Jornal Correio Braziliense

Cidades

GDF promete conectar a capital disponibilizando tecnologias para população

Especialistas avaliam que é possível, mas ainda há muito a avançar para o Distrito Federal se tornar referência nesse modelo

Imagine morar em uma cidade em que a tecnologia é usada em quase tudo com o objetivo de melhorar a vida do cidadão e trazer sustentabilidade. Câmeras de segurança, informações em tempo real sobre ônibus e serviços de saúde, aplicativos para resolver diversas situações e conexão gratuita em todos os locais. As cidades inteligentes são, cada vez mais, temas de estudo e vistas por estudiosos como possibilidade para tornar a vida urbana melhor. Projetos desse tipo estão na mira do Governo do Distrito Federal, mas Brasília, observam especialistas, precisa de muitos avanços para se consolidar, na prática, como tal.


Gilvan Máximo, secretário de Ciência e Tecnologia, afirma que é prioridade da pasta tornar a capital uma referência para o Brasil e para a América Latina nesse quesito. Ele destaca investimentos em sistemas de wi-fi, câmeras de segurança e ferramentas para melhoria da saúde e do transporte público. “É nosso objetivo colocar isso em prática nestes quatro anos. Trabalhamos dia e noite em cima disso”, afirma.

Especialistas ouvidos pelo Correio, no entanto, não veem como tão rápida e fácil, na prática, a transição da capital para uma cidade inteligente. “Discute-se muito a questão conceitual sem uma aplicação direta nas cidades, porque envolve toda uma questão de gestão. Em Brasília, não estamos tão próximos de uma concretização, mas existe uma possibilidade de conseguirmos, a médio prazo, ter algumas iniciativas”, explica o professor Edilson de Souza Bias, do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB).

Presidente da rede de educação e pesquisa GigaCandanga, que promoveu, na semana passada, um seminário para discutir cidades inteligentes na UnB, o professor Leonardo Lazarte destaca que Brasília tem muitas questões em aberto. O fato de ser planejada, que, à primeira vista, pode parecer um facilitador, não a coloca em vantagem, segundo o especialista. “Há milhares de invasões e problemas, falta urbanismo, o planejamento foi só em um pequeno pedaço. Lamentavelmente, estamos na mesma situação de qualquer outra cidade”, pondera. “É importante destacar que cidades inteligentes são aquelas que, por meio da tecnologia, oferecem serviços públicos de qualidade para o cidadão.”

Para ambos os especialistas, é fundamental que os avanços tecnológicos acompanhem as mudanças culturais na gestão pública e na própria população. “Não basta ter a tecnologia. Hoje, nós conhecemos o potencial do que se pode utilizar, mas ainda esbarramos nos problemas de gestão”, analisa Edilson. Ele destaca, porém, que as sinalizações do GDF são um ponto positivo e indicam o início de um caminho.


Questões humanas

A implantação do wi-fi social será o primeiro passo, diz o secretário de Ciência e Tecnologia. Segundo ele, até junho, haverá rede gratuita e de qualidade em diversos pontos da capital. Para isso, o GDF recorre a parcerias com a iniciativa privada. “A ideia, em todo esse projeto, é não gastar dinheiro público. É efetivar o trabalho com essas empresas e fiscalizá-lo para exigir qualidade”, adianta Gilvan Máximo. Nesse caso, as empresas poderão, por exemplo, exibir publicidade para os usuários, como contrapartida.

A segunda etapa é a instalação de um sistema compartilhado, com wi-fi e câmeras de segurança, nos postes de luz. A tecnologia, segundo o chefe da pasta, será capaz de identificar automaticamente situações e identidades. “Esse sistema, que virá por PPP, poderá ser usado para diversos setores. A cidade inteligente é uma série de pontos que serão implementados ao longo do mandato”, destaca.

Atualmente, o DF conta com 470 câmeras de segurança em funcionamento. Elas são usadas para monitorar, sobretudo, áreas em que há maior incidência de crimes. As imagens são analisadas pelo Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob), que, de lá, as encaminha para órgãos responsáveis por ações relacionadas aos problemas identificados.

Para o professor Leonardo Lazarte, ao se pensar em cidade inteligente, não se pode deixar de lado questões humanas, como a relação entre a tecnologia e os direitos da população. “É preciso sempre discutir, por exemplo, a privacidade. Quando você tem câmeras monitorando, pode haver melhoria na segurança, mas há também milhares de pessoas sendo registradas ali. É preciso pensar nisso”, alerta.


Soluções


Confira algumas medidas tecnológicas que serão aplicadas em Brasília, segundo a Secretaria de Ciência e Tecnologia:

» Wi-Fi Social, com acesso gratuito em diversos pontos da cidade
» Acompanhamento em tempo real de horários e trajetos de ônibus
» Serviços de saúde, como marcação de consultas e exames on-line
» Terminais de autoatendimento do Na Hora em estabelecimentos comerciais
» Matrículas e acesso a boletim escolar por meio de aplicativo
» Carros elétricos compartilhados
» Chips de monitoramento em veículos da frota do DF
» Sistema de iluminação com wi-fi e câmeras capazes de identificar situações de risco e identidades automaticamente


Conceito longe da realidade


Se, em algumas áreas, o DF tem estrutura básica para oferecer serviços tecnológicos, em outras, a situação é complicada. Um dos setores mais deficitários em termos de atendimento e qualidade, a Saúde tem dificuldade na informatização. Segundo a pasta, a “nova gestão recebeu a infraestrutura de informática e sistemas com grande precariedade. Diante disso, foi necessário realizar um planejamento de ações visando modernizar e informatizar os serviços de saúde que ficam à disposição da população”.

Em 2019, a intenção é começar a disponibilizar uma série de serviços on-line. Por meio deles, seria possível agendar consultas, exames e procedimentos, conferir disponibilidade de medicamentos e resultados de testes, além de horários. Atualmente, a pasta faz estudos para viabilizar o início da implementação e está em processo de renovação do parque de computadores.



O DF também tem pontos deficitários na mobilidade urbana. Os 99 semáforos da capital gerenciados pelo Departamento de Estradas de Rodagens (DER) estão defasados. Com melhorias na estrutura, seria possível ter equipamentos inteligentes capazes de alterações automáticas a partir de informações sobre tráfego e cruzamentos. “O DER identificou essa limitação e está se empenhando na elaboração de Termo de Referência que contemple os avanços tecnológicos”, diz a assessoria de imprensa do órgão.

No transporte público, não há um aplicativo que permita ao usuário acompanhar trajetos e horários em tempo real. Segundo a Secretaria de Mobilidade, há um processo em andamento para a escolha de empresas que disponibilizem a ferramenta em tempo real. Duas companhias se candidataram e estão sendo avaliadas. Por enquanto, o usuário pode ver horários previstos e linhas no site do DFTrans.


Conexão


A implantação de sistema que mostre o trajeto de ônibus em tempo real é uma das ações que contam com boa aceitação. “A gente perde muito tempo esperando, sem saber a que momento eles vão chegar. Com um sistema como esse, seria possível se programar e otimizar o tempo”, avalia o desenvolvedor web Emanuel Lima, 21. A estudante Joyce Marques, 21, empolga-se com a possibilidade de wi-fi gratuito. “Ajudaria muito a você estar conectado se fosse necessário e não tivesse rede própria disponível”, ressalta.

Sistema de gerenciamento


O Departamento de Trânsito (Detran) é responsável pela gestão dos outros 3.160 semáforos do DF. De acordo com o órgão, há, em alguns pontos, controle feito por um sistema de gerenciamento a partir de velocidade e programação estipulada. Não há, porém, previsão de um projeto de modernização.