Pedro Canguçu*
postado em 19/04/2019 07:00
Um dia antes de Brasília completar 59 anos, um livro sobre um dos cartões-postais da cidade será lançado para o público infantil. Resultado de uma pesquisa de conclusão do curso de pedagogia da Universidade de Brasília (UnB), a obra O menino que descobriu o Lago Paranoá (Editora Marruá) retrata, em suas 24 páginas ilustradas, a história do lago artificial, com a sua beleza e as consequências da poluição das águas.
De autoria dos professores Regina Célia Melo, 62 anos, e Antônio Fávero, 69, a obra conta a história do menino Renato, que nasceu em Minas Gerais, mora em Brasília e se aventura no Lago Paranoá durante um passeio de barco com o pai. ;Renato recebe a notícia de que o primo vem passar as férias em Brasília e pede para conhecer o Lago Paranoá. Antes da chegada dele, Renato passeia com o pai no local. Durante o percurso, o menino mergulha na imaginação e se aventura na imensidão das águas do grande lago artificial, conhece a história e os detalhes submersos, ao lado da amiga Tilapita, a tilápia do Congo;, resume Regina.
Aprovado e patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o livro foi planejado antes da crise hídrica que o Distrito Federal enfrentou, em 2017 e 2018. O objetivo, segundo Fávero, é retratar a história do Lago Paranoá usando a imaginação das crianças para tratar de um assunto importante. ;Queremos abordar de uma forma que possamos cruzar a realidade com o imaginário infantil;, comentou.
Na história, Renato e Tilapita abordam diversas situações recorrentes no lago, tanto no aspecto positivo, como no negativo. ;A retirada de água para o uso particular, a poluição, o lixo, assim como mergulhadores, banhistas e outros frequentadores do lugar, são tratados na obra;, comenta Regina. Além de aprofundar na imaginação do Renato, os leitores terão a oportunidade de visualizar a trajetória que o rapaz faz com Tilapita, a partir de um encarte com um mapa.
O trabalho de arte foi desenvolvido pela ilustradora Rachel Dumont, 62, que teve a inspiração a partir da magia do texto. ;Estou sempre em contato com o Paranoá, porque moro no fim da Asa Norte, entre o lago e o parque Olhos D;Água. Além da beleza peculiar desse ambiente, o texto proposto pelos autores também me afeta profundamente, pois trata-se de uma narrativa mágica, o que favorece a imaginação criadora;, destaca a artista.
Para a elaboração das imagens, houve um ;excelente nível de sincronia criativa; entre a ilustradora e os autores. ;Em diálogo permanente, discutimos sobre técnicas, estilos, formas, expressões etc. Foi uma comunhão de ideias;, acrescenta Rachel. Para ela, a produção lúdica e prazerosa pode envolver melhor o público infantil. ;Nesse processo, procurei expressar um dos aspectos mais simbólicos do texto, como a consciência que o personagem Renato encontra ao deslocar a sua visão do cotidiano máquina (carro, barco) para o mergulho nas águas. Ou seja, a liberdade imaginadora desvenda a realidade para transformá-la. Eu me diverti muito experimentando texturas, cores, observando detalhes da fauna e da flora;.
Paixão por Brasília
Regina afirma que a obra é um ;presente para Brasília;. ;Na história, o barco aventureiro sai do clube Cota Mil, mesmo lugar do lançamento do livro, que apoiou para o lançamento;, observa a autora. Apaixonada pela cidade, a história é uma forma de fazer integração de conhecimento, segundo a professora e escritora. ;Fica uma leitura muito prazerosa e interessante, e é uma forma de aproximar a criança ao contexto da cidade.;
Para Fávero, o livro é uma forma de desenvolver a cidadania e dar um outro olhar para as crianças sobre a história do Lago Paranoá. ;Isso é um presente para as crianças. Quando o assunto é o aniversário de Brasília, a maior parte das atividades são voltadas para os adultos;, frisa o autor.
O trabalho tem como um dos pontos centrais discorrer a importância do incentivo à leitura no ambiente escolar e como os livros podem colaborar para uma transversalização da educação. ;O livro vai dar pistas para o professor abordar a questão de Brasília e a história do lago de forma lúdica, prazerosa e interessante e mergulhar ainda mais na história para fazer da literatura infantil uma integração com o conhecimento;, finaliza Regina.
No evento de lançamento do livro, haverá oficina de origami, carro de pipoca, contação de história e atividades extras para as crianças.
Lançamento do livro O menino que descobriu o Lago Paranoá
(Editora Marruá, 24 páginas)
O exemplar livro será vendido a R$ 20
Amanhã, a partir das 16h,
Clube Cota Mil
Entrada franca
; Para saber mais
Uma ideia do século 19
A concepção do Lago Paranoá remonta ao fim do século 19. Em relatório de 1896, o paisagista do Império Luís Glaziou anotou que, na localidade entre os chapadões Gama e Paranoá, existia um vale ;em parte sujeita a ser coberta pelas águas da estação chuvosa; outrora era um lago devido à junção de diferentes cursos de água formando o rio Paranoá;. Por isso, para ele, era ;fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte [;] forçosamente a água tornará ao seu lugar primitivo e formará um lago navegável em todos os sentidos;.
Em 1948, a Comissão de Estudos para a localização da Nova Capital do Brasil, presidida pelo general Poli Coelho, referendou os estudos da Comissão Cruls, segundo o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. A ideia foi retomada na construção de Brasília. Várias dificuldades atrasaram seguidas vezes a obra, que acabou sendo efetivada no início dos anos 1960. Segundo o instituto, ;durante oito meses, as águas avançavam mansas, lentamente, por sobre as terras secas e coloridas do cerrado. Terras inundadas;.
Durante a construção de Brasília, o presidente Juscelino Kubitschek teve de enfrentar não apenas problemas com as empresas responsáveis pela obra do lago e seguidos adiamentos do prazo de entrega, mas também a crença de críticos que afirmaram que, por ter um terreno poroso, o lago nunca encheria. Diante da concretização da ;moldura líquida da cidade; que ajudou a erguer, como ele chamou, o presidente declarou: ;Encheu, viu?;. Parte dessa história foi contada pelo próprio Juscelino no livro Por Que Construí Brasília?