação com a capital federal, que não se cansa de exaltar. "Moro em Brasília desde que nasci. Morei quase toda a minha vida na Ceilândia, de onde tenho belas recordações. Eu me orgulho muito dos amigos e de tudo que vivi ali. Alguns amigos brincam: ;Da Ceilândia para o mundo;. E eu sempre retruco: ;Do mundo para Ceilândia;".