Na manhã desta sexta-feira (5/4), o fotojornalista fez os últimos registros do mundo, apenas com os olhos, que se fecharam definitivamente. Aos 96 anos, ele morreu na casa de repouso para idosos Espaço Sênior, onde viveu os últimos anos. Até a ultima atualização desta matéria, não havia informações sobre o velório.
De Salvador para o mundo
Entre outros destaques do fotojornalista está a última imagem pública de Tancredo Neves vivo, tirada no Hospital de Base do DF, em março de 1985, onde o ainda não empossado Presidente da República aparece ao lado da equipe médica. Pelos trabalhos, ficou conhecido como o "Fotógrafo dos Presidentes", sendo dele, inclusive, a credencial de número 001 do Palácio do Planalto.
A carreira, no entanto, não se restringiu a esse universo. Cobriu a Guerra do Vietnã, a Revolução Cubana e acompanhou a queda do ex-presidente argentino Juan Domingo Perón. Só de Copas do Mundo, participou de sete, e registrou 16 concursos de Miss Universo. É, como dizem os colegas (e aprendizes de profissão), uma lenda da fotografia.
Talento precoce
Gervásio ainda era menino quando foi contratado pelo primeiro jornal por onde passou. Aos 12 anos, estreou como fotógrafo-assistente para o Estado da Bahia. Não demorou muito para que o talento, que vinha desenvolvendo desde os 9 anos, fosse percebido pelo dono do periódico e de todo o grupo Diários Associados, Assis Chateaubriand. Pela revista Manchete, Gervásio começou a ser reconhecido no meio, fotografando toda a construção de Brasília.
Pelas mãos do repórter fotográfico passaram das máquinas mecânicas e negativos aos equipamentos digitais. No mesmo compasso, acompanhou as inovações tecnológicas e não fez delas uma barreira para exercer a profissão. Mesmo com a fama, constumava negá-la, assim como fez em uma entrevista que concedeu ao repórter do Correio Renato Alves, em 2015. "Todos a quem fotografei eram mais importantes do que eu. Nunca fui famoso, nunca fui rico e nunca fotografei por dinheiro. Quem faz isso não é um bom fotógrafo. No jornalismo, só ganhei bons amigos", afirmou, na ocasião.
Uma das últimas aparições públicas de Gervásio foi em janeiro, quando compareceu à inauguração de uma exposição fotográfica que retratou a trajetória profissional dele. "O grande legado deste brilhante profissional permanecerá vivo. Ele é dono do acervo mais rico da história do país e, por isso, é uma figura que o Brasil não pode esquecer", disse Ivaldo Cavalcante, responsável por organizar a exposição, realizada na Galeria Olho de Águia, em Taguatinga Norte.
No espaço da galeria, uma biblioteca já levava o nome de Gervásio Baptista desde 2012, quando foi inaugurada. Ivaldo quer, agora, criar uma fundação com o nome ícone do fotojornalismo brasileiro. "Há um acervo riquíssimo que precisa ser recuperado, já que faz parte da história, é um direito patrimonial. Temos grandes fotógrafos em Brasília e acredito que, reunindo os colegas, consigamos concretizar a ideia com a ajuda do governo", espera.
Em nota, o MDB lamentou a morte do fotojornalista. "O Brasil perde o ;fotógrafo dos presidentes;. Ele retratou clássicos retratos dos presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e a última foto de Tancredo Neves no hospital. Ele foi também o fotógrafo oficial de José Sarney. Um dos maiores fotógrafos do país se despede hoje. Deixando em nossas memórias as melhores fotos do jornalismo."