Jornal Correio Braziliense

Cidades

Família se despede de mulher assassinada pelo cunhado ao defender irmã

O velório será às 9h, na Capela 1, e o sepultamento está marcado para as 11h30


Vítima de feminicídio no fim de semana, Eliane Maria Sousa de Lima, 49 anos, será enterrada hoje, no Cemitério do Gama. Ela morreu no domingo de Páscoa, após levar uma facada no tórax desferida pelo cunhado, o açougueiro Josué Pereira da Silva Filho, 47. Ele ameaçava a mulher, Paula Otacilio de Lima, 43, durante uma briga entre os dois. Eliane ficou entre o casal para defender a irmã, mas foi atacada e morreu na hora. O velório será às 9h, na Capela 1, e o sepultamento está marcado para as 11h30. Desde o início do ano, pelo menos oito mulheres foram assassinadas no DF. A Secretaria de Segurança Pública ainda não fechou os dados de violência do mês.

Agentes da 20; Delegacia de Polícia (Gama) prenderam Josué em flagrante. Ele precisou ser hospitalizado depois de vizinhos o agredirem no momento em que tentava fugir. O acusado recebeu alta e foi encaminhado à carceragem da Polícia Civil. Durante a audiência de custódia, o juiz converteu a prisão em preventiva, sem prazo para ser encerrada, e concedeu medidas protetivas para as vítimas envolvidas. No caso, parentes da vítima. A faca usada no crime será periciada, e os investigadores trabalham com a hipótese de feminicídio. Se condenado, o agressor pode pegar de 12 a 30 anos de prisão.


Gritos

A confusão que resultou na morte de Eliane começou por volta das 23h40, no apartamento onde Josué e Paula moram, na Quadra 11 do Setor Leste do Gama. Discussões entre o casal eram comuns e, quando bebia, o acusado, geralmente, ficava agressivo e pegava facas que tinha em casa. Havia duas ocorrências registradas contra Josué por violação à Lei Maria da Penha ; uma de 2014 e outra de 2018. Ele respondia em liberdade pelos dois casos.

Ao perceber que o companheiro estava alterado, Paula guardou as facas do apartamento. Mesmo assim, Josué encontrou uma e começou a gritar com a mulher. Uma menina de 12 anos e um garoto de 17, ambos filhos da vítima, estavam em casa no momento da briga. Assustada com os gritos do padrasto, a mais nova foi à casa de Eliane para pedir ajuda. O imóvel fica perto do prédio onde a família mora.

Eliane correu para o apartamento da irmã acompanhada do marido, Giovani de Lima, que levava no colo o neto do casal, um bebê de 1 ano. Os dois aguardaram embaixo do prédio. No apartamento da irmã, Eliane encontrou Paula e Josué discutindo. A filha dela, Victória Sousa, 21, chegava da Esplanada dos Ministérios na hora da confusão e, ao ouvir os gritos, subiu para o apartamento da tia. Ela ficou entre Josué e a mãe no momento em que ele desferiu um golpe. A facada a atingiu na mão e acertou o lado esquerdo do tórax de Eliane.


Caseira

Parentes e vizinhos destacaram que Eliane era amigável e que não tinha problemas com ninguém. Considerada caseira, ela gostava de se sentar na calçada e conversar com os amigos. ;Era uma pessoa gente boa, maravilhosa. Dava-se bem com todos aqui. Quando soubemos da morte dela, foi um baque para nós, uma tristeza enorme. Quando isso se passa, a gente fica surpreso, porque nunca esperamos que aconteça com alguém próximo. Nunca imaginei que ele (Josué) pudesse fazer um negócio desses;, disse o vigilante Benedito Moura, 46, vizinho de Eliane.

Desde que nasceu, ela morava no mesmo local: uma casa de sete cômodos, na Quadra 11 do Setor Leste do Gama. A vítima dividia o imóvel com a filha, Victória; o neto; o pai, de 78 anos; a mãe, de 75; e um sobrinho de 17, filho de Paula. O marido, Giovani, não morava com eles. Os dois estavam casados havia mais de 20 anos.

Eliane era a mais velha de seis filhos. Ana Lúcia Otacilio, 46, conta que a irmã era ;uma boa pessoa;. ;Ela nunca deu trabalho para ninguém. Todo mundo gostava dela. Foi uma surpresa para todos. Agora, a nossa outra irmã (Paula) se culpa pelo ocorrido e por não ter se separado do marido;, desabafou a monitora escolar.

Onde e como buscar ajuda


; Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) ; A unidade especializada funciona 24h e fica na Asa Sul. Telefones: 3207-6172 e 3207-6195. Além dela, todas as delegacias circunscricionais contam com seções de atendimento à mulher.

; Disque 100 ; Com funcionamento 24h, incluindo sábados, domingos e feriados, o serviço recebe ligações de qualquer tipo de telefone. A central, considerada um ;pronto-socorro; para atendimento de situações que acabaram de ocorrer ou que ainda estão em curso, recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos humanos de todo o país.

; Ligue 180 ; O serviço recebe denúncias de violência e reclamações da rede de atendimento à mulher e oferece orientações sobre os direitos delas e a legislação vigente. A central funciona 24h, inclusive fins de semana e feriados.

; Centros Especializados de Atendimento à Mulher (Ceams) ; Atendimento multidisciplinar nas áreas psicossocial e jurídica à mulher vítima de violência. Há unidades na estação de metrô da 102 Sul; nas Entrequadras 1 e 2 do Jardim Roriz, em Planaltina; no Conjunto F da QNM 2, em Ceilândia Norte; e na 601 Norte, na Casa da Mulher Brasileira. O atendimento é gratuito e ocorre das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira.

; Casa Abrigo ; Criado para a proteção de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar que correm risco de morte, o local recebe pessoas encaminhadas pela Deam. A casa preserva a integridade física e psicológica de mulheres e dos dependentes delas (meninas de todas as idades e meninos de até 12 anos) e tem endereço sigiloso.

; Prevenção Orientada à Violência Doméstica (Provid) ; A Polícia Militar oferece policiamento especializado para atendimento de mulheres vítimas de violência. Assim, os policiais realizam visitas periódicas às famílias em que foram constatados casos de violência doméstica. O programa atende pelo telefone 3190-5291.